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Carlos Carvalho Cavalheiro: 'A crise no governo Temer'

Carlos Cavalheiro

Carlos Carvalho Cavalheiro: ‘A crise no governo Temer’

 

O anedotário popular incluiu em seu acervo a frase: “Será difícil para os professores de História explicar o Brasil de hoje para os estudantes do futuro”. A percepção da dificuldade de qualquer análise sobre o quadro político e econômico se respalda no fato de que não há em nossa História qualquer precedente conhecido como comparativo para a situação atual. Em outras palavras, a divulgação do funcionamento de velhos esquemas de corrupção que permeiam as relações entre empresas e os políticos escandaliza de tal forma que há quem sinta saudades do tempo da ignorância, quando não se conheciam os meandros de tais relações. Não é à toa que exista desinformados que clamem pelo retorno da ditadura militar ou algo semelhante.

O último escândalo envolve diretamente o presidente da República, Michel Temer que, de acordo com o que foi amplamente anunciado, recebeu em sua residência a desoras o empresário Joesley Batista, o qual teria gravado uma conversa considerada inadequada e pouco republicana para se tratar com a autoridade máxima do país.

Uma semana depois, questiona-se a integridade da gravação, a qual poderia ter sido adulterada. De acordo com o perito Ricardo Molina, contratado por Michel Temer para analisar o conteúdo da gravação, não há como garantir “a autenticidade” da mesma. Em suma, de acordo com Ricardo Molina, a prova é imprestável. Não afirma categoricamente o perito de que houve edição do conteúdo, mas desqualifica a gravação por conter falhas sistêmicas de gravação o que prejudica a garantia da autenticidade, na opinião de Molina.

Mesmo assim, muita coisa não foi esclarecida nessa história, o que torna a gravação um mero acessório dentro do conjunto probatório.  A começar do fato de o Presidente da República receber um empresário que entra de forma sorrateira, a fim de não ser reconhecido, para uma “audiência” não formalizada. Além disso, o presidente Temer terá que encontrar justificativas melhores para o fato de não tomar providências acerca das declarações do empresário Joesley Batista no tocante ao cometimento de crimes de obstrução da Justiça e corrupção.

Assim como, de outra feita, há muito que ser explicado em relação ao dinheiro recebido pelo deputado Rodrigo Rocha Loures e qual o seu destino final. O que ficou explícito nessa história toda é que a corrupção atingiu a praticamente todos os partidos, sem muita preferência por cores ideológicas (se é que elas existem). Para quem acreditou no falso discurso moralista do senador Aécio Neves, quando candidato à presidência da República e, depois, durante a crise que culminou no impeachment de Dilma Rousseff, resta agora a decepção profunda da ingenuidade perdida.

Por outro lado, assusta a inexplicada ânsia pela divulgação das denúncias e das gravações que desestabilizaram o governo Temer. Da mesma forma como foi precipitada a divulgação do “grampo” telefônico do diálogo entre Dilma e Lula, dessa vez o açodamento na publicidade das denúncias e gravação feitas por Joesley Batista em sua conversa com Michel Temer é algo que chama a atenção. Isso porque tal ocorrido suscitou controvérsias que hoje servem de base para a defesa do presidente. A divulgação das gravações sem uma perícia técnica e oficial, por exemplo, induz a existência de uma pressa tal que gera a desconfiança. Quais os interesses por detrás dessa voracidade na publicização dos fatos? Interesse que abarca os sentimentos republicanos do bem comum? Difícil afirmar.

No entanto, nessa série de acontecimentos mal explicados, ressalta o destino dos donos da JBS. Confessos corruptores, dos que beneficiavam políticos de diversos partidos com o que chamaram de “reserva de boa vontade”, não se consegue entender como é que a sua delação foi mais bem premiada do que de costume. Compare-se, por exemplo, ao empresário Marcelo Odebrecht que está preso desde junho de 2015, condenado em março de 2016 ao cumprimento de pena de 19 anos e 4 meses e ao pagamento de indenização de 8,6 bilhões de reais.

A empresa de Joesley Batista, a JBS S/A, deve R$ 2 bilhões para a Previdência (sim, aquela mesma que precisa sacrificar a aposentadoria dos trabalhadores por um suposto “rombo” de seus cofres), é alvo da Operação Carne Fraca da Polícia Federal, iniciada em 17 de março de 2017, acusada de adulterar carnes estragadas com uso de produtos cancerígenos. Pois esse empresário, por sua delação, recebeu perdão da Justiça, pagou uma multa de R$ 110 milhões e foi morar nos Estados Unidos livremente, sem nem precisar usar tornozeleira eletrônica. Isso sim é difícil de explicar.

 

Carlos Carvalho Cavalheiro – 22.05.2017

Sergio Diniz da Costa
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