Sônyah Moreira:
‘A CAMINHO DA FORCA’
Esta belíssima obra de 1951, do artista Rafael Falco (1885 – 1967), está exposta na Câmara dos deputados em Brasília e faz parte do acervo que pertence ao povo.
Ela aparece diariamente nos noticiários, quando os atores do espetáculo circense de nossa capital federal estão deliberando as pautas horrendas, ou livrando seus pares do braço da Justiça, com medidas que mais parecem mágica.
Acredito que ninguém deste picadeiro real olhou atentamente para esta imagem e alguns desses senhores nem sequer conhecem nossa história, pois falta-lhes escolaridade.
Quem sabe um dia possam se aperceber o significado da cena ali retratada, ou o valor inestimável para a história do país. Se esses senhores, ao olhar para a tela, e acometidos de um lampejo de honestidade, se envergonhassem com a falta de caráter e, consequentemente, pedissem renúncia de seus mandatos, abrindo mão das mordomias… Ainda bem que sonhar ou delirar não gera imposto!
O protagonista da histórica cena retratada nesta magnífica obra de arte é Tiradentes ( 1746 – 1792) e ele está diante de seus algozes, antecedendo sua morte na forca.
Ah, se houvesse uma fórmula mágica que pudesse transformar esse quadro em amaldiçoado, assim como o retrato de Dorian Gray, do escritor e dramaturgo Oscar Wilde (1854 – 1900)! Na referida história, tudo de malfeito que Dorian Gray fazia era retratado no seu quadro, refletindo toda a maldade do seu ser.
Imagine se cada deliberação dos nobres senhores deputados, principalmente aquelas que afetam os brasileiros em sua dignidade, sobrevivência e também todos os conchavos arquitetados na calada da noite, se cada uma dessas conjurações demoníacas se materializasse como feridas e podridão no quadro!
A cena seria descrita da seguinte maneira (claro que faltaria espaço na tela para tantos malfeitos desses nossos representantes!): a cada dia a tela amaldiçoada criando vermes, borbulhando o sangue das vidas ceifadas nas portas dos hospitais, vomitando os corpos putrefatos de crianças mortas pela fome, derivada da roubalheira dessa quadrilha.
O quadro amaldiçoado continuaria a retratar a desgraça que assola nosso país, transbordando com as lágrimas de mães e pais, chorando a perda de seus filhos e entes queridos, por falta de verbas para a segurança.
Pura imaginação ou delírio de uma pessoa dentre muitas, indignada com a cara de pau de nossos políticos, que a cada dia nos surpreendem com suas vilanias sem nenhum escrúpulo.
Nosso mártir Tiradentes não merece assistir passivamente ao espetáculo de horrores que esse picadeiro impõe a todos os brasileiros.
Que alguém substitua essa obra, livre nosso herói desse destino cruel, que é muito pior que perder sua vida! Uma sugestão seria uma tela com as faces de cada brasileiro; quem sabe, com isso, esses senhores se lembrariam quem lhes presenteou com esta mamata, e ,talvez, honrassem os votos recebidos.
E a pergunta que não quer calar: até quando seremos obrigados a empregar bandidos? Até quando teremos que suportar o famigerado foro privilegiado?Até quando a Justiça será cega apenas para esses políticos?
Séculos se passaram e os algozes de ontem estão encarnados hoje, e continuam a encaminhar inocentes para forca, criando centenas de mártires, porém, anônimos!
Se fizermos um muro alto, tornar-se-á um presídio, ou até hospício, caso prefiram; coloquem lona, assim caracteriza-se um imenso e amaldiçoado circo chamado Brasília!
Sônyah Moreira – sonyah.moreira@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024