julho 07, 2024
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Paulo Roberto Costa: 'Duas folhas'

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“Na folha mais jovem crescia, a cada dia, a ânsia por desprender-se do galho e juntas alçarem um longo voo ao sabor das brisas.”

 

Em algum ponto de um ramo da árvore da vida viviam duas folhas. Eram muito próximas, física e, conforme descobriram ao longo da convivência, espiritualmente. Eram parecidas em muitos aspectos; na verdade, na maior parte deles. Entretanto, tinham algumas diferenças. Graças a Deus!

Uma delas cresceu sobre um ninho e lhe servia de sombra contra o sol e as intempéries. Era para ela quase que uma missão. A outra, um pouco mais jovem, tinha nascido com o espírito livre e era presa apenas pelos liames sutis que a comodidade do tempo traz, além, é claro, pelo sentimento que as unia.

Do alto de seus sonhos, as duas folhas contemplavam o mundo e compartilhavam o desejo enorme de, juntas, conhecerem as aventuras que este poderia lhes reservar. Sentiam-se prontas para tudo. Tinham se conhecido no mesmo galho da mesma árvore e, com o tempo, passaram a sentir que já se conheciam de outras árvores, de outras existências.

Os ventos das adversidades e das inconstâncias da vida às vezes as separavam por um breve período; mas logo estavam juntas novamente, buscando avidamente compensarem o tempo perdido em que estiveram distantes.

Na folha mais jovem crescia, a cada dia, a ânsia por desprender-se do galho e juntas alçarem um longo voo ao sabor das brisas. A outra, porém, sentia-se presa à obrigação de proteger o ninho. Até que um dia, o desejo de liberdade foi maior que o sentimento que as unia e a folha jovem finalmente soltou-se. Desgarrou-se do galho como se resultasse de um parto. A despedida foi rápida e silenciosa, quase um “até logo!”. Partiu, deixando a outra folha, surpresa e entristecida, vê-la ser levada pelo vento do adeus, até que sua imagem se perdesse no horizonte, confundindo-se no clarão avermelhado do sol que já se escondia da chuva que se anunciava. Depois, lentamente, com o olhar ainda perdido no posto vazio de seu coração que pertencia à sua alma gêmea, ajeitou-se melhor para recobrir o ninho, enquanto suas lágrimas se misturavam com as gotas da chuva que, finalmente, chegara…

Sergio Diniz da Costa
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