Feliz Dia de Thoth!
No meu planejamento da coluna desta semana, eu gostaria de falar do primeiro Arcano Maior do Tarô, o Mago. No entanto, uma data comemorativa me interpelou. Nesta semana, mais precisamente na segunda-feira, dia 25 de julho, é comemorado o Dia do Escritor.
Ao saber deste fato (e de ter lido diversos textos bem versados sobre o assunto, onde seria uma injustiça citar um ou outro, logo se esquecendo de muitos), a minha mente sorriu.
Afinal, o Mago que está lá representado na carta do oráculo mais conhecido dos últimos séculos é, nada mais, nada menos, que o primeiro escritor. O próprio inventor da escrita!
“Como assim?”, um leitor curioso me pergunta.
“Deve estar enganado… Não vejo nenhum livro ou lápis nas cartas do Mago nos baralhos de Tarô que tenho”, repara aquela mente taróloga bem versada.
Reza a tradição deste saber ancestral de que o Mago (ou o Mágico de Waite ou o ‘Bateleur’, o Saltimbanco de Marselha) é nada mais nada menos que Thoth, a quem se atribui a criação do baralho de tarô na tradição esotérica. Thoth seria ‘o’ ou ‘um dos’ Psicopompos, seres que possuem a habilidade interdimensional, e teria trazido o tarô como forma de comunicação entre seres.
Sabe qual foi a outra forma de comunicação que Thoth nos deu? Sim, ela… a escrita! E quem nos conta essa história é ninguém menos que o pai da Filosofia, Sócrates, através da pena de Platão. Em seu diálogo ‘Fedro’, Platão, através das palavras que teriam sido ditas por Sócrates, conta como Thoth deu a escrita ao Faraó como um presente à Humanidade. Está lá no final do diálogo:
“SÓCRATES: – Bem, ouvi dizer que na região de Náucratis, no Egito, houve um dos velhos deuses daquele país, um deus a que também é consagrada a ave chamada íbis. Quanto ao deus, porém, chamava-se Thoth. Foi ele que inventou os números e o cálculo, a geometria e a astronomia, o jogo de damas e os dados, e também a escrita. Naquele tempo governava todo o Egito, Tamuz, que residia ao sul do país, na grande cidade que os egípcios chamam Tebas do Egito, e a esse deus davam o nome de Amon. Thoth foi ter com ele e mostrou-lhe as suas artes, dizendo que elas deviam ser ensinadas aos egípcios. Mas o outro quis saber a utilidade de cada uma, e enquanto o inventor explicava, ele censurava ou elogiava, conforme essas artes lhe pareciam boas ou más. Dizem que Tamus fez a Thoth diversas exposições sobre cada arte, condenações ou louvores cuja menção seria por demais extensa. Quando chegaram à escrita, disse Thoth: “Esta arte, caro rei, tornará os egípcios mais sábios e lhes fortalecerá a memória; portanto, com a escrita inventei um grande auxiliar para a memória e a sabedoria.” Responde Tamus: “Grande artista Thoth! Não é a mesma coisa inventar uma arte e julgar da utilidade ou prejuízo que advirá aos que a exercerem. Tu, como pai da escrita, esperas dela com o teu entusiasmo precisamente o contrário do que ela pode fazer. Tal coisa tornará os homens esquecidos, pois deixarão de cultivar a memória; confiando apenas nos livros escritos, só se lembrarão de um assunto exteriormente e por meio de sinais, e não em si mesmos. Logo, tu não inventaste um auxiliar para a memória, mas apenas para a recordação. Transmites para vossos alunos uma aparência de sabedoria, e não a verdade, pois eles recebem muitas informações sem instrução e se consideram homens de grande saber, embora sejam ignorantes na maior parte dos assuntos. Em consequência, serão desagradáveis companheiros, tornar-se-ão sábios imaginários ao invés de verdadeiros sábios.” (FEDRO §274-277)
Essa ambiguidade que possui a escrita também encontramos na carta do início da jornada do Tarô. O Mago pode ser um Mágico enganador ou alguém que desperta a verdadeira magia do autoconhecimento. A mesma coisa com escritores que podem apenas nos iludir com belas palavras ou, com suas histórias e estórias, de fato tocar a nossa alma.
Vocês já pensaram nisso? Eu penso todo dia, seja como psicoterapeuta ou como escritor. Para mim, aliás, as duas coisas são uma só (como vocês já devem ter notado).
Por isso, neste dia, o parabéns não é só para os escritores como eu e vocês. É para aquele que nos permitiu ser isso!
Assim… conclamo com esta bela invenção que é a escrita: um Feliz Dia do Escritor!
E, claro, um Feliz Dia de Thoth, literalmente o Mago da Escrita!
Rafael Venancio
rdovenancio@hotmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024