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Andeia Caires: 'O barulho do rio'

Andreia Caires

O barulho do rio

Eu possuía seis olheiras profundas, três debaixo de cada olho. Chorava dia e noite dizendo: “Deus, eu quero morrer!” Lembrei-me de uma crônica que fiz para o meu segundo livro, “As sementes que plantei”, que falava sobre um ditado antigo que dizia que para um ser humano morrer em paz ele deveria cumprir três regras básicas na vida, que era “plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um livro.”

Eu já plantei árvores. Mais de uma! Já escrevi três livros e, convicta de que não são best sellers, mas, são livros! Meu Deus, só peço perdão por não ter feito um filho. Faltou aquele instinto materno, a vontade de embalar criança, trocar fraldas, ou, talvez, fazer alguns exames pra ver porquê meus óvulos estão tão preguiçosos… enfim, acho que a gestação foi transferida para os ditos livros… O que eu estou querendo dizer é que já posso morrer em paz sem ter de ficar preocupada com esse ditado tão controverso. Chega de enfeitar essa minha vida que nunca foi fácil e sempre me machucou.

Meu pai não está mais aqui! A pessoa que mais me amou nessa vida se foi! Eu não tenho mais aqueles olhos que brilhavam quando me via chegar. Aquele beijo doce, o abraço caloroso… aquela voz no celular que, preocupada, me dizia: “Se precisar de qualquer coisa, ‘fia’, não hesite em nos procurar. Somos sua família e essa sempre será a sua casa.

Meu peito dilacera ao lembrar disso. Do cuidado como se eu ainda fosse uma menininha. Para os pais os filhos nunca crescem mesmo, mas alguns exageram assim como meu velho fazia comigo e com meus irmãos. Quando crianças nos chamava sempre de ‘fofinhos’. “Oi fofinhos!” “Cadê os fofinhos?”. Quando passamos para a adolescência ele parou com o apelido.

Quarenta e cinco anos depois e eu aqui escrevendo para tentar domar a minha angústia através das palavras. O que quase sempre funciona, pelo menos com o meu primeiro livro O Diário da Borboleta Azul, foi assim. Putz! Confesso que agora é bem diferente… Agora entendo quando me falaram certa vez que algumas situações difíceis são para nos preparar para situações bem mais difíceis que virão. Meus Deus, reparei que só falo do primeiro livro, O Diário da borboleta azul, e porquê será? Por que eu agora tenho a impressão de que realmente era uma nova metamorfose? De que a primeira fora apenas uma ‘amostra grátis’?

O cotidiano depois da partida de meu pai era gritante e quase impossível de suportar. Por mais que eu tentasse me esquivar ou me distrair com alguma coisa acabava lembrando automaticamente dele e do jeito carinhoso que tratava nossa família. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, de que foi o homem que mais me tratou bem nessa vida. Por que ele teve que ser tão bom pra mim? Por quê? Talvez se ele tivesse sido um carrasco ou um ‘meio carrasco’ eu não tivesse aqui agora sentindo essa dor. Meu Deus, perdoe-me o egoísmo em forma de devaneios… perdoe-me, mas é que busco uma rota de fuga para eu não sentir mais essa dor. Para eu não mais sonhar com ele como aquele último sonho, no qual ele estendeu-me sua mão e eu a segurei firme e então ele veio se deitar em meu colo. O rosto liso, claro, saudável e jovial que nada tinha a ver com o velhinho sofrido qual partira. E, quando fui tocar-lhe a face, senti um arrepio de uma agonia pois a minha mão atravessou seu rosto. Ele tinha um corpo transformado e senti vontade de ir embora com ele, mas sabia que não podia. Eu apenas disse: “Eu te amo!” “Eu te amo muitooooooo!” Era o tempo que eu tinha para dizer e repeti por três vezes : Te amo! Eu te amo! Eu te amooooo…!

Andreia Caires

 

 

 

 

 

 

 

Sergio Diniz da Costa
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