“Penso que todo escritor é um canal de inspiração espiritual.” (Vó Alcina)
O Jornal Cultural Rol, através da sessão ‘Entrevistas ROLianas’, bate um longo papo com a escritora Alcina Maria Silva Azevedo que, com muita descontração e sinceridade, contou-nos um pouco de sua vida. Porém antes de nos deliciarmos com sua entrevistas, vamos conhecer um pouco da biografia de ‘Vó Alcina’, como é carinhosamente tratada pelas ‘netas’ e ‘netos’ do ROL.
Alcina Maria Silva Azevedo, nasceu na cidade de Cruzeiro-SP, no dia 31 de maio de 1939. Reside atualmente na cidade de Campinas-SP.
Perdeu sua mãe muito cedo, aos 13 anos de idade, e foi estudar em regime de internato no Colégio São José, em São Bernardo do Campo. Seu pai se afastou, sendo que não teve convivência com ele, pois mal o via. Morou em Botucatu- SP, com tios do lado materno, e passou sua adolescência nessa cidade. Mais tarde, foi trabalhar em São Paulo, onde começou como datilógrafa na empresa Comercial Pereira Barretto, sendo que, com muita boa vontade e interesse, foi obtendo promoções, ocupando vários cargos, dentre eles, encarregada de Contas a Pagar. Trabalhou também na empresa Asplan Assessoria em Planejamento, no cargo de chefia da mecanografia.
Em 1967 casou-se com Alvaro Frederico Pereira de Azevedo e teve dois lindos filhos: Frederico Fulvio e Ricardo José.
Seu interesse pela escrita foi despertada bem mais tarde. Escreve por prazer, e também por sentir necessidade incontrolável de colocar no papel seus sentimentos e emoções que possam ser compartilhados com os demais.
Algumas de suas atividades literárias: Em 1982 – 1986 escreveu para o jornal O Estado de Goiás, tendo nele publicadas muitas matérias e debates, poemas etc. Em 1980 escreveu o romance ‘Além do nosso mundo’, elogiado pelo critico João Evangelista Ferraz, em matéria no mesmo jornal, porém, publicado apenas em 2020. Em 1983 participou do V Concurso Nacional de Poesias, ganhando menção honrosa pela revista Brasília. Em 1985 participou do V Concurso Nacional de Poesias ‘Raimundo Correia’, promovido pela Editora Shogum Arte, no qual recebeu o Prêmio Edição e foi convidada para trabalhar como Coordenadora Cultural em Campinas. Em 1986 coordenou várias publicações: Poetas Brasileiros de Hoje, Salvados do Incêndio e Antologia de Cidades Brasileiras. Em 2010 publicou o livro ‘Os Descasados, pela Editora Livro Pronto. Em 2016 ganhou o troféu Carlos Drummond de Andrade, como sendo Destaque do Ano, na cidade de Itabira – MG. Publicou em 2019 um livrinho intitulado ‘Um conto de preto Babão: Uma forma poética de contar estórias’, pela Editora Costelas Felinas, descrito pela autora como “uma linda estória de amor, entre o escravo e a sinhazinha” e ingressou no Quadro de Colunistas do Jornal ROL . Em 2020 publicou o livro ‘Além do nosso mundo’, também pela Editora Costelas Felinas e no mesmo ano participou da primeira Antologia Roliana, promovida pelo Jornal Cultural Rol e editado pela Crearte Editora/ Sorocaba – SP.
Se você já achou interessante esta minibiografia, confira a entrevista abaixo, pois tenho certeza que irá adorar.
“Quando esta pandemia terminar, eu gostaria de conhecer pessoalmente, em grande festa, o grupo do jornal ROL!” (Alcina Maria)
CRA – Você perdeu sua mãe muito cedo, estudou em regime de internato, não teve muito contato com seu pai, e morou com seus tios do lado materno. Podemos dizer que teve uma vida sofrida e dura. No entanto, conseguiu superar todos estas adversidades. Ao quê atribui toda essa força de superação?
Alcina Maria Silva Azevedo – Respondendo sua pergunta, de como eu consegui superar perdas e vida sofrida? Celso Ricardo, a vida de todos nós sempre nos prova com tristezas e também com alegrias. Eu acredito na lei do carma de cada um de nós. A superação, no meu caso, veio através da fé em Deus e coragem de não ficar remoendo algo que não está dando certo. Gosto da vida, gosto de rir, gosto de ser feliz, e vou ao encontro daquilo que me alegra. Meu pai, infelizmente não foi dotado de generosidade e responsabilidade, só fazia o que interessava para ele. Cada qual responderá pelas suas faltas, eu jamais quis imitá-lo, e procurei ser o oposto dele.
CRA – Um dos seus primeiros empregos foi como datilógrafa na empresa Comercial Pereira Barretto. Como você assistiu a transição da máquina de datilografar para o computador e você conseguiu se adaptar a essas mudanças tecnológicas?
Alcina Maria Silva Azevedo – Mudar para o computador foi, no início, o mesmo que ver um extraterrestre na minha frente. Achava que não conseguiria aprender. Primeiramente, eu me utilizava da máquina elétrica, onde produzi meus primeiros escritos literários.
CRA – Você casou em 1967 e teve dois filhos, porém você teve uma carreira profissional promissora e de ascensão, ocupando importantes cargos de destaque e chefia. Foi difícil na época conciliar a vida de esposa, mãe e profissional?
Alcina Maria Silva Azevedo – Na época que trabalhei em empresas eu era solteira. Quando me casei, meu marido apesar de ter sido maravilhoso, era conservador, e não admitia que eu continuasse trabalhando fora. Dizia que seria humilhação para ele, que se via como um provedor. Um absurdo! Mas era assim que muitos homens pensavam naquela época.
CRA – Você certa vez mencionou que “seu interesse pela escrita, foi despertada bem mais tarde”. Como ocorreu o seu acender literário? A senhora simplesmente acordou um dia e disse “hoje vou escrever”, ou ocorreu algo que te motivou a colocar suas ideias no papel?
Alcina Maria Silva Azevedo – Eu sempre apreciei a leitura. Desde pequena, eu lia todos os livros da biblioteca do meu irmão Carmelo (falecido). Ele me presenteava com livros do Monteiro Lobato, e eu delirava nessa leitura. Depois de casada, sentia vontade de colocar no papel, as minhas ideias e inspirações. Quando meus filhos iam para a escola, eu escrevia e me sentia feliz. Quando fomos morar em Goiânia, um jornalista amigo do meu marido, leu alguns escritos meus, gostou, e me convidou para ser colunista do jornal O Estado de Goiás, onde ele também escrevia. Meu marido não se opôs, pois eu não iria ganhar dinheiro fazendo isso, e ele não sentir-se-ia ofendido (rsss). De 1980-1984 escrevi muito para esse jornal, e os leitores aplaudiam. Isso foi me motivando a continuar a escrevendo. Semanalmente, participava de debates e publicações nesse jornal.
CRA – Em 1980 você escreveu o livro ‘Além do nosso mundo’ que retrata uma estória que vem trazer esperança para aqueles que sofrem, provando que a vida continua às vezes de forma bem feliz na espiritualidade. Este livro foi, inclusive, muito elogiado pelo crítico literário João Evangelista Ferraz. De onde veio à inspiração para escrever este livro?
Alcina Maria Silva Azevedo – Penso que todo escritor é um canal de inspiração espiritual. O livro “Além do nosso mundo” foi algo inspirado pelo além. Sou espírita e acredito em outras vidas e experiências vividas. O crítico João Evangelista Ferraz, leu meu livro, gostou muito e postou um enorme elogio ao mesmo, de uma página inteira no seu jornal.
CRA – Ainda sobre seus livros, quantos livros você tem publicado? Fale um pouco sobre eles, e existe algum que você gostou mais? E onde os leitores que se interessarem poderão adquirir esses livros?
Alcina Maria Silva Azevedo – Tenho somente 3 livros publicados: Os descasados – editora Livro Pronto – SP. Um conto de preto babão – editora artesanal Costelas Felinas- São Vicente -SP. Além do nosso mundo, também publicado pela Editora Costelas Felinas. Vendi muito bem o livro Além do nosso mundo. Fiz isso, no início da pandemia. Não coloquei nenhum deles a venda nas livrarias. As pessoas que conhecem meus escritos, me procuram e eu os envio pelo correio.
CRA – Você já foi coordenadora do concurso de poesias na cidade de Campinas-SP pela Editora Shogun Arte, de propriedade da Cristina Oiticica, esposa do escritor Paulo Coelho. Conte-nos como foi essa experiência, e como foi o seu envolvimento com a editora?
Alcina Maria Silva Azevedo – Aconteceu por eu haver participado do Concurso de poesias Raimundo Correia, e ter ganho o prêmio de publicação, com meu poema: o tempo e o vento. No livro de Poetas Brasileiros de hoje 1986. Ela me procurou posteriormente, e me convidou para ser coordenadora de concursos na cidade de Campinas, onde havia me mudado de Goiânia para cá. Essa experiência, foi maravilhosa, pois me relacionei com muitos poetas e fiz muitas amizades.
CRA – Percebemos que sua carreira literária é bem ativa, sendo que já participou de diversos concursos de poesias. Você poderia citar alguns destes em que saiu vencedora e qual foi sua emoção?
Alcina Maria Silva Azevedo – O concurso que mais me enriqueceu pessoalmente, foi o V Concurso Raimundo Correia de poesias, onde veio me trazer novos conhecimentos e muitas alegrias.
CRA – Falando ainda de sua ativa carreira literária, você teria noção de quantos poemas você já escreveu? E tem alguma preferência?
Alcina Maria Silva Azevedo – Essa pergunta, eu nem sei como responder. Tenho muitos poemas escritos e publicados. Irei qualquer dia enumerá-los, e prometo que responderei sua pergunta. Mas o poema que eu mais gostei de criar foi: AMOR E PELE.
CRA – E já que mencionamos o ‘escreve’, o que te inspira? O que te faz sentar e escrever um poema?
Alcina Maria Silva Azevedo – Quanto a pergunta, de onde vem a minha inspiração, eu respondo que são momentos vividos, ou observados no viver de outras pessoas. As vezes, desponta de repente, através de um gesto, um abraço, um olhar diferente, e que vem tocar-me o coração, despertando emoção.
CRA – Poderia citar os nomes de algumas academias de letras das quais você faz parte?
Alcina Maria Silva Azevedo – Celso Ricardo, essa pergunta sobre Academias, infelizmente, eu terei que responder o que penso, e peço perdão se irei magoar alguém. Não sou interessada em participar de Academias que me procuram, e que desejam vender títulos e medalhas. Admiro uma Academia em particular, chamada ‘Academia Poética Brasileira‘, cujo Presidente é o notável Mhario Lincoln, que sempre me convida para divulgar o meu trabalho, sem oferecer medalhas e títulos. É assim que a Academia dele funciona, divulgando talentos e trabalhos dos seus membros e escritores. No passado, já participei de Academias, Portal Cen ( Portugal), e da Academia AVESP- sala dos poetas, de Efigênia Mallemont, que também era interessada apenas na divulgação dos trabalhos literários.
CRA – Considera que é importante o escritor fazer parte destas academias literárias?
Alcina Maria Silva Azevedo – O escritor que acha importante fazer parte dessas Academias, deve fazê-lo. Eu não acho importante.
CRA – No ano de 2016 você foi homenageada, pelo colunista Social Eustáquio Félix, na cidade de Itabira-MG, com o troféu Carlos Drummond de Andrade, que é oferecido, já há 45 anos há aqueles que se destacaram em diversos setores profissionais e sociais do país. O que essa homenagem significou para você?
Alcina Maria Silva Azevedo – O destaque do ano de 2016, troféu Carlos Drummond de Andrade que o colunista, Eustáquio Felix (o mineiro festeiro) me ofereceu, foi baseado na admiração que ele tem ao meu trabalho. Ele sempre lê e aprecia o que escrevo.
CRA – Conte-nos, por favor, como foi a sua vinda para o Jornal Cultural Rol? Quem fez o convide? Como foi sua acolhida e como é a sua participação neste website atualmente?
Alcina Maria Silva Azevedo – Minha vinda ao jornal cultural ROL, foi algo marcante, e enriquecedor! O convite partiu do carismático e competente editor Sergio Diniz da Costa. Um editor, que prima pela boa qualidade das suas publicações. A minha acolhida foi a melhor possível! Sou chamada carinhosamente de avó Alcina, risos. E o poeta e confrade Leandro, que prefere me chamar de avó Alucina, pois diz que eu o atormento muito (rs). O grupo é alegre e dedicado à literatura. Gosto de todos e brincamos muito. As vezes até sirvo de avó confidente de alguns. (risos)
CRA – No ano passado, em 2020, você participou da Antologia Roliana, produzida pelo Jornal Cultural Rol. Conte-nos como foi sua participação nesta antologia e o que você achou?
Alcina Maria Silva Azevedo – Quanto a Antologia Roliana é histórica para mim, é onde estão os textos e poemas de vários colunistas do grupo, e que eu amo. Guardarei como um tesouro, e ficará para sempre na minha memória.
CRA – Se me permite falar sua idade, você nasceu em 1939, portanto você completará agora no dia 31 de maio 82 anos, qual o segredo para nesta idade, onde muita gente já pensa em parar e descansar, você ainda continua ativamente escrevendo e se dedicando as causa culturais?
Alcina Maria Silva Azevedo – Sim, Celso Ricardo, eu irei completar 82 anos neste mês de maio. Você me pergunta qual o segredo? Eu respondo que amo a vida e o amor. Estou sempre apaixonada por alguém, e pelo que faço. Pessoas tóxicas, eu as coloco bem longe de mim. (rs)
CRA – Qual o seus planos para os anos vindouros? O que podemos esperar da escritora Alcina Maria Silva Azevedo?
Alcina Maria Silva Azevedo – Eu já estou vivendo no futuro! (rs) Mas ainda espero realizar algumas coisas, se Deus o permitir. Publicar mais um livro, curtir minha família e amizades sinceras. Gosto muito de festas. Quando esta pandemia terminar, eu gostaria de conhecer pessoalmente em grande festa, o grupo do jornal ROL. E com você, é claro, que está sendo tão paciente e gentil comigo. Conhecer o Helio Rubens, Sergião, a fada madrinha (Sandra Albuquerque), a doce Verônica Moreira, linda Rejane, a charmosa Cláudia, o neto arteiro Evandro, Dias Campos, Antônio Fernandes do Rêgo, o neto caçulinha de nome Gabriel, Marcelo Paiva, Angela, Pietro Costa, Leandro Campos, Ale Abdo, Leticia Mariana, Jairo Valio, Amanda, Lex, Mari, e tantos outros que peço perdão por não postar aqui, para não ficar muito extensa a publicação.
CRA – Deixe uma orientação para os escritores que estão iniciando nesta carreira e desejam ser tão bem-sucedidos quanto foi para você.
Alcina Maria Silva Azevedo – Quanto a sua pergunta em ser bem-sucedida, eu respondo que nem sempre é aquele escritor que ganha dinheiro com seus livros, mas é aquele que toca os corações das pessoas com suas mensagens. O dinheiro é uma consequência, mas não é o essencial. Evitar também competir com os outros, pois cada um tem o seu próprio estilo, e irá agradar o leitor que se identificar com o que você escreve. Aceitar críticas, pois elas nos levam a reflexionar muitas vezes no que devemos mudar. Valorizar seus colegas e divulgá-los. E finalizando digo que tudo volta ao ponto de partida, que é a Eterna Criação da nossa vida! Um beijo a todos que lerem esta entrevista, e meus profundos agradecimentos a você.
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Celso Ricardo é mineiro da cidade de Liberdade, mas radicado em Fervedouro, também em Minas Gerais, desde o ano de 1999. Formando em Administração de Empresas; Bacharel em Teologia, Pedagogia e Bacharel em Direitos Humanos com Ênfase em Ciências Sociais. Possui ainda especializações e Pós-Graduação em: Gestão Ambiental; Gestão Pública pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais; Psicanálise, Acupuntura, Ciências da Religião, Maçonologia – História e Filosofia e MBA em Gestão Empresarial. É Dr. h.c. Administração pela Logos University In. e Dr. h.c. em Educação pela Faculdade de Ciências Médicas e Jurídicas – FACMED. Servidor público de carreira trabalha há mais de 20 anos na área de saneamento básico. Professor designado pelo Estado de Minas Gerais, leciona para cursos técnicos na área de Administração de Empresas e afins. Possui 11 livros publicados e já participou de 46 antologias literárias, sendo que frequentemente organiza antologias objetivando divulgar a literatura. É membro de diversas academias literárias, como a FEBACLA, ACLA-MG; Academia Volta-Redondense de Letras e outras.