outubro 06, 2024
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Pedro Israel Novaes de Almeida: 'Praças antigas'

Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘PRAÇAS ANTIGAS’

Eram interessantes as pequenas cidades do interior.

Ao centro, uma praça, e nela uma igreja, em terreno doado por algum fazendeiro. Na época, nenhum herdeiro reclamava da doação, prática comum em nossos dias.

Houve um tempo em que as praças eram centros de convivência, ao contrário de hoje, transformadas que foram em simples atalhos. O ambiente da praça sustentava muitas famílias.

Havia o pipoqueiro, o vendedor de quebra-queixo, amendoim e geleia; o sorveteiro, que vendia gelo colorido e o dono do serviço de alto-falante, vendedor de propaganda e recados, além do proprietário da banca da esquina. Um velhinho da prefeitura, portando um pedaço de pau, cuidava da integridade dos canteiros.

Não raro, uma estátua homenageava alguma figura de relevo na cidade, cuja biografia comentada era menos elogiosa que aquela produto de algum parente ou historiador amigo. Figuras ilustres eram referidas como coronéis, embora sequer tivessem frequentado o Tiro de Guerra.

Comércio e bancos instalavam-se nas redondezas da praça, e bastavam uns poucos quarteirões para o cidadão ser considerado como habitante de algum bairro. Adolescentes cultivavam inimizades entre os bairros, criando grupos cujos encontros geraram severa pancadaria.

A praça era o palco preferido para os começos e fins de namoro. Eram comuns, e conhecidíssimas, as meninas, moças e mulheres que permitiam intimidades sem qualquer compromisso ou namoro, verdadeiras voluntárias do sexo. Em desrespeito às aves, eram referidas como galinhas.

Os bêbados da praça eram populares e figuras frequentes, assim como os cachorros de sempre, mansos, amigáveis e não raro famintos. Grupos de pessoas formavam cordões humanos que caminhavam em sentidos opostos, como uma grande vitrine e mostruário.

 

Pontualmente, às 22:00 horas, os alto-falantes eram desligados, e a maioria dos frequentadores tomavam o rumo da casa. No senso popular, nesse horário começava a madrugada.

Famílias circulavam em torno da praça, em veículos, e era possível estacionar sem grandes dificuldades. Eram poucos os veículos, e a maioria das casas sequer tinha garagem.

Os perigos da época eram os bêbados violentos, cachorros bravios ou loucos e a turma do bairro adversário. O chamado marca-passo era mantido à distância, por imprevisível.

Havia convivência humana, e as fofocas eram disseminadas com rapidez. O cinema, sempre perto da praça, incluía um seriado após o filme principal, acompanhado pelo intenso sapatear do público.

As chamadas filas bobas, que congestionavam as bilheterias, sem nenhuma venda, foi a primeira modalidade de manifestação pública, quando de algum acréscimo exagerado no preço do ingresso. Namoros mais desenvoltos eram inibidos pela ação dos famosos “lanterninhas”.

As praças de hoje são inseguras e pouco frequentadas. Uma pena !

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.

Helio Rubens
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