Pedro Israel Novaes de Almeida – ‘FESTA OU GASTANÇA’
Houve um tempo em que a realização de feiras e exposições agropecuárias envolviam, até de maneira irresponsável, prefeituras de todo o Brasil.
Artistas famosos, pagos a peso de ouro, interrompiam os shows, para citarem o nome do prefeito e outras autoridades, em completo e absurdo descumprimento do princípio da impessoalidade. Algumas prefeituras assumiam o risco decorrente de eventual prejuízo de tais shows.
Com o advento da crise, e obrigadas pela pobreza dos cofres públicos, as autoridades iniciaram um processo de distanciamento de tais festas, limitando a participação ao estritamente necessário. Na verdade, os eventos, de há muito, desviaram-se de seus objetivos iniciais.
As festas passaram a buscar a frequência de multidões, sequiosas por parques, shows e rodeios. A parcela efetivamente destinada aos agricultores e pecuaristas foi crescentemente reduzida.
Produtores buscam bons reprodutores, ensinamentos técnicos, oportunidades de negócio, tratores, máquinas e implementos, material genético e, sobretudo, integração e troca de informações, dentre outros benefícios. A eles, pouco importa o artista, o parque e o rodeio.
Comerciantes sempre reclamaram da ressaca pós- feiras, com a inevitável queda das vendas, nas semanas e meses seguintes. As festas, de fato, exportavam economias locais e regionais.
Na busca de multidões, as feiras, muitas, menosprezavam artistas locais, por não figurarem dentre os campeões de popularidade. Saberes rurais, do dia-a-dia dos produtores, também costumam ser menosprezados.
Exposições, feiras e festas, voltadas exclusivamente aos produtores, envolvem poucos recursos, e ainda podem propiciar a integração entre urbanos e rurais. A culinária local pode ser valorizada, e produtos os mais diversos podem ser ofertados.
As prefeituras, em respeito às prioridades ainda insatisfeitas, como conservação de estradas e ruas, saúde, trânsito, segurança e saneamento, dentre outras, devem colaborar no estritamente necessário, sem qualquer gasto, risco ou esforço com rodeios, shows, parques e beberagem.
Sindicatos rurais, associações de produtores, cooperativas e até produtores isolados podem organizar e patrocinar tais festas, sem verter recursos das tetas públicas. Se os envolvidos na atividade não forem capazes de tal iniciativa, é preferível não realizar tais eventos.
Alguns municípios, como Barretos e Ribeirão Preto, fazem das festas fonte de atração turística e financeira, em nada parecendo as muitas festas interior afora, que trocam poucos dias de euforia por meses seguidos de penúria, que atinge pesadamente os moradores locais e suas necessidades.
É hora de rever antigos hábitos, tão perdulários quanto extravagantes, e, agora, também irresponsáveis.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.