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Manoel Peres Sobrinho : 'Fragmentos culturais do universo ficcional do contista João Kruguer'

Manoel Peres Sobrinho : ‘Fragmentos culturais do universo ficcional do contista João Kruguer’

 

     Quando um homem escreve com certa frequência, baseia-se em sua própria experiência. De onde mais retiraria material para a sua obra? – Arthur Miller, teatrólogo norte-americano.

 

Estima-se que João Kruguer tenha escrito mais de 700 trabalhos literários (conforme informação do Jornal Cruzeiro do Sul), mas também sua obra pode ser avaliada em mais de 1000 títulos (Marcelina Maria Assunta Griga, filha do Autor). Os números, quaisquer que forem, nos deixam a nítida impressão de um criador fértil, laborioso e industrioso, se levarmos em conta sua origem e sua carreira escolar.

Autodidata, procurou se municiar de tudo o que podia ajudar na construção de seu ideal literário.

Lendo alguns dos seus trabalhos, somos logo informados de que sua inspiração tinha múltiplas fontes, que procurava dissecar, na tentativa de alcançar êxito em seu objetivo. Daí sua linguagem heterogênea, mesclando o português castiço, da linguagem formal, com o coloquial que usamos na comunicação do dia a dia.      Deixava fluir o pensamento, mais rápido que a mão, sem se importar como poderia ser expressado, desde que a ideia permanecesse fiel e fosse fidedignamente retratada.

Coisa de gênio!

Os temas encontrados em seus trabalhos variam muito. Passando por ‘Velhas Cartas de Amor’ ao trabalho na pedreira. Seu leque de inspirações abre para uma profusão de assuntos, tais como: animais (cabra, cabritos, bodes), fábrica de tecidos, assuntos incidentais, natureza, religiosidade ─ indo do Catolicismo à mistificação da assombração ─, futebol (copa do mundo), e família, que ele prezava muito, entre outros.

Os nomes emprestados para a sua obra são aqueles do comum uso entre interioranos: Liduino, Germano, Raimundo, Paulinho, Chico, Ticão, Delecio, Preto Norato, Renato, Tiburcio, Legário, etc. Também aparece Martinho e Lutero. Talvez por influência dos protestantes da cidade.

Em sua linguagem eclética, usa tanto termos mais requintados, tais como “desvanecido”, “simulacro”, “colóquio”, “imprecar”, “obtempera-lhe”, como outros, nem tanto, mas do uso comum caboclo.

Gostava de construir frases de profundo valor poético, como “inocente sem quantia”, “afundada em cismas”. Daí, ser reconhecido hoje não somente como contista, mas também e, merecidamente, como poeta.

Para dar maior peso ao que escrevia e introduzir melhor o assunto, usava epigraficamente textos, excertos e citações de fontes variadas do seu conhecimento e aquiescência. De Fénelon, citou: “Sem os grãos de areia não haveria montanhas”; de Tristão de Ataíde: “Só o que fazemos por amor fazemos bem”. Máximo Gorki também aparece, ao dizer que “As máquinas tornam a vida mais difícil e produzem muito barulho”. A Mika Waltari, faz pronunciar: “Tudo nesse mundo tem uma explicação natural, e no mais das vezes simples”.

Por ser religioso, não deixava de citar obras de cunho espiritual. Como por exemplo, retirou este pensamento do ‘Livro dos Espíritos’: “Tudo tem a sua razão de ser. Nada acontece sem a permissão de Deus”.

Tinha uma especial predileção pela Bíblia, que frequentemente citava quando cabia no texto que estava produzindo. No seu trabalho ‘O Desconvinhável’, citou São Marcos, capítulo X, versículo 23: “… dificilmente os ricos entrarão no reino de Deus”. Em ‘Alma Gêmea’, cita uma frase do Livro de Jó sem destacar o capítulo nem o versículo: “E sentaram-se com ele por terra durante sete dias e sete noites e nenhum lhe dizia palavra, porque viam que a dor era veemente”. Em um texto seu, com título ‘Reconhecimento’, do livro de Ruth aparece, do capítulo 11 o versículo 3: “Foi Ruth, pois, e apanhava as espigas por detrás dos segadores”.

Os textos de João Kruguer servem a múltiplos propósitos.

Para aqueles que gostam de literatura, podem ali apreciar a arte de bem desenhar as ‘estórias’ com conteúdos, os mais diversos, o que aumenta ainda mais o interesse, pois deixa o leitor sempre com um gosto de quero mais. São muitas as informações técnicas que subjazem à escrita, abrindo um imenso oceano de possibilidades de estudos para quem está atrás de desafios literários e jeitos de escrever.

Ainda mais para quem gosta e quer conhecer a alma e os trejeitos do povo de Votorantim. As formas de compor cada conto faz com que o leitor veja a alma do trabalhador, do operário, da gente simples, das conversas sem muita elaboração, mas de muita desconfiança esperta e sabedoria prática da vida. A maneira como cada um tenta vencer o destino, dando um nó nas certezas e atribuindo ao incômodo futuro, a esperança de ser vitorioso.

Mas, se o leitor só quer diversão, entretenimento e distração, também cabe aí a leitura dos textos de Kruguer. A vida ali aflora em sua máxima força, pois foi um escritor que escreveu com o coração, mais do que com a mente, e o fez para as pessoas que acreditavam que a vida não é um trágico momento de sucessão de dias sem contar, mas uma teia que se tece lenta e vagarosamente com paixão, alegria e muita vontade de amar e viver.

 

(O Autor é Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie).

 

 

 

Sergio Diniz da Costa
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