Vestido esquecido
Daqui a algum tempo você será como um vestido esquecido no fundo do armário. Um vestido de festa, mas esquecido. Vestido daqueles que não lembramos nem da última vez em que foi usado. Mas, agora não. Agora sinto tristeza, raiva e decepção. Sua partida, sem despedida, foi o que mais me magoou. Você foi covarde. Soube começar o relacionamento com muitos contatos. Todavia, ao partir, nem mesmo uma mensagem por celular. Foi-se, ou melhor, evaporou-se.
Acredito que a maior raiva que sinto é de mim mesma. Raiva por, mais uma vez, ter projetado, em um relacionamento, sonhos que deveria concretizar sozinha. Ou expectativas que eu mesma criei, sem que ninguém tenha plantado a semente. Raiva de ter agido, mais uma vez, como uma adolescente. Mas vai passar. Sempre passa.
A decepção foi contigo e comigo. Você quis ir embora e o término de uma relação é algo a que sempre estamos sujeitos. Isso é previsível. Mas o fato de você não ter tido a mínima decência de avisar, foi de desprezível fraqueza. Decepcionou-me a última vez. Quanto a mim, a decepção é de não ter, de novo, conseguido sustentar uma relação. Tenho que mudar. Isso é certo. Necessito me amar mais do que a qualquer outra pessoa.
A tristeza vem da ideia de ter fracassado. Como se uma conexão fosse um plano que mal tracei, não atingindo meu objetivo. Uma derrota. Outra derrota. Mas vai passar, sempre passa. Logo vislumbro mais um vestido de festa esquecido no fundo do armário…
Patrícia Alvarenga
patydany@hotmail.com
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Natural do Rio de Janeiro/RJ, é escritora e poeta. Trabalha como Analista (área processual) do Ministério Público do estado do Rio de Janeiro. É Bacharel em Letras (UFRJ) e Direito (Uerj), pós-graduada em Educação (UFRJ). Dra.h.c. e Pesquisadora em Literatura. É autora do livro de poemas ‘Tatuagens da Alma – Entre Versos e Reflexões’, editora AIL, publicado neste ano, que foi escolhido como semifinalista do concurso ‘Livro do Ano 2021’, pela Literarte (o resultado do certame ainda não foi divulgado até a presente data). Participou do projeto ‘Parede dos Imortais’, na Casa dos Poetas, em Petrópolis-RJ, através da Associação Internacional de Escritores e Artistas. É coautora de, aproximadamente, 25 coletâneas. Detentora de prêmios literários, títulos e comendas, é também Embaixadora da Paz da Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos – OMDDH.
Membra vitalícia de seis academias literárias: ACILBRAS, FEBACLA, AIML, AIL, ALSPA (fundadora) e AILAP (fundadora). É ativista cultural nas redes sociais e participa de inúmeros saraus literários. Redes sociais:
Instagram: @patriciapoeticamente. Facebook: Patrícia Alvarenga