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Letícia Mariana: '‘Um sopro de vida’, uma leitura intensa e atemporal'

Letícia Mariana

‘Um sopro de vida’, uma leitura intensa e atemporal

“Isto não é um lamento”, dizia Lispector ao iniciar a sua obra tragicamente única. O último romance da autora deixou marcas de fossa, e a única bossa presente era o beijo no rosto morto. A obra foi publicada após a sua morte, e isso nos traz arrepios literários, também uma dose assustadora de inspiração, claro.

O livro nos apresenta um autor e seu espelho, sua personagem Ângela Pralini, e ele vivia bem com ela, contudo, a inquietação foi além. É uma grande responsabilidade resenhar Lispector, pois seus escritos me causam um aspecto revolucionário, talvez o mesmo que o meu diário de adolescência, repleto de sangue jovial. Eu costumava conversar com Clarice, isso em meus devaneios, e essa obra me fazia viajar num tempo que não é meu. O autor do livro indaga: “Será que criei Ângela para ter um diálogo comigo mesmo?”. E eu, no caso, pergunto-me: Será que crio essa resenha para ter um diálogo com Ângela?

A maneira como Lispector fala sobre a morte é, de fato, arrepiante. E eu diria que – se não for um pouco de exagero – este é o melhor livro da escritora. Talvez seja trágico afirmar isso, mas a proposta de uma resenha é criticar, opinar e, por mais que eu seja uma real admiradora da Clarice, e que o ‘A hora da estrela’ tenha um lugar em minh’alma, seu livro fúnebre é superior, e não podemos negar. Todas as frases presentes me são, completamente me são no sentido de me pertencerem na memória adolescente, e eu era uma menina sofrida, solitária que escrevia sobre este livro sem mostrar para ninguém, e agora tenho a oportunidade de apresentá-lo como ele é: uma obra-prima menosprezada!

“Depois que eu morrer, Ângela continuará a vibrar. Estátua sempre transladada pelo doido inquietante zumbido de três milhares de abelhas douradas.”

Esta frase é angelical, assim como a personagem de Clarice, compreendem? Quando crescemos, morremos e vivemos, e às vezes ao mesmo tempo. Não é um lamento, certo, Clarice? É uma afirmação da minha resenha, e creio que diz muito sobre Pralini – e seu autor – neste contexto de obra póstuma.

O autor, quer dizer, Lispector, costuma dizer que escrever é sem aviso prévio. Sim, Clarice, afinal, minhas resenhas antigas sobre ‘Um sopro de vida’ se perderam nos moleskines da vida, mas a morte de acontecimentos me fez escrever essa crítica poética atemporal, mostrando que você vive em nós, e Ângela sobrevive nas escadarias de bibliotecas resplandecentes.

No capítulo “Como tornar tudo um sonho acordado?”, há a conversa de Pralini com seu autor, talvez uma conversa que todo escritor sonha em ter, mas nunca conseguiria sustentar. Nas conversas dos dois, pude reconhecer o sopro como ele é, este citado na página 29, na frase:

“E assim recebi o sopro de vida que fez de mim um homem, sopro em você que se torna uma alma.”

O sopro de vida é Ângela, assim como também seria seu criador, numa união intensamente a sós. O autor é a sós, não está, apenas é. Assim como a escrita nos deixa – completamente – a sós conosco. Só que não há só o conosco de nossa existência, sobretudo há o conosco romântico de nossos escritos. Lispector nos trouxe história, reflexão, força feminina e o masculino que a tinha, pois o autor é autora, e a autora é autor, e o sopro é o sopro.

 

Letícia Mariana

leticiamariana2017@gmail.com

 

 

 

Leticia Mariana
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