outubro 05, 2024
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Gonçalves Viana: 'Como dizia o poeta, numa tarde em Itapoã'

Vinicius havia terminado um novo poema que falava de Itapoã, que pretendia entregar para o baiano Dorival Caymmi musicar, era ‘Tarde em Itapoã'”

 

Vinicius de Moraes

Em 1970, Vinicius e Maria Creuza foram fazer uma turnê em Buenos Aires, e levaram Toquinho para terem um violão brasileiro no acompanhamento. A turnê foi um sucesso total. O show contava com canções conhecidas de Vinicius, em parcerias com Tom Jobim, Baden Powell e Carlos Lyra e “Que Maravilha” de Toquinho e Jorge Bem. Não havia ainda uma parceria entre Toquinho e Vinicius. No navio, de volta para o Brasil, Toquinho mostrou ao poeta um samba sem letra, Vinicius gostou do tema e ficou com a ideia de fazer uma letra.

Maria Creuza

Com o sucesso da turnê argentina, Gessy Gesse, a mulher de Vinicius, na época, sugeriu que se fizesse um show no Teatro Castro Alves, em Salvador, Bahia. Maria Creuza tinha outros compromissos, então Vinicius convidou Marília Medalha e, mais uma vez, Toquinho. No ônibus, a caminho de Salvador, ele se lembrou do samba que Toquinho havia lhe mostrado, terminou a letra, chamando-a de “Como Dizia o Poeta”, que foi também o nome do show. O enorme sucesso, advindos dos três dias do show, inaugurou a parceria, deixando antever o futuro que teria a dupla.

Toquinho

Com a temporada na Bahia, e o sucesso de “Como Dizia o Poeta”, surgiram novas canções como “A Bênção Bahia” e “Mais Um Adeus”. Toquinho julgava que a parceria fosse parar por aí, o que já estaria de bom tamanho para quem estava em início de carreira como ele.

Vinicius havia terminado um novo poema que falava de Itapoã, que pretendia entregar para o baiano Dorival Caymmi musicar, era “Tarde em Itapoã”. Toquinho ficou maluco, queria porque queria, de qualquer maneira musicar aquele belo poema, mas disputar com o bom baiano Caymmi seria uma tarefa árdua demais para um quase iniciante e, ainda por cima, paulista.

A solução foi furtar a letra. Numa noite, antes de embarcar para São Paulo, onde teria de resolver assuntos particulares, simplesmente pegou a letra e viajou. Três dias depois, voltou à Bahia com a melodia pronta e, conta ele, que:

Baden Powel

Vinicius ficou ouvindo um tempão a música, e não falava nada. Ficava ouvindo no gravador, quieto, fumando, meio indeciso, tentando não se convencer. E o pessoal já começava a cantar na casa. Aí, ele me chamou e me disse que não ia dar mais ao Caymmi. Foi nessa que ganhei o poeta!

Foi um dos maiores sucessos da música brasileira. A dupla fez uma gravação simples, só com violão e voz, e enviou para a Rádio Difusora de São Paulo. Quando a música começou a ser tocada, havia entre os ouvintes gente de peso, como João Gilberto, que telefonou a Toquinho dizendo: “acho que você não sabe o que fez nessa melodia…”. Logo depois, foi a vez de Baden Powell confessar que “essa volta no refrão, essa mudança harmônica na frase ‘ouvindo o mar de Itapoã’, é uma das coisas mais bonitas que já ouvi”. Opinião semelhante à que Gilberto Gil emitiu, quando gravou a música para o CD “30 Anos”.

Se Vinicius tinha ainda algum receio em relação ao novo parceiro, ele desapareceu por completo. Depois de “Tarde em Itapoã” a produção da dupla deslanchou, tornando-se um fenômeno pouco visto na MPB.

                                                                                            Gonçalves Viana -vianagaparecido@gmail.com

 

TARDE EM ITAPOÃ

Um velho calção de banho

O dia pra vadiar

Um mar que não tem tamanho

E um arco-íris no ar

Depois na praça Caymmi

Sentir preguiça no corpo

E numa esteira de vime

Beber uma água de coco

 

É bom

Passar uma tarde em Itapoã

Ao sol que arde em Itapoã

Ouvindo o mar de Itapoã

Falar de amor em Itapoã  (bis)

 

Enquanto o mar inaugura

Um verde novinho em folha

Argumentar com doçura

Com uma cachaça de rolha

E com o olhar esquecido

No encontro de céu e mar

Bem devagar ir sentindo

A terra toda a rodar

 

É bom…  (bis)

 

Depois sentir o arrepio

Do vento que a noite traz

E o diz-que-diz-que macio

Que brota dos coqueirais

E nos espaços serenos

Sem ontem nem amanhã

Dormir nos braços morenos

Da lua de Itapoã

 

É bom… ( bis)

(Toquinho e Vinicius)

Sergio Diniz da Costa
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