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Marcus Hemerly: 'Os musicais no cinema, o silêncio que ganhou voz'

Marcus Hemerly

“Esperem um minuto, esperem um minuto! vocês ainda não ouviram nada.”

Personagem Jack Robin, interpretado por Al Jolson em O Cantor de Jazz

Gene Kelly, na icônica cena de Cantando na Chuva, de 1952

Existem algumas correntes de pensamento pelas quais o verdadeiro cinema se descortinaria em sua modalidade silente, pela qual as emoções e a trama são transmitidas, tão somente, pela pantomima intercalada por eventuais intertítulos inseridos entre as cenas. Em outras palavras, a verdadeira habilidade de atuação pela interpretação sem o auxílio de diálogos. Philip Kemp, em “Tudo Sobre Cinema”, comenta: “O silencio, portanto, não era uma limitação. Para muitos estetas e teóricos do cinema, a singularidade dos filmes estava precisamente em sua capacidade de contar uma história somente por meio de imagens”, (Rio de Janeiro: 2011. Editora Sextante, pag.68).

Respeitadas opiniões diversas, importante lembrar que mesmo em sua formatação muda, o cinema contava com trilha sonora – ainda que de forma rudimentar e improvisada – quando pianistas e outros músicos emprestavam a sonoridade em tempo real tocando nos cinemas e teatros, enquanto o público se deliciava com as imagens em movimento projetadas nas telas.

O cinema funciona como um espelho que reflete as feições da sociedade em cada período por ele retratado, atuando a música, como um próprio coadjuvante nesse processo de interação entre a fita e o público; numa risada, uma lágrima fugidia ou um esbravejar de frustração. Com o lançamento do filme “O Cantor de Jazz” em 1927, de Alan Crosland, primeiro filme falado da história, ao alternar o vaudeville e o melodrama, deu-se início a uma revolução pela qual, inclusive, muitas das estrelas veteranas tiveram suas carreiras destruídas pela não adaptação ao novo modelo que se delineava.

                                

Tal cenário é bem retratado no filme “Cantando na Chuva” de 1952, que não é apenas um dos maiores clássicos de todos os tempos, mas talvez o mais popular dos musicais, além de demonstrar muito bem, e de forma irreverente, a problemática enfrentada pela classe artística naquele momento de transição.

O início do século 20 para o cinema, foi marcado pelos períodos/movimentos do expressionismo, surrealismo, neo-realismo, nouvelle vague, film noir norte norte-americano – atualmente classificado como um gênero autônomo – cada qual, retratando por meio de suas peculiaridades, a verve criativa em suas nacionalidades e influências. Naquele cenário, o público já se encantava com a dupla Nelson Eddy e Jeanette MacDonald e com Fred Astaire e Ginger Rogers dançando ao som de “Cheek to Cheek”, em “O Picolino”, nos anos trinta e quarenta, que serviu ainda se receptáculo histórico ao lançamento de “O Mágico de Oz”, em 1939.

No entanto, o fervilhar de produções musicais de maior orçamento seriam realizadas nos anos 50 e 60, e dessa forma, impossível não lembrar dos malabarismos dançantes de Gene Kelly e Frank Sinatra em filmes como “Marujos do Amor” e “Um dia em Nova York|”, o aludido “Catando na Chuva”, bem como o apaixonante “My Fair Lady” (1964) com Audrey Hepburn, ou da diva nadadora, Esther Williams. Outras produções de peso que ainda permeiam o imaginário e as lembranças dos apaixonados pela sétima arte são títulos como “Sete Noivas Para Sete Irmãos” (1954), “Alta Sociedade” (1956), “Mary Poppins” (1964) e “A noviça Rebelde” (1965), estes últimos protagonizados pela encantadora Julie Andrews.

Nas décadas vindouras, os musicais perderiam um pouco do colorido, nas quais os blockbusters policiais, de aventura, e suspenses dramáticos dominariam o gosto popular, com os melhores trabalhos de diretores como Brian de Palma, Martin Scorsese, Steven Spielberg, George Lucas e Francis Ford Coppola. Curiosamente, Scorsese dirigiria no ano de 1977, o fabuloso “New York, New York”, com Robert De Niro e Liza Minnelli, atriz que se destacaria também por Cabaret, em 1972 – cuja canção original, composta por John Kander e Fred, estenderia seu estrondoso sucesso e seria interpretada por inúmeros ícones até a atualidade. Afinal, como já disseram, um clássico é imortal.

                                

A tendência dos filmes cantantes seria ressuscitada nos anos 2000 em diante, inclusive com produções vencedoras de importantes premiações e indicações ao Oscar, como Hairspray e Mamma Mia, lançados em 2008, e, recentemente, os festejados La la Land, (2016), Bohemian Rhapsody (2018) e Rocketman (2019), processo que constantemente revela astros cantores que se protraem de seu nicho de conforto, não apenas ampliando potencialidades artísticas, mas também, brindando as audiências com surpresas aprazíveis.

Antes do início da pandemia, o MIS – Museu da Imagem e do Som de São Paulo, iniciou a exposição “Musicais no cinema” de idealização do Musée de la Musique – Philharmonie de Paris, numa imersão musical ao cinema nacional e internacional. Numa visita à bela exposição, impossível não sair convicto de que a música e um enredo bem composto, são uma junção completa e complexa que amalgamam formas de arte numa nova roupagem única e individual. Então, quando deparar-se com um momento moroso, cante na chuva, acompanhe os marujos do amor em uma incursão à Big Apple, ou mergulhe em uma piscina de emoções com a sereia Esther Williams. Afinal, sonhar, assim como recordar, é viver.

 

 

 

 

 

Sergio Diniz da Costa
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