Primeira igreja brasileira a ter uma Via-Sacra da cultura africana
No ano de 2014, fui convidado pelo padre Renato Dutra Borges SDN, em visita ao país, a representar uma Via-sacra com motivos africanos. O Missionário Pe. Renato se preparava para regressar a Angola e seu plano inicial era que as obras compusessem a nova igreja na paróquia que assumira naquele país. Para ajudar na elaboração do projeto, Pe. Renato enviou para mim por e-mail, as obras do artista plástico e escritor africano Samuel Bullen Ajak Alier, autor de diversas obras sacras e do livro “African Posters To Teach The Bible Guide Book – Nairobi, Kenya, 2002”. São de Samuel Alier as obras presentes no livro “Via Sacra” de Cristóvão Owczarek, que me inspiraram a dar início à confecção das 15 telas, fazendo uma releitura do trabalho de Samuel Alier.
Utilizando a técnica mista de desenho a carvão e pinturas com tinta acrílica e aquarela sob papel eucatex, a pintura apresenta paisagens que remetem à África e todos os personagens retratados são negros. Dispostos em armações de madeira, cada peça mede 70cm por 50cm. De todo trabalho realizado, que recebeu o título de Via-Sacra da Cultura Africana, 14 telas foram doadas e estão expostas na Igreja de Nossa Senhora Aparecida, pertencente à Paróquia de São Lourenço de Manhuaçu.
A obra foi finalizada em 2014, todavia, por questões burocráticas ligadas ao envio das peças, Pe. Onésio Magno da Silva, que assumira a responsabilidade do transporte, uma vez que Pe. Renato já se encontrava em missão, não conseguiu transportá-las para a Paróquia Santo Antônio de Nana Candundo, em Kavungo, Moxico no país de Angola.
Em seu lugar, Pe. Odésio levou cópias impressas em lona das obras, que foram dispostas conforme o pároco pretendia, nas paredes da nova igreja em Kavungo. O original ficou comigo pois a igreja não havia pago pelos serviços, ficando somente com as cópias que foram impressas e doadas por mim ao Pe. Odésio.
Em 2017, a organização RankBrasil Livros dos Recordes Brasileiros reconheceu o meu ineditismo e pioneirismo da minha obra no país, concedendo-me o recorde de primeiro brasileiro a pintar uma Via-Sacra Africana. Em 11 de outubro daquele mesmo ano, Santos formalizou a doação da obra à Igreja de Nossa Senhora Aparecida (Paróquia de São Lourenço), durante as comemorações dos 300 anos da Aparição da Imagem de Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil, em missa presidida pelo Pe. Aureliano de Moura Lima – Superior Geral dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora – SDN.
No ano de 2018, o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Manhuaçu – COMPAC, realizou o inventário das 15 obras da Via-Sacra Africana e posteriormente solicitou que fosse feito um Dossiê de Tombamento como Bem Imóvel por integrar a Igreja Nossa Senhora Aparecida como a 1ª Igreja do Brasil a ter uma via sacra baseada na cultura africana. O tombamento do Quadros da Via-Sacra Africana teve como objetivo salvaguardar o conjunto de obras de arte de extrema importância para a comunidade do município de Manhuaçu, principalmente aquele que visitam com frequência a Igreja de Nossa Senhora Aparecida e lá, expressam sua fé. A Via-Sacra fica permanentemente exposta nas paredes internas da Igreja, acessível a qualquer visitante. A doação do conjunto de obras teve grande relevância para a comunidade, pois a Igreja contava com pouquíssimas obras sacras.
O conjunto artístico, além de seus atributos técnicos e estéticos, possui grande simbologia, uma vez que pode ser considerado o único conjunto representativo da Via-sacra da cultura africana no Brasil, configurando um importante marco cultural para o município. Ademais, a obra tem a intenção de reforçar a pluralidade de culturas que formam a nossa sociedade, principalmente da cultura negra, que historicamente vem sendo tratada de forma coadjuvante em relação aos bens culturais provindos da herança europeia. Dessa forma, a obra de arte reafirma os valores e a importância da cultura africana e se presta como um instrumento de reconhecimento e de resistência negra.
No ano de 2020, o Conselho COMPAC finalizou o processo administrativo de tombamento definitivo da Via-sacra Africana e a Prefeitura homologou através do Decreto nº461 de 01 de dezembro de 2020 em conformidade com os fins estabelecidos na Lei nº2.219/2000, que estabelece a proteção do patrimônio cultural e histórico do município de Manhuaçu/MG.
Por Fabrício Santos – Artista Plástico/Diretor Municipal do Patrimônio Cultural de Manhuaçu e Presidente do COMPAC 2021-2023.
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Comendador Fabrício Santos, é natural de Munhuaçu (MG). Artista Plástico/Restaurador filiado ao SINAP-ESP e AIAP – UNESCO registro nº 2161/14, Graduado em Pedagogia pela UNOPAR/CEM, 2ª Licenciatura em História pela CESUAR/FIAR, Bacharel Livre em Teologia pela FATE/SP, Auxiliar Técnico em Metalurgia – CEFET/ES, Cursando Arquitetura e Urbanismo pela UNIFACIG, Pós-graduado em Literatura, Cultura e Arte na Educação – FACEC, Pós-graduando em Filosofia e Direitos Humanos – FAVENI, Especialização em Arteterapia e Musicoterapia pelo Ensino Nacional-EAD, Certificação em Artes Decorativas – Projetos de Ambientação, Designer de Interiores, Pintura Decorativa e Restauração, pelo Projeto Mural Color-Rio de Janeiro/RJ. Presidente Fundador da ACLA/MG cadeira nº01, acadêmico efetivo e Benemérito da FEBACLA cadeira nº06, acadêmico efetivo cadeira n°03 da Academia Manhuaçuense de Letras e acadêmico efetivo da ALEPON cadeira n°37. Embaixador da Paz e Diretor da Secretaria Nacional de Educação e Cultura da OMDDH. Representante no CIAB – Circuito Internacional de Arte Brasileira em 11 países(Alemanha, Polônia, Áustria, Hungria, Itália, Portugal, Espanha, Hungria, Eslováquia, Holanda, República Dominicana). Penta-Recordista (RankBrasil). Diretor/Presidente do GOTLAND Instituto Cultural de Educação e Artes de Manhuaçu/MG. Membro do Lions Clube Cibernético Ecológico -LC12. Colunista do Portal Zona da Mata News.