A serpente multicor
Caminho pelas curvas sinuosas da serpente multicor. O azul, o rosa, o verde, o branco, e outras, misturam-se à cor-de-cimento e ao tijolo virgem, ainda sem tinta.
Ouço seu sibilar; shhhhh… as panelas de pressão já prenunciam a feitura do feijão; o cheiro também denuncia. Vejo gatos nas janelas, roupas penduradas nas grades, as samambaias nas varandas. A cada passo olho para o lado, vejo a decoração de muitas salas: algumas com dois ambientes, outras com somente um pequeno sofá. O contraste entre as luzes apagadas, e a escuridão quebrada com o clarão das TVs, e os tetos repletos de luzes de LED.
Anoitece, mas as crianças ainda jogam bola no meio da rua. A serpente, triste e ao mesmo tempo contente, vislumbra escuras vielas transversais. A idosa sobe as escadas com suas compras no beco escuro. As vizinhas se reúnem no meio fio e colocam a conversa em dia, acompanhadas de seu copo americano de café.
O motoboy sai para entregar os salgados; o outro, os sushis. A serpente efervescente agita-se, ilumina-se, debate-se. A calçada vira estacionamento, a via de mão dupla não comporta dois carros; os rebaixados urram ao baterem em seus incontáveis quebra-molas. São ciclistas, crianças, bolas, automóveis, motocicletas na rua estreita, todos juntos e misturados, fora o ônibus e o caminhão, que passam imprensados.
Algumas horas depois, tudo se faz silêncio; qualquer voz vira eco. A quadra vazia; as ruas sem saída, e as demais, se calam. O bairro fantasma repousa de sua lida. As luzes se apagam e as cortinas se fecham. A serpente multicor com suas curvas sinuosas dorme profundamente sob o manto escuro crivado de estrelas.
Claudia Lundgren
tiaclaudia05@hotmail.com
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Natural de Teresópolis (RJ), é poetisa, escritora e Educadora Infantil. É Acadêmica da ACILBRAS, da AIL e da FEBACLA; é Acadêmica Correspondente da Academia Caxambuense de Letras e da Academia de Letras de Teófilo Otoni, e Membro Efetivo da Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas (SBPA). Também pertence à ALB e a ABC, ambas virtuais. Recebeu Menção Honrosa no I Concurso de Poesia Junina e obteve o 9º lugar no XXXIV Concurso de Poesia Brasil dos Reis, (Ateneu Angrense de Letras e Artes). Foi homenageada com a Comenda Acadêmica Láurea Qualidade Ouro, a mais alta comenda da FEBACLA – Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes e com o Prêmio Cidade São Pedro de Aldeia de Literatura. Participou de dezenas de Antologias Poéticas. No início de 2019 lançou seu primeiro livro solo, ‘Alma de Poeta’ (Editora Areia Dourada), que recebeu o Troféu Monteiro Lobato como o melhor livro de poesia, no evento ‘Melhores do ano 2019’ (LITERARTE), e recentemente, lançou seu segundo , ‘Simplesmente Poemas’, com o selo AIL.