Jorge Facury:
‘DIÁLOGOS PROFUNDOS’
Fim de tarde, chuva desabando de lavar o mundo e três bêbados conversando animadamente frente ao balcão.
O dono do bar, por falta de coisa melhor acompanha a conversa.
Falam de problemas no trabalho, um reclama dos parentes da mulher, outro emenda que a vizinha bate no marido e coisa e tal.
Do nada, um deles, de orelhas de abano, diz:
– O negócio é o seguinte, as coisa é tudo assim, no pequeno tem profundidade sem fim e no maior também, não tem fim, então, veja bem, não adianta reclamar, a gente não chega nos ponto final nunca.
Um não entende e outro diz que sabe do que o outro tá dizendo. Prorrompe assegurado:
– Sim, tem gente pequena, tampinha assim, ó, e outros grandalhão, mais de metro, mas, os pensamento, sá cumé, é relativo, todos podem pensar profundo ou serem burros, independente de tamanho…
O falante primeiro protesta:
– Nada disso, eu não disse nada disso!
O que não entendeu, tenta arrumar:
– Explique melhor, porque profundidade é coisa assim, como dizer… muita profunda, se você não explicar, fica um assunto assim, sem fundo, entende?
O dono do bar entra na conversa, coçando insistentemente as costas sem alcançar:
– Eu entendi, isso é física quântica, tipo, micro/macro, li isso essa semana mesmo, no jornalzinho gratuito…”
O que achou que tudo era questão de estatura, exclama:
– Ah! Então era isso! Minha filha pratica muito!
O primeiro, com sinal de desaprovação, fala:
– Pratica, é?
– Sim – responde o outro. – Ela vai à academia três vezes por semana, não perde um treino. Ela é atleta desde menina!
– Ah – exclama o outro, desistido de continuar a prosa.
Nisso, uma freada brusca no asfalto molhado termina em três carros amassados na rua e uma senhora assustada cai estourando o guarda-chuva na calçada, bem em frente ao boteco.
Os bêbados saem pra ajudar e envolvem-se na discussão do acidente.
O dono do bar fecha as portas, pois já passava da hora… Vai tempo nisso. Um dos bêbados está tentando explicar a batida pelas leis da física quântica, outro aconselha a mulher a tomar chá de hibisco quando chegar a casa… O dono do bar, cansado do dia, segue por um corredor pro fundo do estabelecimento onde mora.
Ele sim, realmente foi pro fundo…
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola – NALA, e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre vários titulos: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos, Pesquisador em Artes e Literatura; Pela Academia de Letras de São Pedro da Aldeia, o Título Imortal Monumento Cultural e Título Honra Acadêmica, pela categoria Cultura Nacional e Belas Artes; Prêmio Cidadão de Ouro 2024, concedido por Laude Kämpos. Pelo Movimento Cultivista Brasileiro, o Prêmio Incentivador da Arte e da Cultura,

