Sapos
Eu já tinha passado por problemas de saúde e alguns relacionamentos fracassados.
Então, pensava: ‘Azarada era eu…’. Minha mãe sempre detestou que pronunciássemos palavras negativas como essa de ‘azar’ ou ‘azarada’. ‘Palavras têm poder!’– ela dizia.
Mas o que dizer de uma pessoa que já acordava levando titica de passarinho na cabeça? Que arrebentava a correia da sandália e tinha que terminar de chegar em casa descalça? Alguém que começava um curso e não terminava? Daqui a pouco eu faria 30 nos e, não sabia o que faria da minha vida. Escrever um livro? Nem pensar! Eu havia enterrado aquele sonho e nem ousava abrir as gavetas pra reler meus textos. Tudo porcaria! Ninguém iria querer ler as drogas que eu escrevo!
O que eu queria mesmo era me casar; mas com quem? Já havia deixado de acreditar em contos de fada há muito anos.
Teve sim, a época dourada de criança quando eu fantasiava. Qual a menina que não fazia isso? Pensar na existência de um príncipe encantado em seu lindo cavalo branco de crinas brilhantes e esvoaçantes ao vento. Não se sabia quem era o mais lindo, se o príncipe ou o cavalo.
Bah! Eu sempre estive em perigo e nenhum príncipe apareceu para me salvar não!
Nessa idade, é que eu não iria sustentar uma ideia dessas. “Quem sabe a vida é não sonhar”, como bem cantou Cássia Eller, sobre os príncipes. “Quem sabe o príncipe virou um chato, e um sapo!”.
O pior é que nem bem os príncipe chegam e já nos fazem sofrer. Meros sapos! E sapos são sapos, nasceram sapos e vão morrer sapos na lagoa suja!
Realmente eu não havia nascido para o casamento! A Terra estava infestada de sapos e logo eu estaria velha demais para ousar sonhar com vestido de princesa.
Depois de me martirizar naqueles devaneios, desequilibrei do balanço e caí com a bunda no chão.
Bora trabalhar? Sair dessa ociosidade?
O bom é que o tempo passa e faz-nos enxergar que nunca sabemos ao certo o que nos acontecerá amanhã. Que a nossa vida cíclica muda constantemente. Mas ‘as pérolas’ da mamãe continuam valendo, principalmente àquela do ‘não cospe pra cima que cai na cara.’.
A minha vida hoje, casada, está longe de ser um conto de fadas, mas os momentos de alegria, companheirismo e cumplicidade valem mais do que meros desenhos da Disney. A prova é que sinto que plantei e cultivei as melhores sementes. Sementes que outrora eu achava que jamais dariam frutos.
Andreia Caires
andreiacairesrodrigues@gmail.com
Texto extraído do livro ‘O diário da borboleta azul ‘, de Andreia Caires.
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024