Há muito tempo não me lembrava da alegria de morar na rua do sapo, ali, onde os sapos Cantavam no brejo que ficava do outro lado, lá nos fundos da casa de frente com a minha! A casa da Belinha…
Rua do sapo, onde a criançada fazia a festa; onde brincávamos até ficar escuro pra finalmente jantar e dormir. Minha mãe sempre atenta, nunca deixava a gente dormir sem tomar banho, às vezes o cansaço era tanto, que até tentávamos fingir, sim, fingia que dormia! Mas minha mãe não facilitava e gritava: Vai tudo pro banho cambada!
Nós numa preguiça “braba” levantava de onde nós estávamos e começava a discussão pra ver quem entrava pro banho primeiro; era um verdadeiro alvoroço, todos trancando a entrada da porta pro banheiro…
Minha mãe vinha de lá, com uma “chinela” na mão; pronto,” tá resolvida à confusão”; o irmão mais velho tem mais direito porque ele trabalha e vocês não!
Eu sempre ficava brava, mas permanecia calada, afinal, naquele tempo havia respeito, aí de nós se retrucasse; o chinelinho voava longe até alcançar o alvo certo; que com certeza não seria eu, porque eu era brava, mas não era boba.
Quando o dia raiava, a mamãe lá da cozinha chamava: _Bora acordar pra ir pra escola, tá na hora, corre porque senão vocês se atrasam!
Tempo bom que não volta mais!
Ainda lembro-me muito bem do dia que não tínhamos dinheiro pro pão, saíamos cada um, com um ovo cozido na mão. Pão; era quase que dia sim e outro dia não, era só quando tínhamos mesmo, condição…
Quando era recreio na escola, saíamos correndo pra fila da merenda; êta comida boa! Não dá pra esquecer jamais! Quando chegávamos da escola, eu de chinelo e meus irmãos de “quichute” a gente corria pra rua do sapo, brincar de pique-esconde; pega-pega e bandeirinha, uma turminha “zuerenta” mais muito divertida, que alegrava muitas vidas.
Ao anoitecer, começava a cantoria, os sapos faziam a festa, os grilos invejosos cantavam mais alto pra acabar com a alegria, mas os sapos continuavam a cantar, até quase um novo dia raiar. A rua do sapo agora é mais habitada, novas casas foram feitas, e o brejo já não existe, resta uma saudade que persiste em levar-me sempre de volta a rua do sapo.
Saudade do cantar alegre daqueles bichinhos, que alegraram a minha infância.
Verônica Moreira
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Verônica Kelly Moreira Coelho, natural de Caratinga/ MG, é mais conhecida no meio cultural e acadêmico como Verônica Moreira. Autora dos livros ‘Jardim das Amoreiras’ e ‘Vekinha Em… O Mistério do Coco’. Baronesa da Augustissima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente. Acadêmica Internacional e Comendadora da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências Letras e Artes e Delegada Cultural. Acadêmica Correspondente da ACL- Academia Cruzeirense de Letras. Acadêmica da ACL- Academia Caxambuense de letras. Acadêmica Internacional da AILB. Acadêmica Efetiva da ACL- Academia Caratinguense de Letras. Acadêmica Fundadora da AICLAB e Diretora de Cultura. Embaixadora da paz pela OMDDH. Editora Setorial de Eventos e colunista do Jornal Cultural ROL e colunista da Revista Internacional The Bard. Coautora de várias antologias e coorganizadora das seguintes antologias: homenagem ao Bicentenário do romancista e filosofo russo Fiódor Dostoiévski, Tributo aos Grandes Nomes da Literatura Universal e Antologia ROLiana. Instagram: @baronesa.veronicamoreira