– QUANDO E COMO DILMA CAIRÁ?
A queda é só questão de tempo |
Em abril de 1969, quando eu não passava de um jovem de 18 anos que lera alguns clássicos marxistas mas estava muito longe de saber discernir para onde os acontecimentos políticos se encaminhavam, participei como convidado do Congresso da Vanguarda Popular Revolucionária em Mongaguá (SP), representando meu grupo de oito secundaristas dispostos a ingressar na organização.
Na volta, já como integrante da VPR, fui surpreendido com a designação para criar e comandar um setor de Inteligência, absoluta novidade nos agrupamentos de esquerda e incumbência para a qual nada na vida me preparara.
Mas, com o entusiasmo característico da idade, mergulhei fundo nas minhas tarefas, inclusive a de, acompanhando o que saía na imprensa e complementando-o com as notícias censuradas e informações de bastidores que aliados jornalistas nos transmitiam, projetar cenários futuros. Com várias facções disputando o poder, era importantíssimo sabermos qual a correlação de forças no seio da ditadura, desdobramentos possíveis e consequências práticas (abrandamento ou radicalização, p. ex.).
Nossa luta foi esmagada, mas o hábito ficou, até porque também tem muita serventia no ofício de jornalista. Passei o resto da vida me aprofundando na interpretação dos cenários futuros, e quem acompanha meu trabalho sabe que geralmente acerto; como quando alertei que seria a maior roubada a Presidência da República caber a alguém de esquerda quando, por imposição dos poderosos do capitalismo, o governo seria obrigado a executar um ajuste fiscal de cunho neoliberal. Não deu outra, o PT está sendo destruído em função disto, muito mais do que pelos escândalos de corrupção.
Os abutres já se preparam para o ataque final |
Então, os amigos agora me perguntam, preocupados, como e quando será o desfecho da crise brasileira.
Eu diria que a possibilidade de começarmos 2016 com a Dilma na Presidência é muito pequena, quase nenhuma, pois a sua rejeição advém, principalmente:
- da recessão que fustiga o povo brasileiro, empobrecendo-o e fazendo dispararem as taxas de desemprego; e
- do estelionato eleitoral, pois já caiu até para o povão a ficha de que a Dilma a todos iludiu quando prometeu não impor os rigores que a Marina Silva e o Aécio Neves imporiam.
Gritou “lobos!”, os crédulos engoliram, e ela também era loba. Só que propaganda enganosa costuma ter efeito bumerangue, ainda que com efeito retardado…
O pior é que, em curto e médio prazos, a penúria só tende a aumentar; e a impopularidade presidencial, idem. Por causa deste sentimento hostil, as acusações da Operação Lava Jato causarão estrago cada vez maior, devendo finalmente desembocar num processo de impeachment.
Na hora da onça beber água, duvido que haja um terço de deputados federais ou de senadores dispostos a contrariar os humores do eleitorado defendendo o mandato de uma presidenta tão mal avaliada nas pesquisas de opinião. Fisiológica como sempre, a maioria votará de olho no próprio futuro político.
É hora de pensarmos no que faremos depois |
Resta à Dilma a opção de não conceder tal triunfo apoteótico à direita, renunciando enquanto é tempo. Depois que se evidenciar para o cidadão comum que seu impedimento é inevitável, tal ato perderá muito em termos de valor simbólico. Se quiser salvar um pouco de sua imagem, tem de renunciar antes que a corda esteja apertando-lhe o pescoço.
Um bônus imediato seria o esfriamento da campanha adversa de mídia, com a Operação Lava Jato deixando de ser trombeteada dia e noite. Há muito de artificial nesta ênfase desmedida.
E a maior vantagem: jogar toda a encrenca para o campo inimigo. Com o PT fora do Palácio do Planalto, é quase certo que caberá ao PSDB e ao PMDB administrarem a massa falida. Não será fácil nem rapidamente que reerguerão a economia brasileira, tendo, portanto, de assumir por bom tempo o desagradável papel de vidraça, enquanto os petistas começarão a emergir do fundo do poço ao voltarem a ser estilingues.
Enfim, a escolha real que restou ao PT é a da hora de sair: pode fazer bom negócio se curvar-se à evidência dos fatos, mas afundará muito mais se teimar em ir contra uma maré já irresistível.
Quanto ao timing, eu chutaria que a direita continuará acumulando forças ao longo deste mês, pois o período é de férias escolares e consequente desmobilização das pessoas; e que botará seu bloco na rua, com força total, a partir de agosto, havendo grande chance de que o de 2015 venha mesmo a ser um mês do cachorro louco, como o de 1961.
Uma data a ser temida é o 16 de agosto, domingo em que haverá novos protestos contra o governo em escala nacional. Tudo que a direita estará precisando é de defunto(s) útil(eis), para servirem como ingrediente emocional, cereja do bolo da comoção nacional que lhe convém criar (na linha, p. ex., da morte dos estudantes MMDC em maio de 1932).
Se eu fosse o Lula, exortaria os militantes do PT, CUT, MST, MTST, etc., a ficarem bem longe da avenida Paulista e outros palcos das manifestações, para não correrem o risco de fazer o jogo do inimigo.
* jornalista, escritor e ex-preso político, mantém o blogue Náufrago da Utopia.
PARA NUNCA ESQUECERMOS, PARA JAMAIS PERMITIRMOS QUE SE REPITA: ALEMANHA 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7. BRASIL, 1.
Do blogue Náufrago da Utopia.
Ajoelhou, tem de rezar. |
Depois de amanhã (4ª feira, 8) transcorrerá mais um infeliz aniversário brasileiro.
Se não chega a ser tão nefando quanto o de 1º de abril (nada pode ser tão ruim quanto o dia que nos fez perder 21 anos, tantas vidas, nossas melhores esperanças e a nossa inocência!), foi um golpe terrível na auto-estima dos brasileiros.
O complexo de vira-latas, de que nos livráramos no finzinho de junho de 1958, voltou com tudo, pior do que nunca. Esquecemos a pretensão de ombrearmo-nos aos maiores do planeta e passamos a nos enxergar de novo como competidores pela supremacia na América do Sul. Atrás da Europa, tudo bem, só não se pode ficar abaixo dos esfarrapados da vizinhança!
Cinco dias depois, a maioria dos brasileiros torcia pateticamente pelos algozes alemães contra os hermanos argentinos, preferindo os abastados filhos da Merkel, destruidora de nações, a outros coitadezas como nós, semelhantes a nós em tudo e sofredores como sempre fomos e jamais deixaremos de ser enquanto nos prostrarmos aos desígnios das grandes nações capitalistas.
Sofremos 4 gols em 7 minutos. E eles só assistindo… |
Mas limitemo-nos, neste texto, aos tormentos futebolísticos, mais no espírito de um domingo. Já chega o quanto os outros, os do subdesenvolvimento econômico, político e cultural, nos consomem e tiram o sono durante os dias úteis, quando somos bombardeados pelas más notícias por todos os lados…
Primeiro ponto: a tragédia do Mineirão (relembre-a aqui) foi anunciada. Eu, p. ex., a vinha anunciando há cerca de um ano, porque sabia que o hexa jamais chegaria pelas mãos do treinador Luiz Felipe Scolari.
A Seleção Brasileira simplesmente não acompanhara a enorme evolução tática e técnica do futebol mundial a partir da revolução catalã da segunda metade da década passada, de forma que a nossa única esperança era termos no banco alguém como o corinthiano Tite, capaz de armar seu time de forma a compensar a inferioridade de forças (foi o que ele fez no Mundial de Clubes de 2012, ao dar um nó tático em Rafael Benítez e, contando com a aplicação do elenco e os milagres do goleiro Cássio, surpreender o franco favorito Chelsea).
Felipão, flagrantemente ultrapassado e taticamente medíocre, só poderia piorar o que já era ruim. E foi, também, o que ele fez, desguarnecendo o meio-de-campo contra a Alemanha porque sonhara com Bernard conduzindo o Brasil à vitória. Coisa dos treinadores do tempo do Onça, como Osvaldo Brandão.
“Triste Brasil. Ó quão dessemelhante!” |
Mas, por que o jurássico Felipão, que vinha de fracasso em fracasso desde o Mundial de 2002, estava lá? Simplesmente porque a presidência da Casa Bandida do Futebol caiu no colo de José Maria Marin, após a desgraça do também corrupto Ricardo Teixeira.
Foi Marin que, contra a opinião da crônica esportiva e dos torcedores conscientes, retirou do ostracismo outro anacronismo com o qual se identificava pela índole autoritária de ambos. Deram-se as mãos e impuseram ao escrete brasileiro sua mais acachapante derrota em um século de história e mais de mil partidas disputadas.
E o que aconteceu desde então? Nada.
Saiu Marin, entrou Del Nero. Seis por meia-dúzia.
Escolheram Gilmar Rinaldi para diretor de seleções, não ligando ou pretendendo mesmo que viceje à sombra da CBF o balcão de negócios denunciado pelo grande Zico (leia aqui).
Rinaldi imediatamente quis ter a seu lado o ex-jogador limitado e técnico fracassado Dunga, outro cujo passado o condena: pertenceu à máfia de intermediação de jogadores, convocou para a Copa de 2010 um dos clientes da empresa internacional da qual participava e mentiu à imprensa e à Justiça gaúcha a este respeito (leia aqui).
Feios, sujos e malvados: de um nos livramos, faltam três. |
Marin foi preso a pedido do FBI e Del Nero voltou espavorido para o Brasil, não botando o pé fora desde então, pois teme ser também denunciado, preso e extraditado.
Armou-se uma CPI da CBF e a chamada bancada da bola, com a participação inclusive de senadores do PT, tudo faz para que ela acabe em pizza (leia aqui).
O Brasil foi expelido da Copa América pelo fraquíssimo selecionado paraguaio, aumentando os temores de que possa, pela primeira vez, ficar fora de um Mundial da Fifa. Com o futebol que acaba de exibir no Chile, mesmo não estando Neymar ausente como nos dois últimos papelões, pode, sim, não passar das eliminatórias.
Rinaldi armou uma maratona de blablablá engana-trouxa, durante a qual muito se falará e isto de nada servirá, pois o primeiro e fundamental passo para se restabelecer a moralidade e o profissionalismo na CBF e na Seleção é a saída de Del Nero, de Dunga e dele próprio, Rinaldi.
Resumindo: a situação continua exatamente a mesma um ano depois dos 7×1 e a perspectiva é de que, se nada de substancial mudar, mais humilhações virão.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.