“E assim, sentado frente a frente com a vida, para o jogo do embate à minha redenção, estendendo à mesa o tabuleiro da disputa, elejo como meu avatar um ser alado e o arrasto para o meu mundo.”
Olhos fechados para me encontrar.
A exaustão me prostra imóvel e resignado perante os dilemas da existência.
Procuro ouvir meus pensamentos mas eles se calam na brutalidade de sua mudez.
Buscando por respostas a aquietar as minhas indagações e suavizar minhas dores, perambulo por ruas e ruas dos intrincados caminhos cruzados a me confundirem na exploração do território do meu mundo interior.
O destino do inesperado me espreita por trás dos muros.
Deparo-me com passagens trancadas à chave de enigmas, portões cerrados pelo reinado do medo, becos sem saída e portas que convidam ao desfecho súbito da surpresa do bem ou do mal.
Desorientado no percurso e cego pelo manto cabalístico que me cobre, tateio as paredes do labirinto no afã de encontrar a saída, o seu centro, o caminho para o universo do inconsciente, sede de todo o conhecimento para a superação e o desenvolvimento existencial.
Mas as pegajosas teias tecidas pelos teares da vida, das linhas emaranhadas dos muitos e pesados desafios e das amargas decepções, interceptam minha jornada e se aderem indelevelmente em mim, confundindo os meus sentidos e inebriando minhas reações.
A vida nos marca à brasa a alma e assim, consumidos primeiro pela dor e depois tatuados pela cicatriz da ferida a abrigar-se na memória eterna, vamos desapaixonando da viagem.
Então, se faz hora de jogar, jogar com a vida para renascer.
Mas a vida é um oponente poderoso, dominador da fragilidade das emoções humanas e ganhar esse jogo, como mero mortal, nada mais é que uma ilusão.
E assim, sentado frente a frente com a vida, para o jogo do embate à minha redenção, estendendo à mesa o tabuleiro da disputa, elejo como meu avatar um ser alado e o arrasto para o meu mundo.
Nele me invisto.
Ele é forte e poderoso em sua imortalidade e com a imensidão da envergadura de suas asas, sobrevoa ao infinito a cobrir todo o místico labirinto, em uma viagem de descoberta à libertação do confinamento da superação.
Do alto, mapeia os caminhos cruzados, embaraçados entre si por ecos de risos e lágrimas, portões de acolhimento e abismos de abandono, cercas de armaduras de luta e bandeiras de rendição.
Sinaliza o medo como o pior inimigo a enfrentar, fera a alimentar-se do sonho humano para assim roubar-lhe a energia vital da alma e fazer murchar todo o encantamento pela vida.
Armadilhas mortais, assumindo formas de sedução e engodo, estão camufladas pelas frestas a nos surpreender em lábios de espanto.
O avatar desvenda assim o segredo do labirinto à passagem para a redenção.
Cada um dos caminhos representa um ciclo existencial, de morte e renascimento, envolvido em contínuo processo metamórfico.
A salvação nem sempre está em se desviar do caminho incerto ao mesmo tempo temido e desejado, em escolher a estrada menos acidentada, em ser poupado dos percalços esparramados pela jornada.
O mistério do caminho é o estímulo da vida onde moram o sonho e a esperança.
A estrada mais tortuosa, por suas curvas, trará estabilidade para dominar, com o equilíbrio da resiliência, a travessia.
As armadilhas formarão um soldado altamente treinado em toda a sua destreza.
O segredo é não negar o caminho mas trilhar por ele com botas de coragem e pés no chão do aprendizado até o romper das asas para o vôo do crescimento emocional.
Nenhuma rota traçada pelo labirinto é de escape sem antes forçar ao enfrentamento.
E a postura adotada diante dos desafios revelará a sua verdadeira identidade e no jogo o fará vitorioso ou derrotado.
As experiências são nossas fontes de vida e também os cálices de morte pela dor, nos transformando aos ciclos sucessivos e contínuos da própria existência.
Assim, em cada ciclo existencial que se finda outro novo se inicia, mais belo e forte do que o anterior muito embora nem sempre nessa imagem o vejamos.
Como no jogo, temos uma quantidade de vidas dentro de uma única existência que se renovam em cada estágio vencido.
Renascer significa reacender a chama da paixão pela vida, nas suas mais variadas cores e formas.
Incorporado dos superpoderes do meu avatar, uma Fênix, no final de cada ciclo de vida, preparo meu ritual funerário e, devorado pelas próprias chamas, me transformo nas cinzas do meu renascimento na imortalidade.
InspiraçãoPoética, 31 de janeiro de 2018.
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024