Silêncio
Sou uma mulher de palavra. Literalmente. Metaforicamente. Palavra literária. Palavra escrita. Palavra falada. A fala é meu alimento diário: é líquida, é sólida, é gasosa. Jamais insípida, inodora ou incolor (tríade que combina somente com a água).
Ouço as letras conversando, formando palavras que se unem em frases e parágrafos. Tornam-se textos. É um bailar visual, mas eu as consigo sentir! Enquanto elas dançam, provocantes, eu canto! Sigo o som dos bemóis que embalam a dança…
Nada entendo, tecnicamente, de música, das suas erudições, mas permito que me envolva e me embale em seu ritmo. Danço desengonçadamente, mas não me importo: permito-me a liberdade corporal e me entrego aos passos improvisados. Letras dançantes, na escrita elciana.*
É assim que escrevo: permitindo que as palavras me provoquem (risos, cócegas, dores, êxtase, medo, insegurança…). Sei escutá-las. Sim, eu que falo tanto, silencio-me para deixar que elas falem comigo e para mim. Aceito que me convidem para sua dança. Não me importo se há ritmo! As palavras me tomam pela mão, puxam-me pela cintura e me enlaçam! Sopram obscenidades, mudam de assunto, fazem uma oração… Fecho os olhos e permito-lhes um momento de intimidade.
Mágica! Viajo por histórias que não são minhas, mas que gritam para que eu as revele ao mundo! Não posso ignorá-las, fingir que nada tenho com isso, que se virem e busquem outra pessoa para trazê-las ao mundo. É a mim que querem. É a mim que se despiram, mostrando-se completamente. Mesmo de olhos fechados eu as enxergo. Então, sorrio e as acolho. Quero um contato delicado, não assustá-las, mas, às vezes, elas simplesmente saltam sobre mim: sinto o baque do chão sem proteção. Aceito.
Aprendi muito cedo a força que emana das palavras. Aprendi que elas têm a força de romper os grilhões. Masculinos. Autoritários. Misóginos.
A palavra é feminina e sabe seduzir. Quem se atreve a ignorá-la tem que suportar a limitação de não conseguir se expressar, de forma adequada: faltaram-me as palavras! E quando isso acontece, resta o calar-se. Caso e assunto encerrado. Quem tem as palavras vangloria-se da vitória e quem não as tem, lamenta pelo vexame de não conseguir se manifestar.
Não nego, tampouco desconsidero as múltiplas possibilidades de linguagem e de comunicação, mas valorizo a beleza de formar frases, de permitir o nascimento de uma história, de um manifesto, de uma lei, de uma oração. Inegável que podem ser orais, mas como ficam belos quando são registrados em palavras! Eternizam-se.
Palavras exigem silêncio. Que contradição! Não é possível ouvi-las quando o barulho se instala. Exigem foco, atenção exclusiva. Eu as entendo. Respeito. Concordo.
Eu as aprecio, as degusto como um cálice divino. Cada uma tem o seu sabor, embriago-me. Então, faço uma reverência e silencio-me também. Depois, como se estivesse esperando o grande momento catártico, grito e permito que elas ocupem todos os espaços. Fecundadas. Palavras de mulher!
*Elciana: referente ao escritor Élcio Mário Pinto.
Adriana Rocha
adriana@lexmediare.com.br
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024