RUMO AO CAOS
Dizem os entendidos que os eventos climáticos serão cada vez mais exagerados.
Chuvas tenderão a ser tempestades, ventos furações, e alagamentos severas inundações. As secas serão mais severas e impactantes.
Ninguém precisa ser centenário para lembrar o tempo em que São Paulo era a “terra da garoa”, aquela chuvinha persistente que molhava sem inundar. Embora as mudanças climáticas ocorram sem serem percebidas por determinada geração, tem sido normal os testemunhos de que “nunca vi nada igual” e “o clima está mudando”.
Há pouco tempo, os que alertavam para o risco do aquecimento global eram tidos como hippies alarmistas, um bando de seres exóticos, pregando o retorno às cavernas. A ciência e a realidade cuidaram de provar o acerto dos alertas até então desprestigiados.
Hoje, um grupo enorme, disperso por toda a sociedade, alerta para o risco de transformarmos terra, mar e ar em grandes lixeiras, seja pela geração contínua e crescente de restos de embalagens ou pelo pouco contido acúmulo de material gerado por atividades econômicas, como a mineração e a própria agricultura, quando conduzida por irresponsáveis.
Ao cidadão comum, iletrado, soa como frescura a campanha pela abolição dos canudos plásticos, até que aparecem, aos milhões, entupindo bueiros e matando animais, peixes e aves. As reações à pregação por um ambiente mais equilibrado decorre de mera ignorância ou do cruel entendimento de que os produtos finais justificam os restos deixados pelo caminho.
A pregação ambiental tem seus exageros, a ponto de acabar crucificando o prefeito que erradicar uma árvore centenária, só pelo fato de ameaçar vidas e patrimônios. Árvores crescem, vivem e morrem, sendo irresponsável buscar preservá-las, mesmo quando ameaçam tragédias.
As tempestades e ventanias, cada vez mais severas, exigem vegetação adaptada e constante acompanhamento, existindo equipamentos que sondam e diagnosticam o interior das árvores. Tais equipamentos, pelo custo e pessoal que envolvem, não estão disponíveis às prefeituras, devendo ser operados por órgãos estaduais.
O planejamento da ocupação humana e a instalação de equipamentos de previsão, alertas e socorro, são, cada vez mais, obrigações dos governos, sendo inconsequente e irresponsável ignorar que existem milhões de brasileiros que vivem pendurados em morros, ou às margens de rios que facilmente transbordam.
Gastos públicos com socorros são maiores que gastos públicos com precauções e cautelas. Decretos de calamidade servem, também, para bambear as exigências legais para aquisições e contratações de materiais e serviços. Dizem até que corruptos e perdulários adoram calamidades.
Na agricultura, as mudanças climáticas são catastróficas, exigindo a sempre bem vinda colaboração de cientistas e pesquisadores, adaptando espécies e manejos. O Brasil ainda dispõe de poucas estações climatológicas, dificultando diagnósticos e previsões.
As intempéries climáticas castigam todo o mundo, mas somamos, a elas, as intempéries político-administrativas, tão discurseiras quanto venais e irresponsáveis.
Pedro Israel Novaes de Almeida
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
- Como o jornalista Helio Rubens vê as coisas - 9 de janeiro de 2024
- Como o jornalista Helio Rubens vê o mundo - 27 de dezembro de 2023
- Como o jornalista Helio Rubens vê o mundo - 22 de dezembro de 2023
É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.