É DIFÍCIL SER POBRE
Não é fácil ser pobre.
Enfrenta fila até para entrar na fila. Porta documentos os mais variados, para provar que mora em algum lugar e não é foragido da justiça.
Quando usa roupas normais, e resolve passear por algum bairro, logo é abordado, por estar em atitude suspeita. Cachorros de ricos farejam pobres com facilidade, e iniciam um festival de latidos, alertando a vizinhança para o perigo iminente.
Pobre é leitor assíduo de jornais, principalmente das páginas que ficam estampadas, nas bancas. No trânsito, a pobreza costuma ser discriminada.
Quando o rico utiliza bicicleta, é saudado como adepto de uma vida saudável e ambientalista ferrenho. Bicicleta de pobre atrapalha o trânsito e causa acidentes.
Bicicletas de pobre acertam o relógio da população. Quando surgem em grande número, é sinal de que ainda não são sete horas, ou já passou das dezessete
Em unidades de saúde, pobres só são atendidos com rapidez quando chegam conduzidos pelo SAMU. Frequentam farmácias, quase sempre portando receitas de analgésicos.
Educados, o ambiente do bairro onde vivem costuma ser conturbado por desentendimentos sonoríssimos entre crianças ou mães. São solidários, ajudando a empurrar o carro do vizinho, que insiste em não pegar.
A insegurança acabou por incluir os pobres, pois já são assaltados, como se portassem tesouros. Em alguns templos, sequer são notados, mas em outros são saudados como irmãos.
A pobreza constitui o ponto central dos discursos políticos, e os palanques são unânimes em decretar guerra à penúria humana. As gestões transcorrem, festivas, mas pouco solucionam o problema.
As crises, todas, atingem com maior severidade os pobres. Como os salários costumam ser pequenos, qualquer abalo compromete a alimentação, medicamentos, água e luz.
Nossos pobres ainda preservam o bom humor, apesar de serem diariamente agredidos pelas suntuosidades e roubalheiras oficiais. As estruturas oficiais de prestação de serviços, não raro, são tão carentes quanto as populações que deveriam assistir.
Em boa hora, foram instituídas as merendas escolares, utilíssimas no atendimento a grande parcela da população. ONGs, voluntários e religiões trabalham com afinco na minoração dos efeitos da pobreza.
Pobres anseiam por medidas simples. Querem a profissionalização e, sobretudo, o respeito humano.
Bolsas e socorros ajudam, mas não resolvem. Por vezes, atrapalham, pois, em nossa podridão, acabam também destinadas a ricos e remediados.
Pobres vivem como reféns de ameaças ideológicas, seja de grupos escravistas estatizantes ou de grupos que abominam a responsabilidade social. As mazelas de qualquer regime não atingem governantes, que seguem discursando, sempre penalizando os pobres.
Custa pouco garantir aos pobres o adequado e tempestivo atendimento à saúde, segurança e educação. O custo é a moralização de nossas instituições, colocando um fim em privilégios e gastos inúteis de castas que, eleitas ou não, impedem nosso desenvolvimento social.
Pedro Israel Novaes de Almeida
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.