Gonçalves Viana: ‘IPANEMA’
Ipanema é um bairro do Rio de Janeiro que ficou famoso por sua praia recheada de mulheres lindas com seus sumários biquínis (fio-dental) e também por ter sido o berço daquela música que iria desbancar Aquarela do Brasil de Ary Barroso do primeiro lugar de música brasileira, como a mais ouvida e a mais gravada no exterior: Garota de Ipanema, composta por Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Em nível mundial ela perde apenas para Yesterday, dos Beatles.
Em tupi-guarani, Ipanema significa água ruim, fedorenta, imprestável, ou ruim para a pesca – o que não condizia com a realidade da época em que a canção foi composta. O nome do bairro veio do Barão de Ipanema, considerado o fundador da vila em 1894.
O produtor Abrão Medina pretendia montar uma comédia musical intitulada Blimp, nome do personagem principal: um ET que desembarca no Rio, em pleno carnaval, e se encanta com a carioca Umbiguinho. Medina convidou o Tom para musicá-la. Entretanto, a peça não aconteceu, e algumas das canções compostas em 1961 ficaram aguardando o momento de virem à luz, entre elas, Só Danço Samba, Samba do Avião e Garota de Ipanema que, evidentemente, não tinham esses nomes na época.
Tempos mais tarde, Tom voltou a trabalhar na canção, mas não conseguia encaixar uma letra. Então, pediu socorro ao parceiro Vinicius, cuja primeira versão, inicialmente chamada de Menina Que Passa, não satisfez à dupla:
Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar
Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheio de balanço
Caminho do mar
Vem depressa agora
Que vem vindo
E ela sorrindo
E o mundo está rindo
Por causa do amor
Ah! Por que estou tão sozinho.
Como surgiu a versão definitiva é uma história sobejamente conhecida por todos que gostam da nossa MPB. A dupla estava devidamente instalada a bordo do bar Veloso (hoje, Garota de Ipanema) com seus indefectíveis chopes à mão, quando uma estudante de dezenove anos passa com o uniforme colegial: blusinha branca, gravata azul e saia plissada, também azul. Pouco depois, ela volta já de maiô, para tomar banho de mar. Estava conclusa a canção.
GAROTA DE IPANEMA
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço,
A caminho do mar.
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado
É mais que um poema
É a coisa mais linda
Que eu já vi passar.
Ah! Porque estou tão sozinho
Ah! Porque tudo é tão triste
Ah! A beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha.
Ah! Se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo sorrindo se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor.
(Tom Jobim – Vinicius de Moraes)
Essa música tem muitas histórias circulando ao seu redor, mas eu vou relatar uma, da qual eu me lembro, muito bem, pois eu a assisti na televisão, no momento em que aconteceu:
Na década de 1960, fazia muito sucesso na TV o programa Esta Noite Se Improvisa, no qual o apresentador dizia uma palavra e os competidores (sempre três) deveriam apertar uma campainha e o primeiro que o fizesse, tinha 15 segundos para cantar o trecho de uma canção que contivesse a tal palavra. Os campeões imbatíveis eram Caetano Veloso e Chico Buarque, seguidos de perto por Wilson Simonal. Vinicius, embora um exímio conhecedor de música, não tinha agilidade suficiente para apertar o botão antes dos demais. Em um dos programas o apresentador anunciou a palavra: garota. Os outros titubearam e Vinicius pressionou a campainha em primeiro lugar e lá foi todo fagueiro para o microfone e começou a cantar “Garota de Ipanema”.
A sua alegria durou até perceber que a palavra garota não faz parte da letra, mas só do título. Voltou desconsolado para o seu lugar e nunca mais tentou apertar a tal campainha.
Gonçalves Viana
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024