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Cerimônia de premiação encerra o IV Concurso de Poesias Coesão Poética 2018

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O IV Concurso de Poesias Coesão Poética 2018 foi encerrado neste sábado (23), na Biblioteca Municipal de Sorocaba, com cerimônia de premiação e declamação das poesias inscritas

 

Lia Lopes

O grupo Coesão Poética de Sorocaba completou 13 anos de fundação no dia 17 de junho, coroando-o com o IV Concurso de Poesias Coesão Poética 2018.

A Cerimônia de Entrega de Prêmios, conduzida pelo coeso Sergio Diniz da Costa, ocorreu no dia 23 (sábado), às 14h30, na Biblioteca Municipal de Sorocaba,  com a declamação das poesias inscritas, realizada pelos membros do grupo.

Nesta edição do concurso, a novidade ficou por conta da premiação, que, além dos Certificados de Vencedores e de Participação, contou com livros e, em especial, o Troféu Lia Lopes, uma homenagem in memoriam à poetisa e confreira Lia Lopes.

O troféu – que reproduz um mata-borrão, com uma pena de caneta e um pergaminho enrolado, e feito com material reciclado – foi confeccionado pela artesã Ana Maria Duarte, a qual, recentemente, foi vencedora da enquete ‘Melhores do Ano 2017 em Sorocaba’, na categoria ‘Melhor Artesã de Reciclados’.

Os três primeiros classificados foram: 1º lugar, Gelsom Moreira da Silva, de Salto/SP, que concorreu sob o pseudônimo Carmo Teófilo e o poema ‘Às penas da demência’; 2º lugar, Diogo Vasconcelos Barros Cronenberger, de São Paulo/SP, sob o pseudônimo Doniphon e o poema ‘O estranho’ e o 3º lugar Rosângela Araújo Pires Vig, de Sorocaba/SP, sob o pseudônimo Mariposa Apaixonada e o poema ‘O amor de Dulcinéia e Arthur’.

Gelsom Moreira da Silva

Um momento significativo da cerimônia: o poeta Gelsom Moreira da Silva, após receber os prêmios, pediu a palavra e, no púlpito, enalteceu a iniciativa do grupo Coesão Poética e teceu severas críticas à falta de adesão dos poetas em geral ao concurso, e o mesmo em relação à ausência do público na cerimônia de premiação.

 

 

Abaixo, alguns momentos do concurso e os poemas classificados:

A Mesa dos trabalhos, composta pelos membros do Coesão Poética e as palavras iniciais do presidente, Gonçalves Viana
Os membros do Coesão, declamando os poemas inscritos

     

 

A entrega dos prêmios ao 1º classificado
Gelsom Moreira da Silva

 

O 2º classificado, Diogo Vasconcelos Barros Cronenberger, sendo representado por Cristiane Bahia

 

Rodrigo de Oliveira Arruda – concorrente do concurso

 

OS POEMAS VENCEDORES
1º lugar: Gelson Moreira da Silva – Pseudônimo Carmo Teófilo
ÀS PENAS DA DEMÊNCIA
Com seu canto desvairado,
um pardal arrepiado toma a intenção de me irritar.
Pula, sobe e desce na ferrugem do farpado.
Faz firulas sobre as cercas da fazenda
à procura da sua prenda.
— Ô bichinho atormentado!
Canarinho peito seco que subia do riacho
Estralou-se tão macho
dentre as folhas de capim.
Pardalzinho enfurecido
Já tramou no pé do ouvido
— Quanta pena no jardim!
Dois pequenos alados da natureza,
no gramíneo campo, em tão sangrenta peleja.
Que dos peitos tingiram as penas cruentas.
Despedaçaram-se com os bicos da frieza,
mataram-se sobre as flores agourentas
e morreram-se nas plumagens da tristeza.
Peças pregadas pela grade das loucuras
Altas doses de profunda insanidade
Quem vai crer em tal maldade,
Em tão penosas criaturas?
—Só delírio, engodo apenas!
Não tem sangue… Não tem penas… E o pardal é imaginário.
Nem o campo, nem canário,
nem as folhas de capim.
Mais delírio foi ser visto em meu cenário.
Meu pardal imaginário
imaginou tudo pra mim.
2º lugar: Diogo Vasconcelos Barros Cronenmberger – Pseudônimo Doniphon
O ESTRANHO
Depois de anos vagando, vejo uma casa.
Minha casa.
Não vagava, voltava. Não sabia.
Não sei.
Vejo um liquenoso papel de parede que não reconheço.
Vejo um menino de umbroso hálito. Sozinho.
Meus pais, como os dele, viviam vagando.
O menino não é familiar.
Eu tampouco.
A casa não é a mesma. Terá sido alguma vez?
Perdido em um mundo assolado por novos melodramas,
necessitado de saber quem é mocinho e quem é bandido,
melodramas que passam em velhas salas de cinema para espectador nenhum,
aprendi com louvor a detestar-me por não lograr reduzir-me.
Quatro olhos me sufocam.
Assisto a melodrama nenhum na sala de cinema da casa.
Espero pelo menino que decerto esperava por mim.
Espero.
A cirurgia reconstrutiva não esconde meu lábio leporino.
O menino parece nunca ter tido qualquer deformidade.
Aparece e, com uma faca, lhe corto o céu da boca.
Não há estrelas. Meu único desejo é sê-lo. Sentir algo.
Ele sente dor. Eu nada sinto.
Saio sem saber se era minha casa.
O filme que não passou nunca termina.
Vago.
3º lugar:  Rosângela Araújo Pires Vigt – Pseudônimo Mariposa Apaixonada
O AMOR DE DULCINÉIA E ARTHUR
A bruma, que um dia se dissipou
Trouxe o amor, que por tanto tempo se reinventou,
Pelas lágrimas vertidas por Dulcineia e Artur
E pelo sorriso de ambos, que se desvaneceu.
Do Olimpo ao Cáucaso, de Chipre à Islândia
Em Afrodite e Ares, Brighid e Angus, Eros e Psiquê,
E no caso do amor proibido de Julieta e Romeu,
Nas idas e vindas, por tantos tempos, longa distância se percorreu.
Jamais, em algum tempo se vira tamanho amor, tanta dedicação,
De almas gêmeas que se juntam e que se fragmentam,
Que percorrem espaços vazios na busca constante,
De um encontro definitivo, de uma eterna aproximação.
Se ela é agora, a Música, ele é a Arte e a Poesia.
Enquanto um se conforta na manhã aquecida
O outro clama por alento, numa noite fria,
Procurando colo, um abraço, um abrigo.
Mas um anjo decidido ruflou um dia, suas amplas asas,
E se juntou à natureza toda, compadecida, em revoada
Tramando ligar, para sempre as duas almas gêmeas separadas.
E que a eternidade as mantivesse para sempre unidas.
Então, de muito longe, o sonho de Artur soprou no de Dulcineia,
Suas juras de amor verdadeiro e eterno, e seu beijo.
E a moça sentiu seus lábios tocarem os dele e estremeceu
E por uma distante terra, estranho era seu anseio.
O anjo bom que protegeu Dulcineia, veio em seu auxílio,
E a levou, em suas próprias asas, voejando pelo céu,
Seguindo o rastro de matizes que a natureza pintou,
De um arco colorido que enfeitava o firmamento azul.
Mas do rosto da moça as cores se desvaneceram
Em pleno êxtase, de tão ansiado reencontro,
E de seus olhos marejados, duas lágrimas verteram,
Quando viu Artur, desfalecido, em febre, por amor delirando.
Então, Dulcineia juntou suas mãos em prece,
Um coro de anjos entoou uma suave canção,
Em socorro de Artur, que jazia desfalecido e inerte,
E que tão grandioso amor se agraciasse em benção.
Mais anjos se juntaram ao canto, os deuses despertaram,
Acordaram-se também fadas e gnomos, duendes e elfos,
E toda a natureza chamou de volta a alma pura de Artur
Que já desvanecia resignada em espaço etéreo.
Sobre o moço, esmorecido, Dulcineia pousou suas mãos,
Aproximou seu rosto ao dele e beijou-lhe a face já fria.
Pediu em silencioso lamento, entre soluços e lágrimas
Para que todo o universo fosse complacente à sua triste súplica.
Mas depois de tantos suspiros, encontros e desencontros,
Artur arfou o peito três vezes e abriu os olhos entressonhando.
De mãos unidas, os dois juntaram os lábios em beijo longo,
Resignados, devolveram suas cansadas vestes do espírito,
E eles voaram pelo infinito, unidos para sempre, na forma de anjos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sergio Diniz da Costa
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