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Claudia Carvalho: 'Metamorfose'

“As roupas surradas não mais se ajustam aos contornos da alma nova acordada do transe. Sentimento de inadequação.”

 

Andarilho de pobres vestes corroídas pelo tempo, vagando pelo caminho incerto na busca do sentir perdido.

Fiel à estrada riscada nas renúncias da vida, a visão é cansada pela repetição da já conhecida paisagem.

O peso da bagagem das lembranças e dos esquecimentos lhe atrasa a travessia a passos velhos.

Os remendos da alma agora sócios do seu silêncio.

Os mesmos pés do rastro obliterado pelo vento nas areias do tempo deserto, a marcar o solo do efêmero presente.

Sem dar espaço para a expansão do seu ser ao encontro do infinito, acomodou-se então, quieta, a alma obscura, na estreita vala cavada pelo próprio abandono, perdendo-se da vontade de viver.

Atingido por um raio repentino despertou.

Sugado por um túnel tragou-se para dentro de si mesmo e freado pelo susto, atônito se olhou.

O fogo da vida a romper da faísca, fundindo os estilhaços espalhados nos cantos empoeirados do esquecimento da memória, nas combinações de formas e cores aos olhos do caleidoscópio.

Os espasmos do sentir se convulsionando nas interrogações subjetivas da existência.

As roupas surradas não mais se ajustam aos contornos da alma nova acordada do transe.

Sentimento de inadequação.

As certezas de antes não tem mais lugar agora senão no espaço vazio do cômodo que dorme a zona de conforto.

Vivo apenas para mostrar o seu rosto e sufocar o pulsar de seu coração.

O grito do basta é soberano sub-rogando ao tremor o medo.

Nada é pior do que se pensar engessado pelo discurso das circunstâncias.

Contida, apertada dentro das roupas justas, a alma esperneia rebelde por libertação.

Dadas as mãos de nossas escolhas para as das circunstâncias,  nos deixamos ser conduzidos por seus caminhos.

As escolhas, sendo assim meras sombras projetadas das circunstâncias,  confundem nossos instintos, nos despojando de nossa identidade existencial a frear os nossos passos evolutivos, a nos estacionar apagados na apatia do espírito.

Toda mudança cobra seu preço, são muitos os questionamentos,  e apenas a coragem e a vontade de viver podem pagar.

Perdas e ganhos.

Na verdade, não somos reféns das circunstâncias, mas encarcerados pelas chaves de  nossa própria vontade em resistir à alteração da rota de vida, agarrando-se desesperadamente àquilo que não mais nos identifica.

Resistindo ao novo que nos oferece  o progresso da  alma, por medo de não nos adaptar aos novos ajustes que inevitavelmente serão impostos pela mudança, preferimos nos manter passageiros sem graça, de olhar opaco, perambulando pelo  caminho já dominado, mas que nenhuma beleza mais nos apresenta.

É o envelhecimento da alma a enrugar a juventude.

Somos senhores de nosso destino a dominar, com a força do nosso querer, as artimanhas das circunstâncias, e somente seremos vítimas da derrota se deixarmos apagar em nós a chama da vida.

O desconforto existencial habita na resistência em manter a alma no confinamento da roupa apertada.

Não é dado à borboleta ser sempre lagarta por medo de voar, posto que a natureza impõe a evolução aos seres de inferior complexidade.

Mas a alma humana, de livre arbítrio, opõe resistência à sua metamorfose evolutiva,  emperrando seu avanço.

Não se pode vestir o que não mais tem ajuste à nova etapa existencial, fruto do aprimoramento do espírito.

E a alma assim expandida pela consciência da própria vontade, rompe os trapos velhos que lhe aderem,  desnudando-se para se recompor em nova roupagem.

A renovação das vestes para a vida costuradas na frequência acelerada do coração.

E o andarilho, sentindo-se aquecido pelas labaredas ressuscitadas  do fogo da vida, encontrou no sorriso a renovação da alegria da alma, alisando a ferro as rugas do tempo para se vestir de juventude eterna.

 

Cláudia Carvalho – claudiaccarvalho.oab@gmail.com

01/5/2018

Helio Rubens
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