Celio Pezza – Crônica # 346 – Carnaval
Acabou o Carnaval, a hora de sambar e esquecer os problemas do dia a dia, porém quantos sabem de sua origem?
Alguns historiadores contam que dez mil anos antes de Cristo, homens e mulheres se reuniam uma vez ao ano com os rostos pintados e dançavam por vários dias para espantar os demônios da má colheita.
A seis mil anos atrás, ele aparece no Egito, como um culto a deusa Ísis e no século VII A.C. na Grécia, como uma celebração a Dionísio, deus grego das festividades. Este mesmo deus é chamado de Baco em Roma, onde aparecem os bacanais, sempre celebrados com bebidas e sexo.
Alguns historiadores dizem que a palavra carnaval vem desta época, devido ao “carrum navalis” que eram carros com motivos navais que faziam a abertura destas festas. Talvez os primeiros carros alegóricos da História. Nestas festas as pessoas representavam papéis e ridicularizavam a nobreza dominante sem o risco de perder suas cabeças. Na mitologia, Momo era o deus da zombaria e tinha sido expulso do Olimpo porque ridicularizava os demais deuses e nestas festas era escolhido um escravo para simbolizar Momo. Ele era o rei do deboche e tinha todo o poder durante as festividades, só que no final da festa ele era morto e sacrificado ao rei Saturno.
Com o início da Era Cristã, começaram a surgir os primeiros sinais de censura a estas festividades, que passaram a ser vistas como demoníacas. A Igreja tentou acabar com as festas, mas a reação popular foi tamanha que ela sentiu que poderia perder seus fiéis para os antigos deuses. Em vista disto, no ano de 590, o papa Gregório I regulamenta a festa, que é associada ao início da quaresma, que antecede a Páscoa.
Esta data passa a ser conhecida como “carne levandas”, expressão que seria transformada em “carne levales” e finalmente “carnaval”.
Alguns traduzem esta expressão como “abuso da carne” e teria um sentido de orgia.
A Igreja passou a aceitar este curto período de festas e orgias como uma “despedida dos prazeres”, pois assim podia cobrar um maior rigor religioso durante o resto do ano.
Nos séculos XVII e XVIII vieram muitos portugueses para o Brasil e trouxeram as brincadeiras do “Entrudo” para o Brasil. A brincadeira era andar pelas ruas e jogar água, bolinhas de cera cheias de perfume, farinha, barro, lixo e urina nas pessoas.
Em 1899 a pianista Chiquinha Gonzaga inaugurou a prática de composições feitas especialmente para o carnaval com a marchinha “Ô abre alas”. Mais tarde o próprio presidente Getúlio Vargas, preocupado em demonstrar interesse pelos pobres, deu início a uma estruturação do carnaval de rua que hoje é considerado a maior festa popular do Brasil.
Uma das curiosidades é que durante a morte do barão do Rio Branco no carnaval de 1912, o Governo quis cancelar as festas e adiá-la por dois meses em sinal de luto. O resultado é que neste ano tivemos dois carnavais: um em fevereiro e outro em abril. Este mesmo barão disse certa vez: “Existem no Brasil, apenas duas coisas realmente organizadas: a desordem e o carnaval”.
Talvez ele tivesse razão, pois quem assiste hoje a um desfile de carnaval no Sambódromo do Rio de Janeiro ou qualquer outra grande cidade brasileira, não consegue imaginar como é possível tamanha organização e trabalho bem feito, coisas tão raras em outras áreas do nosso país.
Célio Pezza
Fevereiro, 2017
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.