dezembro 03, 2024
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Celso Lungaretti: 'A desinformação de Temer e a má formação das feministas'

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A EMANCIPAÇÃO DA MULHER EM QUESTÃO


TEMER E O FEMINISMO

 HÉLIO SCHWARTSMAN

O pior é que o presidente Michel Temer queria elogiar o sexo oposto ao dizer as impropriedades que disse quando fez seu discurso em homenagem às mulheres na 4ª feira (8).

Não chega, porém, a ser uma surpresa constatar que ainda há pessoas que pensam dessa forma. Se não houvesse, o machismo não existiria, e as feministas já não teriam muito a dizer.

O que me incomoda no discurso de algumas alas do movimento feminista não é a constatação de que ainda não atingimos a igualdade de gênero, mas as soluções propostas para tentar resolver o problema.

Não consigo ver muita lógica na ideia de que mulheres, porque representam 50% da população, devem necessariamente ocupar 50% dos cargos de chefia nas empresas ou a metade das vagas no Parlamento, p. ex.

Defender esse tipo de meta ou mesmo cota, como fazem as mais radicais, aliás, me parece uma atitude profundamente machista, já que tira das mulheres o direito de não querer as mesmas coisas que os homens.

Tomemos o caso das chefias. Uma das explicações para o fato de não haver tantas diretoras quanto diretores é que elas, ao contrário deles, não apostam todas as suas fichas na carreira profissional, dedicando menos horas e menos energias ao trabalho para investir também em outras dimensões da vida.

Se essa é uma decisão razoavelmente livre, não vejo como possa ser criticada. Eu até diria que existe sabedoria aí.

O bom combate ao machismo se faz não com a busca por resultados que nem sequer sabemos se são os desejados, mas com a remoção dos obstáculos que restam à emancipação da mulher, sejam eles jurídicos (que já se foram quase todos), materiais (como a falta de boas creches) ou culturais (processo que já está em curso, mas que é mais demorado).

Seria profundamente lamentável se o preço a pagar pelo triunfo do feminismo for o sacrifício da autonomia individual de cada mulher.


AS FEMINISTAS E O CAPITALISMO

 CELSO LUNGARETTI

Michel Temer não passa de um político profissional de poucas luzes e voos curtos, que tirou a sorte grande ao se tornar vice de uma presidente tão desastrada quanto desastrosa.

Então, decerto desconhece o conceito marxista de falsa consciência. Sucintamente, trata-se da introjeção pelo dominado dos valores da classe dominante, levando-o a agir em sentido contrário aos seus verdadeiros interesses.

Quando ele louvou as virtudes da mulher na administração do lar, mostrou um espantoso alheamento com relação à forma como hoje se veem as mulheres da classe média para cima. E um mundo de críticas despencou sobre sua cabeça.

Temer não merece, claro, ser defendido. Paga o preço de haver dedicado a sua vida inteira à politicalha tacanha e sórdida, daí sua dificuldade em falar sobre a vida fora dos palácios dos podres Poderes.

Mas, sua gafe me dá oportunidade de levantar uma discussão que, esta sim, é importante.

Nos tempos em que os seres humanos estavam submetidos ao tacão da necessidade e a jornada de trabalho dos homens era extenuante ao extremo, cabia às mulheres assegurar que os lares fossem seus castelos, o repouso do guerreiro: um ambiente que lhes trouxesse alívio após o excesso de esforço físico despendido, revigorando-os e tornando-os aptos para, no dia seguinte, continuarem cumprindo sua amarga sina de explorados.

Tiranizados por amos e patrões, eles sentiam-se impotentes para reagir e acabavam descarregando suas frustrações em cima das esposas, salvo nos raros momentos da História em que ousaram confrontar seus opressores.

Ou seja, o tal do machismo nunca se deveu a uma malignidade intrínseca dos homens, sendo, isto sim, a forma como a sociedade de então definia os papéis, para poder arrancar deles até a última gota de suor na faina massacrante.

O processo produtivo evoluiu, veio a automação e, cada vez mais, a jornada de trabalho foi deixando de exigir muita força física. Então, passou a ser conveniente para o capitalismo permitir o ingresso em massa das mulheres na vida profissional, o que inchou o mercado de trabalho, fazendo diminuir a remuneração de ambos os sexos e servindo como dissuasor contra movimentos grevistas (quanto mais aspirantes às suas vagas existem, menos os trabalhadores que estão empregados se dispõem a peitar patrões e chefetes).

Poucos se deram conta de que antes bastava o homem para sustentar sua família e depois passaram a ser ambos trabalhando fora, mas, mesmo assim, continuou sobrando mês no fim dos dois salários. E os filhos, coitados, passaram a conviver muito mais com profissionais contratados(as) das creches e escolinhas do que com os que têm verdadeiro interesse e amor por eles.

Embora o movimento feminista possua ideólogas do porte de Germaine Greer, capazes de distinguir entre a verdadeira liberdade para todos os seres humanos e a mera igualação de homens e mulheres como escravos do capitalismo (além de obnubilados pelo consumismo), exercendo as mesmas funções que visam ao lucro e não à satisfação das necessidades humanas e sofrendo o mesmo estresse de uma vida pessimamente vivida, o que passa por feminismo nos meios de comunicação de massa e nas redes sociais é pura falsa consciência: as mulheres buscando apenas uma inserção mais próspera na sociedade capitalista, que nunca as tornará plenamente felizes e realizadas.

Quando feministas, negros, militantes ecológicos, o pessoal do LGBT, etc., se derem conta de que suas bandeiras específicas são parte de uma luta maior que teremos de travar nas próximas décadas, quando vai se decidir inclusive a sobrevivência ou não da espécie humana, aí sim começaremos a avançar.

Helio Rubens
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