novembro 22, 2024
Cansaço
A força dos ipês: mais que uma reparação
O reconhecimento que não alimenta professores…
Conversa de bêbados
Membrana, de Maurício Limeira
Vernissage de exposição artística
Dia da Bandeira
Últimas Notícias
Cansaço A força dos ipês: mais que uma reparação O reconhecimento que não alimenta professores… Conversa de bêbados Membrana, de Maurício Limeira Vernissage de exposição artística Dia da Bandeira

Andreia Caires: 'Sapos'

image_pdfimage_print
Andreia Caires

Sapos

Eu já tinha passado por problemas de saúde e alguns relacionamentos fracassados.

Então, pensava: ‘Azarada era eu…’. Minha mãe sempre detestou que pronunciássemos palavras negativas como essa de ‘azar’ ou ‘azarada’. ‘Palavras têm poder!’– ela dizia.

Mas o que dizer de uma pessoa que já acordava levando titica de passarinho na cabeça? Que arrebentava a correia da sandália e tinha que terminar de chegar em casa descalça? Alguém que começava um curso e não terminava? Daqui a pouco eu faria 30 nos e, não sabia o que faria da minha vida. Escrever um livro? Nem pensar! Eu havia enterrado aquele sonho e nem ousava abrir as gavetas pra reler meus textos. Tudo porcaria! Ninguém iria querer ler as drogas que eu escrevo!

O que eu queria mesmo era me casar; mas com quem? Já havia deixado de acreditar em contos de fada há muito anos.

Teve sim, a época dourada de criança quando eu fantasiava. Qual a menina que não fazia isso? Pensar na existência de um príncipe encantado em seu lindo cavalo branco de crinas brilhantes e esvoaçantes ao vento. Não se sabia quem era o mais lindo, se o príncipe ou o cavalo.

Bah! Eu sempre estive em perigo e nenhum príncipe apareceu para me salvar não!

Nessa idade, é que eu não iria sustentar uma ideia dessas. “Quem sabe a vida é não sonhar”, como bem cantou Cássia Eller, sobre os príncipes. “Quem sabe o príncipe virou um chato, e um sapo!”.

O pior é que nem bem os príncipe chegam e já nos fazem sofrer. Meros sapos! E sapos são sapos, nasceram sapos e vão morrer sapos na lagoa suja!

Realmente eu não havia nascido para o casamento! A Terra estava infestada de sapos e logo eu estaria velha demais para ousar sonhar com vestido de princesa.

Depois de me martirizar naqueles devaneios, desequilibrei do balanço e caí com a bunda no chão.

Bora trabalhar? Sair dessa ociosidade?

O bom é que o tempo passa e faz-nos enxergar que nunca sabemos ao certo o que nos acontecerá amanhã.  Que a nossa vida cíclica muda constantemente. Mas ‘as pérolas’ da mamãe continuam valendo, principalmente àquela do ‘não cospe pra cima que cai na cara.’.

A minha vida hoje, casada, está longe de ser um conto de fadas, mas os momentos de alegria, companheirismo e cumplicidade valem mais do que meros desenhos da Disney. A prova é que sinto que plantei e cultivei as melhores sementes. Sementes que outrora eu achava que jamais dariam frutos.

 

Andreia Caires

andreiacairesrodrigues@gmail.com

 

Texto extraído do livro ‘O diário da borboleta azul ‘,  de Andreia Caires.

 

 

 

Sergio Diniz da Costa
Últimos posts por Sergio Diniz da Costa (exibir todos)
PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com
Social media & sharing icons powered by UltimatelySocial
Pular para o conteúdo