novembro 21, 2024
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Paulo Siuves: 'Pássaro ferido'

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Paulo Siuves

Pássaro ferido

Como um pássaro em uma enorme revoada você me viu. Cingi-me com as cores da esperança e voei todos os dias com o coração de adolescente para voltar a lhe ver. Voei muito alto, além do que é permitido aos da minha espécie; voei para buscar estrelas e lhe dar. Voei acima das nuvens e desenhei, com meu rastro no ar rarefeito, seu sorriso e o contorno dos seus olhos. Eu lhe amei mais do que já pude amar em toda a minha vida, compus as mais belas canções em nome da esperança de ter você para mim. Cantei debaixo de sua janela, pousado em sua mão, apreciando sua efêmera beleza, deliciando-me do néctar saciante dos seus beijos; eu acreditei em nós.

Mas, pássaros diferentes não podem voar juntos e tão alto. Perdi meu ponto de contato com a realidade e caí; você não viu? Eu machuquei a minha asa quando suas palavras me atingiram, meu peito quase estourou de tristeza quando percebi que seu coração não batia mais por mim. Das alturas do meu sonho enlouquecido, caí.

Sou pássaro ferido. Com a lente das minhas retinas inebriadas, ofuscadas por lágrimas brilhantes que rolavam do meu pranto, atingi o solo, e quase morri de dor na falta do seu amor, da sua atenção. Estou ferido, e o perigo se aproxima; sinto minha vida passando como um flash de muitos anos, numa sequência de fatos que fizeram com que eu me apaixonasse, depois te amasse; me enlouquecesse de amor, ao ponto de alçar o voo mais audacioso da minha débil existência. Eu sou um pássaro ferido precisando do alento de sua asa protetora; meu canto rouco está emudecido, minhas asas perderam o viço da cor, minha alma está quebrada, pois sou pássaro com a asa pendida ante a dor da saudade que sinto de você.

Já não consigo lutar contra a minha razão; não consigo mais fugir. Precioso é o voo em sua direção. Sôfrego, vou batendo as asas, voando, pairando, na esperança de lhe encontrar.

 

Paulo Siuves

paulosiuves@yahoo.com.br

 

Paulo Siuves
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