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Élcio Mário Pinto: 'A mulher que congelava'

“Se quem ama cuida, então, quem congela, zela! Era assim que ela se definia, com quem zelava pelas melhores condições das coisas da casa.”

 

Tomilho

          Se quem ama cuida, então, quem congela, zela! Era assim que ela se definia, com quem zelava pelas melhores condições das coisas da casa.

          Os amigos, quando souberam, riram e até fizeram algumas piadinhas. Mas, ela não se ofendeu e, categoricamente, disse:

          – Garante higiene e organização, tenham certeza!

          – Do que ela está falando? – perguntou o interessado em saber das coisas da cozinha.

Respondeu o interrogado:

          – Dizem que quem gosta de comidas elege como melhor espaço da casa aquele que reúne fogão, pia e despensa.

          Quando disseram a ela, a resposta foi pronta:

          – Não se esqueçam da geladeira. Ah! O que seria do mundo sem ela?

          A resposta dada por dona Cirçona foi direcionada:

          – Desde menina, sem geladeira, a carne era protegida na lata de gordura de porco.

          Nhô Zé Bueno, completou:

          – E as bebidas, saibam, eram resfriadas nas águas correntes do Rio Itaporanga.

          – Quer dizer então, que a cidade resfriava tudo no rio?

         – Podem acreditar! Formava-se uma fila, especialmente em final de semana, quando se bebia o refrigerante da época, para as crianças, e a cerveja para os adultos. As mulheres gostavam da cerveja escura, um pouco adocicada.

          Drica, a menina falante, disse que confirmava a fala de nhô Zé, porque sua bebida e seus petiscos ficavam fresquinhos quando mergulhados na água corrente, até da torneira, enfatizava.

          E assim, a conversa se estendia pela madrugada.

          Tudo se desenvolvia muito bem, até que o tal estranhamento aconteceu:

          – Espere um pouco, por favor! – era um curioso querendo explicações.

          – Pois, pergunte! – respondeu a interrogada.

          – Quer dizer que tu congela tudo, é?

          – Bem, tudo, tudo também não.

          – Como não, se até sapato eu vi no congelador. Estava duro como pedra, quero dizer, como gelo!

          Esta fala foi mais uma acusação do que uma constatação. Quem falava tinha certeza do que dizia e por isso confirmava:

          – Vi, provo e desconjuro!

          Eu que tudo ouvia, também precisava me manifestar e soltei:

          – Pois eu, de minha parte, disconcordo.

          Fez-se silêncio!

          – Não estão me entendendo?

          A resposta, numa só voz foi certa:

          – Não!

          – Quero dizer que concordo ao contrário, quero dizer, confirmo que nego, entenderam?

          Mais uma vez, a resposta:

          – Não!

          – Significa que concordo com a negação do que se falou.

          – Afinal, o que foi que se falou?

          – Ora, que tudo se congela na geladeira pela higiene e pela organização, não foi?

          – Foi!

          – Então, é com isso que eu disconcordo!

          – E o que quer dizer, então?

          – Que também nego que o congelador da geladeira seja para congelar sapato.

          – Mas, então, é verdade? A criatura aqui presente congela até…?

          – Por favor, não fale “criatura” quando represento a beleza da mulher sulista.

          – Então, sim, também disconcordo com a afirmação e apoio a beleza feminina dos cantos do sul do Brasil.

          – Vamos esquecer essa fala e nos concentrar no tal congelador de sapatos. É verdade, é?

          – Que fale sua autora!

          – Pois, eu falo mesmo! Saibam que o congelador é grande e nada é tão higiênico e organizador. Ora, se é assim, e é, faço o que todos deveriam fazer. Faço o que há de melhor!

          – É sua palavra final?

          – Mas, é claro!

          E assim, estava encerrada a conversa sobre a mulher que congelava, além de sapatos, feijão, doces, salgados e até tomilho!

 

ÉLCIO MÁRIO PINTO – elcioescritor@gmail.com

28/06/2018

 

 

Sergio Diniz da Costa
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