Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘VENENO OU REMÉDIO’
Os agrotóxicos, carinhosamente apelidados de “defensivos”, são frequentadores habituais de manchetes escandalosas, que alarmam e deixam apreensiva a população.
O surgimento de pragas, plantas invasoras e doenças, constituem a inevitável rotina das atividades agrícolas, e causam, não raro, prejuízos, expressivos em grandes cultivos. Em verdade, representam a consequência natural da implantação generalizada de uma mesma espécie vegetal, tornando a paisagem monótona e de pouca diversidade.
Os defensivos agrícolas, a julgar pelos ritos formais de aprovação pelos órgãos competentes, devem ser prescritos por profissional habilitado, e tal prescrição deve envolver o tempo mínimo necessário para que o produto agrícola possa ser consumido, sem riscos à saúde do consumidor. As prescrições envolvem também os cuidados com o meio ambiente e pessoal envolvido na aplicação.
O surgimento de níveis tóxicos, nos alimentos disponíveis ao consumidor, revela erros de prescrição e aplicação, expressamente vetados pelas normas que regem a matéria. Tal ocorrência representa um grave risco à saúde e ao meio ambiente, argumentando, com razão, as mais escandalosas manchetes.
Os defensivos, assim como os remédios humanos, podem curar ou matar, se mal prescritos ou manejados. As ações do Poder Público, na fiscalização e controle dos defensivos, são incipientes, poucas e até irresponsáveis.
É falsa e ideológica a distinção entre a agricultura comercial, agricultura familiar e agricultura orgânica, baseada unicamente na dimensão dos cultivos. A agricultura familiar e orgânica tem por mote a alimentação de pessoas, mas é a agricultura comercial que alimenta o país.
A agricultura orgânica, sabidamente saudável e empregadora, é incapaz de alimentar grandes contingentes humanos, e representa alto nível tecnológico. Segue em franca ascensão, alavancada pelo propalado risco de malversação de defensivos agrícolas.
A agricultura comercial vem tendo sucessivos ganhos de produtividade, dispensando a abertura de novas áreas e desmatamentos. Grandes cultivos necessitam de relatório prévio de impacto ambiental, e aprovação oficial. A pesquisa científica é intensa, mais realizada pela iniciativa privada, em virtude do desprestígio com que os orçamentos públicos contemplam nossos institutos e pesquisadores.
As feiras livres são pouco aproveitadas, como reveladoras de uso inadequado de defensivos e ambiente propício à assistência técnica. O apoio à produção agrícola é ausência constante, nos milhares de municípios onde a maior preocupação diz respeito à conservação de estradas.
Os defensivos agrícolas são inofensivos. Perigosos são os que os aplicam de maneira irresponsável, e criminosos os técnicos que emprestam carimbos para compras e usos proibidos.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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