Celso Lungaretti: ‘QUANDO FOR AFASTADA, DILMA BATALHARÁ PARA QUE O BRASIL SEJA SUSPENSO DO MERCOSUL’
Por Celso Lungaretti, no blogue Náufrago da Utopia.
A ainda presidente Dilma Rousseff, face à horrorosa repercussão do que jamais deveria ter cogitado e muito menos anunciado, recuou de sua intenção de fazer demagogia barata contra o impeachment numa reunião da ONU dedicada a desafios climáticos como o aquecimento global (e não à cabeça quente de algum participante).
Mas, não poderia retornar dos EUA sem dar o habitual tiro no pé. E foi dos piores: falando à imprensa, ameaçou recorrer à cláusula democrática do Mercosul caso seja afastada do poder pelo Senado. Sua retórica foi ruim na forma e péssima no conteúdo:
“Eu alegarei a cláusula inexoravelmente… de fato (se houver) a partir de agora uma ruptura do que eu considero processo democrático“.
Assim, a partir de agora, ele se arroga a condição de única juíza do que seja ou não democrático. Acima da Constituição, do STF e do Congresso Nacional. Durante a ditadura os militares pensavam com seus botões mais ou menos isso, mas nem mesmo um Médici teve a coragem de afirmá-lo em alto e bom som!
Se houver ruptura do que Dilma considera ser o processo democrático, ela vai fazer tudo ao seu alcance para atrair o dilúvio sobre nós. Depois de arrastar o Brasil à pior recessão da História, ela quer aprofundá-la erguendo obstáculos ao comércio internacional do País.
O último argumento que lhe resta, portanto, é este: “Ou vocês me engolem ou engolirão pedras, pois vou deixá-los na miséria!”.
Mas, como nada do que ela pretende e tenta tem se tornado realidade, o melhor mesmo é pagarmos para ver.
Eu que, pelo contrário, tenho acertado em quase tudo que prevejo, antecipo sem medo de errar: o Brasil NÃO será suspenso. O Mercosul também vai deixar a Dilma falando sozinha.
Desabafo de Dalton Rosado |
O DESVIRTUAMENTO DE PRINCÍPIOS
No tempo da ingenuidade, que todos temos pois ninguém nasce experiente, eu acreditava que poderia haver partidos políticos que respeitassem as opiniões divergentes na busca da melhor solução para os problemas sociais. Cheguei à conclusão que isso não é possível, pois o poder corrompe e a continuidade no poder corrompe muito mais.
Foi imbuído do sentimento de credulidade ingênua que ajudei a criar o PT em Fortaleza e, por extensão, no Ceará. Era o ano de 1981. A vida nos ensina e retira de nós a ingenuidade, mas podemos preservar a pureza de sentimentos. É o que tento fazer.
Advogado defensor de quem era preso pela Polícia Federal; de favelados despejados de suas moradias; de sindicatos que sofriam intervenções ditatoriais; e defensor da anistia aos presos políticos e redemocratização, entre outras lutas, vivi um período em que as diferenças no campo ideológico da esquerda eram mascaradas por um objetivo comum: derrubar o regime militar e restaurar o estado de Direito.
A direita e a esquerda se aliaram no ataque á administração popular de Maria Luíza, que terminou o seu mandato graças à tenacidade de muitos combatentes revolucionários que se ombrearam em sua defesa. Ali já ficava claro o rumo político de conciliação com a burguesia que o PT iria tomar objetivando o acesso e a tentativa de permanência no poder. Fomos expulsos do PT.
Assim, relembremos como Lula respondeu a uma pergunta sobre nós no programa Roda Viva:
AUGUSTO NUNES: Lula, por que o candidato [apoiado por] Maria Luiza [Dalton Rosado, do Partido Humanista], nesse caso, teve 3% dos votos? Você acha que o povo foi tão ingrato assim?
LULA: Em Fortaleza, a grande briga que houve -e a imprensa publicou com certa dosagem de razão-, o grande problema que existia era a briga entre o partido e Maria Luiza. Porque a companheira Maria Luiza -eu não tenho procuração; não tive para defendê-la, como não tenho para acusá-la- entendeu que o partido não existia e não houve relacionamento com o partido.
Ou seja, não é que o partido quer administrar, mas o partido tem responsabilidade perante a sociedade, porque é ele que responde para a sociedade; e, quando o partido tenta elaborar um projeto, o partido não elabora um projeto para a prefeita cumprir ou para o prefeito cumprir, o partido elabora um projeto para ser discutido no centro da sociedade como proposta partidária. E é exatamente aí que trombaram PT e Maria Luiza, e é por isso que ela se afastou do partido e saiu muito desgastada.
Está aí o resultado. E por que ela saiu do PT? Porque ela imaginava que, no PT, ainda se podia fazer política na base do coronelismo, ou seja, alguém, por ser famoso, coloca um candidato debaixo do braço e, a partir daí, obriga o partido a aceitar. Ela tentou impor um candidato, o partido tinha feito uma coligação democraticamente discutida no partido e o partido resolveu indicar outro. O que aconteceu? O partido provou que estava certo e que a Maria Luiza tinha entrado num barco furado.
ADMINISTRAÇÃO POPULAR x CONCILIAÇÃO
DO PT COM AS FORÇAS CONSERVADORAS
A verdade é que Maria Luíza foi a primeira prefeita mulher de uma capital e a primeira vitória do PT para um cargo executivo importante. Isto sem contar com nenhum vereador e sem que as capitais tivessem autonomia financeira (pois funcionavam como secretarias do Estado, uma vez que até então os prefeitos eram escolhidos pelos governadores, distorção que somente foi superada pela Constituição de outubro de 1988, cuja entrada em vigência se deu em 1989, após o fim do seu mandato).
Assim, lutou com imensas dificuldades e, inclusive, com a oposição de parte do PT local e nacional, pois a prefeita não aceitava compactuar com métodos de administração tradicionais (o habitual toma-lá-dá-cá).
Ademais, havia uma divergência ideológica com parte do PT local e nacional, pois o grupo de Maria Luíza tinha orientação marxista, e os marxistas estavam sendo perseguidos pelo grupo Articulação, do Lula. Muitos marxistas aderiram ao lulismo petista (José Dirceu, José Genoíno, Tarso Genro, José Guimarães e outros) e escaparam da degola. A expulsão da Maria Luíza, juntamente com o seu candidato à sucessão (eu, Dalton Rosado), que tinha amplas chances de vitória interna, no diretório municipal, deu-se por decisão de cúpula do diretório regional, obedecendo a orientação do diretório nacional, pela não aceitação da postura política e administrativa do seu grupo.
A conciliação do PT nacional com segmentos tradicionais e seus tradicionais métodos começou a se evidenciar a partir daí. Além da perseguição petista, da oposição de partidos como o PCdoB e hostilização que sofria da imprensa tradicional, a chamada Administração Popular sofreu a perseguição dos governos Tasso Jereissati (estadual) e do José Sarney (federal) num momento de forte dependência econômica e tributária a esses governos.
Daí decorreram graves dificuldades de administração, que lhe acarretaram impopularidade, mas pôde equilibrar as finanças públicas municipais, de modo a que o seu sucessor, Ciro Gomes, encontrasse uma prefeitura saneada e apta a receber os inúmeros projetos que se encontravam encalhados no Governo Federal (além de poder com a nova realidade de recursos financeiros estabelecidos na nova Constituição). Ciro Gomes se beneficiou dessa condição inicial, pois subiu meteoricamente de prefeito para Governador em apenas um ano de mandato.
Assim, não é verdade que eu, Dalton Rosado, advogado de causas populares e militante do PT desde 1981, secretário de Finanças da Administração Popular, fosse um candidato de algibeira, como se diz no jargão dos coronéis do sertão. Os fatos estavam em desacordo com a afirmação de Lula.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.