setembro 19, 2024
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O leitor participa: Renata Rodrigues nos apresenta sua tia Nena em: ‘Dizia minha tia…’ 5

Tia Nena

O leitor participa:

Renata Rodrigues nos apresenta sua tia Nena em: ‘Dizia minha tia…’ 5

 

Dizia minha tia que: “Quando um não quer, dois não brigam”.

Nem sempre o qual não quer é um dos dois, raras vezes pode ser um intruso conciliador.

Comecei a trabalhar muito jovem e, assim,  tive colegas com mais (e muito mais) idade que eu por um bom tempo. Aos olhos dos jovens tudo é simples ou muito simples e eles não entendem os ‘complicômetros’ que os maduros geram para alimentar suas vidas. Um deles é a guerra de egos que os impede de ceder em uma batalha.

Quando era estagiária, trabalhei com dois senhores de muita opinião… e ambas contrárias, um  gaúcho e outro pernambucano.

Um dia, voltando do almoço, encontrei ambos num duelo ferrenho:

─ Jandaia é pássaro! ─ dizia um.

─ Jandaia é fruta! ─ respondia o outro.

─ Pássaro, tenho certeza!

─ Fruta, sem sombra de dúvida!

E cada um de sua mesa repetia convicto, sem ouvir os argumentos do outro. “Pássaro!”. “Fruta!”. E minha paciência foi deslizando ao chão com os argumentos surdos dos dois.

Levantei-me escandalosamente de minha cadeira e me dirigi ao armário, para encontrar a melhor ferramenta de busca de época: o Dicionário Aurélio!

Os gladiadores ficaram em silêncio quando perceberam que a sessão estava aberta e o meu tribunal iria encerrar o caso em breve. Folheei de forma teatral as finas páginas do chamado ‘Pai dos Burros’ e, ao encontrar a página de letras ‘j’ e  ‘a’, comecei a descer meu dedo pelo papel e, chegando à preciosa palavra, me pus a ler, sem som, com os lábios semicerrados para coroar meu momento de poder.

Com a sabedoria que não tinha e nem terei, iniciei a leitura da pauta:

Jandaia: substantivo feminino, ave da família dos psitacídeos (Aratinga solstitialis) que possui três raças distintas, encontradas na Amazônia e em várias regiões do Brasil, com cerca de 31 cm de comprimento, bico negro e plumagem laranja, amarela e verde também conhecida por cacaué, nandaia, nhandaia, queci-queci, quijuba.

Nesse momento, senti a respiração vitoriosa de quem nasceu em solo nordestino e conhecia mais de fauna que o colega dos pampas.

Mas, decidi com o poder que haviam me concedido, que a situação não terminaria assim para o bem de todos que trabalhavam naquela sala.

Então, voltei meus olhos para o livro sagrado e, com o dedo ainda marcando o ponto final, acrescentei uma vírgula imaginária e conclui:

─ Nome popular do fruto da ‘arvoris notaris’, de cor verde acentuado e interior polpudo e ácido, principal alimentação da ave de mesmo nome encontrada no norte do País.”

Seguiu-se um silêncio sepulcral e, ao fechar o livro, dei por encerrada a sessão.

Retornei o avô do Google ao seu lugar de honra entre os demais livros do armário e saí da sala antes que toda minha segurança magistral viesse por terra ao fitar um dos dois mudos à minha frente.

Minutos depois, voltei à arena e encontrei a mais perfeita harmonia no ar, que perdurou até o final do expediente.

Fui para casa com a satisfação de quem cumpre seu dever humanitário, imaginando ser essa a  sensação de quem recebe o Nobel da Paz.

No bolso, levava comigo, por precaução e destacada com todo cuidado,  a página que continha o meu trunfo,  caso o processo fosse reaberto e meu  álibi conferido. Porém, isso não aconteceu, pois as batalhas que vieram tiveram outros alvos, não mais pássaros ou raras frutas…

Sergio Diniz da Costa
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