Uma sobrinha minha, a J.M., postou um depoimento em sua página do Facebook que mostra o drama vivido por quem foi assaltado e transmite também um educativo conselho a todos nós
Abaixo, a reprodução do texto publicado no Facebook pela minha sobrinha. Ele serve para nos lembrar que vivemos ainda em um país incivilizado e que estamos, todos nós, sem exceção, sujeitos a vivenciar situação semelhante. Serve também para alertar os que acham que “isso só acontece com os outros”. E que o problema vivido ‘pelo outro’ tem tudo a ver com a gente. Que nos sirva de lição e de preocupação e nos leve a sair do comodismo estúpido do isolacionismo e nos leve a participar mais dos problemas sociais, até encontrar solução para eles!
Helio Rubens
“Passamos a vida toda achando que somos indestrutíveis, que essas historias de horror que escutamos de amigos e nas noticias não aconteceram com a gente. Até que acontecem e de repente, a vida não parece tão indestrutível assim, a vida se torna a coisa mais frágil que existe. Não é até você estar parado no farol da rua da sua casa, voltando de um jantar de família, feliz, que você percebe o quão frágil a vida realmente é. Não é até um menino, que não pode ser muito mais velho que você, abordar seu carro, apontar uma pistola para a sua família ordenando que abaixem os vidros e passem os celulares, que você percebe o quão materialista o mundo é, que você percebe que existem pessoas dispostas a matar por um aparelho eletrônico, que isso não acontece só em televisão.
Não é até você entrar em pânico, porque tem alguém apontando uma arma pra você e ameaçando atirar, que você percebe o quão egoísta realmente somos. Nosso primeiro instinto é salvar o que é nosso: nossos filhos, nosso dinheiro, nosso carro e nossos celulares, sem pensarmos nas consequências.
São esses segundos que nos fazem perceber tanta coisa, mas ao mesmo tempo nada.
Nesses segundos de pânico, todos os piores cenários acabam por passar na sua cabeça e quando tudo passa e você percebe que, felizmente, estão todos bem, o mundo parece desmoronar um pouco. De repente, tudo está bem novamente, mas ao mesmo tempo não está, porque sua cabeça não consegue parar de recriar o ocorrido e sua imaginação já foi longe o suficiente para cobrir todas as possibilidades do que poderia ter acontecido.
Acontece que, a pior parte disso tudo não foi o durante, quando tudo que eu conseguia ver era a arma na janela, quando minha mãe abriu mão dos seus bens materiais pela minha segurança e até mesmo pelos meus bens, quando meu pai calmamente tentou resolver a situação, quando o menino tremia de nervoso e continuava a fazer ameaças.
Não, isso não foi a pior parte.
A pior parte disso tudo é o depois, é quando você dá graças a Deus por todo mundo ter saído ileso, quando a intensidade do que aconteceu finalmente te atinge, quando os piores pensamentos te perseguem, porque toda vez que você fecha o olho a imagem do menino assustado segurando uma pistola na janela do seu carro te assombra.
E é a pior parte que nos faz ver que a vida é mais frágil que vidro, que é menos valiosa que um celular, que depende de palavras para continuar a ser uma vida. É depois de tudo isso que percebemos que uma palavra errada, uma escolha errada, até mesmo uma mudança no caminho pode ser a causa de um fim inesperado de algo tão valioso.
Isto é um desabafo, uma reflexão própria após um momento horrível que passei. Isto é um desabafo que trás consigo uma moral:
Para morrer basta estar vivo, então viva cada momento ao máximo, aproveite cada oportunidade, diga eu te amo a todos que lhe importam, antes que um rapaz apareça na janela do seu carro e você não de tanta sorte assim. E se algo assim acontecer com você, não deixe de viver, não deixe o medo do que pode acontecer te impedir de sair a noite ou buscar novas oportunidades.
Momentos assim são horríveis e eu nunca poderia descrever o que eu senti, mas eles servem como uma lição: A vida é muito curta e ela pode acabar muito inesperadamente para passarmos o resto dela esperando algo cair do céu, por medo de nos arriscarmos e por medo de encontramos situações semelhantes a essas, porque infelizmente vamos.
Agradeça todo dia por tudo o que você tem, porque se essa experiência me ensinou algo é que eu poderia ter perdido o meu mundo em alguns segundos por motivos babacas, mas felizmente nada aconteceu com nenhum de nós e agora eu posso apreciar cada um deles mais do que nunca.
Viva o hoje do melhor jeito que você puder e viva o amanhã de um jeito melhor ainda, pois você nunca sabe quando o amanhã não vai mais chegar.“
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.