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Marcus Hemerly: O Cineclubismo e uma Homenagem a um Filho de Cachoeiro

Marcus Hemerly relembra a trajetória e homenageia Jece Valadão que apesar de ter nascido em Murundu distrito de Campos dos Goytacazes/RJ, morou em Cachoeiro do Itapemirim-ES em sua infância e adotou a cidade sendo reconhecido como ilustre morador e notável Cachoeirense por adoção. No início de 2000, foi fundado na cidade Cachoeiro do Itapemirim-ES o Cineclube Jece Valadão em homenagem ao cidadão mais famoso, assim objetivando apresentar essa importante instituição Marcus Hemerly entrevista Lucas Schuina que conta um pouco da história e objetivos do cineclube. Para saber mais clique em VALADÃO.

Marcus Hemerly: O Cineclubismo e uma Homenagem a um Filho de Cachoeiro

No dia 24 de julho, aniversariou um querido e notável Cachoeirense por adoção. Natural de Murundu, distrito de Campos dos Goytacazes/RJ, Gecy Valadão, futuramente conhecido como Jece Valadão no meio artístico, foi um dos grandes responsáveis pela popularização do cinema nacional. Com a alcunha de eterno cafajeste, em alusão ao reiterado perfil de personagens por ele interpretados, gravitou igualmente bem no papel de mocinho, vilão clássico e anti-herói, ainda que tenha dito certa vez: “A única vez que fiz mocinho me arrependi amargamente. Todos os personagens que fiz não são mocinhos nem galãs”.

Impossível não lembrar do bicheiro Boca de Ouro (1963), na produção de mesmo título, Otávio, o publicitário boêmio mas com veia romântica, de O Enterro da Cafetina (1971), e A Filha de Madame Betina (1973), além do personagem real Mariel Mariscot de Mattos, protagonizado por Jece no polêmico Eu Matei Lúcio Flávio (1979), retratando a era do esquadrão da morte.

Em meio à evolução da sétima arte no Brasil, tivemos importantes movimentos ou tendências no formato e propostas das produções, tais como o cinema novo, classificado como mais reflexivo e intelectualizado, em contraposição ao cinema marginal produzido na Boca do Lixo paulistana, por exemplo, retratando a linguagem mais crua e realista das ruas e do cotidiano. Nessa linha do tempo, imperioso reconhecer um misto do chamado cinema de entretenimento àquele combativo e expressivo, em uma conjugação extremamente aprazível e que rendeu frutos. Anselmo Duarte é conhecido por ter levado o nome do Brasil ao mundo ao receber a Palma de Ouro em Cannes pelo fantástico O Pagador de Promessas (1962). Porém, no mesmo ano, a bandeira verde e amarela foi hasteada novamente no cenário europeu com a película Os Cafajestes.

A produção roteirizada e dirigida por Ruy Guerra, protagonizada por Jece Valadão, Daniel Filho e a Bela Norma Bengel, imortalizada na primeira cena de nu frontal do cinema brasileiro, concorreria ao Urso de Ouro em Berlim, atraindo o olhar dos participantes pelas técnicas narrativas.

Conhecido por inúmeros trabalhos na TV, Jece sempre dedicou sua carreira de maneira precípua ao cinema e teatro, revelando em uma de suas entrevistas que apesar de revelar-se um dos meios mais massificantes no quesito projeção, a televisão tinha, de igual forma o poder de destruição, reduzindo o ator, não raro, a uma das peças e engrenagens da televisão. Com uma filmografia extensa, o ator, diretor, produtor e roteirista, durante muitos anos à frente da Magnus Filmes, não relegou sua paixão mesmo em seus últimos anos, já convertido ao protestantismo, participando do último filme da saga do personagem Zé do Caixão, criação do saudoso José Mojica Marins, A Encarnação do Demônio, no papel do coronel Claudiomiro Pontes.

Apesar de nascido em terras fluminenses, pode-se dizer que o ator era cachoeirense por adoção, tendo morado na princesa do sul quando seu pai, então ferroviário, se mudara com a família para o município capixaba. No início dos anos 2000, foi fundado na cidade um cineclube que leva o nome do ilustre morador de outrora, cuja inauguração contou com a presença de Jece, em 2006. Decerto, o cineclubismo, nasce de forma paralela à própria evolução das imagens em movimento, com registros de suas origens ainda nos anos vinte, na França. O escopo, difundir, discutir e, mais do que tudo, compartilhar o amor pelo cinema, numa troca constante de conhecimento, percepções, provocações intelectuais e sensíveis, pois a arte e a capacidade de se emocionar é o diferencial e a beleza do ser humano.

            É nesse tom que conheceremos um pouco da instituição no município de Cachoeiro de Itapemirim/ES, também famoso por presentear o Brasil e o mundo com representantes em vários segmentos das artes, como a música, literatura e pintura, por entrevista gentilmente concedida por um dos membros, Lucas Schuina.

Homenagem ao membro fundador Beto Souza, 2021.

1) Como surgiu a ideia de fundar um cineclube em Cachoeiro de Itapemirim e quais foram os desafios para sua implementação?

O Cineclube Jece Valadão partiu de uma iniciativa da então gestão da Prefeitura de Cachoeiro de incentivar ações relacionados ao cinema no município. O primeiro desafio, por parte das pessoas que estavam mais ligadas à iniciativa na época, foi chegar ao entendimento do cineclubismo como uma prática coletiva, que envolve um modo de lidar com os produtos audiovisuais de forma bastante distinta do que ocorre com um “cinema de arte”, por exemplo. Depois, foram surgindo os desafios naturais de uma organização cultural que, a despeito do incentivo inicial do poder público, sempre se constituiu como uma entidade independente, e que, portanto, precisa caminhar com as próprias pernas. Beto Souza, membro fundador do Cineclube Jece Valadão, explica como foi o processo de implementação em entrevista que pode ser acessada pelo seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=ypCx_VlpUHg&t=1069s

 

2) O cineclube leva o nome de um famoso Cachoeirense por adoção, houve um contato inicial com o Jece Valadão durante o processo?

Sim! Inclusive, o próprio Jece esteve presente na sessão de fundação do cineclube, em 22 de junho de 2006, e deu de presente o DVD autografado de um de seus filmes. Ele também estava em contato com os integrantes do cineclube para a realização de algumas atividades, mas, infelizmente, faleceu em novembro daquele mesmo ano.

 

3) Quais são as atividades desenvolvidas pelo cineclube e as adaptações diante da pandemia?

O Cineclube Jece Valadão realiza sessões, mostras e festivais de cinema, produz vídeos focados em aspectos históricos de Cachoeiro, organiza oficinas e atividades de capacitação e apoia a realização de ações culturais diversas, além de publicar a sua revista própria, sem uma periodicidade definida., a décima edição foi publicada no início deste ano.

Com a pandemia, todas as nossas ações tiverem que ser adaptadas ao ambiente virtual, e até mesmo reuniões internas de organização tem sido feitas de forma remota. Inclusive, realizamos, de 24 de maio a 6 de junho deste ano, o 1º Festival Tela Curta Cachoeiro, evento online com exibição de curtas-metragens de diversos locais do Brasil (www.telacurtacachoeiro.com).

 

4) Atualmente quantas pessoas compõem a diretoria e quais suas atribuições?

Atualmente, temos um grupo de cinco pessoas que estão mais à frente das ações do cineclube: Lucas Schuina, Jéssica Grillo, Tamiris Marchiori, Victor hugo Amorim e Beto Souza. Por uma série de questões, não se trata, nesse momento, de uma diretoria constituída formalmente. É um grupo de pessoas que realiza, de forma conjunta, as ações de produção dos eventos do cineclube e divulgação das ações nas redes sociais e na imprensa.

 

5) No cenário contemporâneo, ainda existe um interesse muito grande pela sétima arte, no entanto, mais voltado para as facilidades dos serviços de streaming. Nesse passo, qual seria a importância de fomentar a cultura do cineclubismo e o ato de frequentar as salas de cinema?

O cineclubismo é muito mais do que reunir pessoas para assistir filmes. Por meio dos cineclubes, os cineclubistas têm a oportunidade de pesquisar novos filmes, escolher o que exibir, debater entre si, confraternizar, planejar ações coletivamente.  Algo bem diferente do que é proporcionado pelo cinema (inclusive as salas alternativas) e o streaming, em que há, em termos gerais, basicamente uma relação de consumo, na qual o exibidor oferece opções para os espectadores compararem, de acordo com o seu gosto. No caso das plataformas de streaming, existe, adicionalmente, o dilema dos algoritmos, que fazem com que os consumidores fiquem sempre consumindo o mesmo tipo de produto.

Não podemos deixar de destacar, também, que apesar de todas as ótimas facilidades contemporâneas, muitas pessoas não têm condições de pagar ingresso para assistir a um filme no cinema ou pagar pelas plataformas de streaming. Em várias cidades, nem mesmo existem salas de cinema e, em alguns locais, há dificuldade de conexão com a internet.

Nesse sentido, o fomento ao cineclubismo é uma forma de incentivar: a diversidade cultural, buscando fugir à padronização da indústria cultural e promovendo o direito de fruição dos bens culturais por todas as pessoas; o protagonismo do espectador, dando-lhe a possibilidade de ter um papel ativo na programação dos filmes; o diálogo democrático e a confraternização por meio do cinema e das artes em geral. Essas são questões particularmente importantes para os tempos atuais, de ataques ao setor cultural e de ameaças à democracia no Brasil.

 

6) Num mundo povoado por pessoas sensíveis mas tolhidas de sua integral sensibilidade pelos pesares do cotidiano, a arte seria um escapismo ou uma real necessidade, principalmente no quadro tormentoso no qual estamos vivendo?

A arte atende a uma real necessidade de expressão do ser humano e pode servir para muitas coisas, inclusive como consolo ou afago em tempos tormentosos.

 

7) Fale-nos um pouco sobre os projetos futuros do cineclube e convide os leitores a conhecerem mais a história e suas atividades no município de Cachoeiro de Itapemirim.

O cineclube deverá realizar um evento comemorativo de 15 anos ainda em 2021, tudo dependerá  da situação da pandemia e de outras questões. Também pretendemos fazer outras ações em breve, como sessões e atividades de capacitação.

Quem quiser participar do cineclube, é só entrar em contato com a gente pelo e-mail cineclubejecevaladao@hotmail.com, ou então pelas nossas redes sociais, onde sempre divulgamos as nossas ações. Temos também um blog, com diversos textos e informações sobre o cineclube. No nosso canal no YouTube, tem os documentários que a gente já lançou e gravações de debates e as nossas revistas também podem ser conferidas pela internet. Os links das nossas páginas na internet estão reunidos aqui: https://linktr.ee/cineclubejecevaladao.

Marcus Hemerly
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