CELSO LUNGARETTI ‘ LULA DEVERIA MIRAR-SE NUM EXEMPLO DE GETÚLIO VARGAS. [MAS, NÃO NAQUELE QUE VOCÊS ESTÃO PENSANDO…]
Estaremos assistindo ao melancólico final… |
Noves fora, a denúncia que o Ministério Público Federal apresentou contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um tanto desequilibrada, como a própria Folha de S. Paulo observou no seu editorial desta 5ª feira, 15:
“…[Lula] foi ‘comandante máximo’ do esquema identificado pela Lava Jato, ‘grande general’ da corrupção e ‘maestro da orquestra criminosa’.
…O conjunto de evidências (…) faz concluir que os desvios de recursos públicos ocorriam em nome da governabilidade, da perpetuação no poder e do enriquecimento ilícito.
…A acusação formal, ainda a ser apreciada pela Justiça, representou o anticlímax. Tratava-se, no caso de Lula, de corrupção passiva (R$ 87,6 milhões) e lavagem de dinheiro, envolvendo um tríplex em Guarujá e o armazenamento de bens pela OAS (total de R$ 3,7 milhões).
…de uma jornada que começou tão bem? |
Não que seja pouco ou perdoável, mas causa estranheza que, num esquema descrito com tantas hipérboles, a parte do comandante máximo se resuma a valores inferiores aos obtidos por figuras sem expressão política“.
O que se pode depreender disso tudo é que Lula ainda pode sustentar uma batalha jurídica, mas perdeu a batalha política.
Nem o mais fanático dos petistas deve, a esta altura, duvidar de que a corrupção grassou solta e desmedida durante os governos do seu partido. Cidadãos mais bem informados sabem que nada daquilo foi diferente do que já existira no passado, salvo, talvez, em termos de escala: o volume da roubalheira e a desfaçatez das saídas pela tangente parecem ter aumentado um pouco.
Independentemente de as digitais do Lula serem ou não encontradas nas armas dos crimes, o cidadão comum concluirá que ele deu seu consentimento para a bandalheira. Afinal, a imagem desligada (para sermos delicados) de Dilma era tão acentuada que muita gente acreditou na sua boa fé quando ela disse ignorar tudo que estava rolando à sua volta.
Mas, a imagem do Lula é bem diferente, de rústico mas ladino, um homem do povo que PhD nenhum faz de bobo. Sua esperteza e jogo de cintura o tornavam o modelo do que todos os humilhados e ofendidos gostariam de ser; elas, contudo, o condenam agora.
Ainda é possível a volta por cima? Difícil… |
Seja qual for a sentença do juiz Sérgio Moro, a ser anunciada dentro de meses, avalio que a eleição presidencial de 2018 já está perdida para Lula; mesmo que lhe permitam disputá-la, não conseguirá reerguer-se politicamente em tão pouco tempo, apoiado por um partido em frangalhos e tendo contra si a máquina do poder.
Em 2022, sim, terá transcorrido o tempo necessário para que se dissipe boa parte da carga negativa de tudo que a mídia vem trombeteando ultimamente. Será que os brasileiros o elegeriam para começar o terceiro mandato com 77 anos de idade? É uma incógnita. E ainda há muita água para passar debaixo da ponte até lá.
Acabam de ser lançados, de uma vez só, os 10 episódios da 2ª temporada da série televisiva Narcos, que mostram a queda do império de Pablo Escobar, golpeado de todos os lados por forças que, quando se uniram, tornaram-se muito superiores às suas (o cartel de Cali mais traficantes menores, os contra que enfrentavam os guerrilheiros nas selvas, a polícia colombiana, o DEA e a CIA estadunidenses, etc.).
Escobar, foragido com o único sicário que lhe restou, não admite render-se às autoridades, o que lhe poderia salvar a vida e garantir asilo para sua família no exterior.
Os inimigos, com idêntica obstinação, não descansam até matá-lo, embora tivesse deixado de representar um verdadeiro perigo: jamais conseguiria voltar à tona após ter afundado tanto.
Isolado em São Borja, Vargas se preservou. |
É mais ou menos a situação do Lula. Deveria fazer como Getúlio Vargas em 1945, quando foi afastado do poder (ditatorial) que exercia por forças políticas nacionais e pela pressão dos EUA, então avessos a governantes assemelhados aos que derrotara nos campos de batalha.
O compromisso que Vargas firmou com eles para não sofrer processo, nem perder os seus direitos políticos ou ser obrigado a deixar o país: hibernar.
Isolou-se na sua estância gaúcha, não disputando a eleição presidencial daquele ano nem participando da campanha eleitoral (lançou apenas uma mensagem de apoio a Eurico Gaspar Dutra, que foi amplamente divulgada e bastou para os seus devotos saberem em quem deveriam votar). Passado o quinquênio de hibernação, voltou à ativa, elegeu-se presidente –aos 69 anos!– e marchou para a tragédia.
A hibernação também me parece a melhor solução para Lula, desde que seus inimigos se convençam de que ele realmente chegou ao fim da linha e não façam questão cerrada de dar-lhe o tiro de misericórdia, como os inimigos de Pablo Morales fizeram.
A mim me parece que superestimam em muito os poderes do Super Lula. Duvido, p. ex., que ele conseguisse fazer os 77 anos o que Vargas conseguiu aos 69, reassumindo o poder. Oito anos, para um idoso, valem por 16 ou 24…
A época do lulismo acabou. Eu gostaria que, na linha dos brasileiros cordiais que éramos (e, infelizmente, estamos deixando de ser), fosse adotada solução semelhante à de 1945, com Lula permanecendo em casa no aconchego da família, seja hibernando por alguns anos ou aposentado em definitivo da política. Seria mais digno, para ele e para o País. Chega de ódio!!!
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.