Ivete Rosa de Souza: Crônica ‘Esses estranhos’


às 19:07 PM
São todos estranhos, esses que caminham como eu. No subúrbio, na madrugada, a caminho do trabalho. Vão em silêncio olhando para o vazio, alguns cochilam, quando encontram no coletivo um lugar para se sentar. Tem os que ficam espremidos, uns contra os outros, parecendo cansados, antes mesmo de iniciar a rotina do dia.
São homens e mulheres, esses que vão para as fábricas, construções, lutar pelo pão, o sustento dos familiares, dos filhos. A luta para continuar a viver. E vejo em seus olhos, tristeza. O corpo magro, mostra a falta do alimento de qualidade. As vestes demonstram estar desbotadas, entregando o uso diário. No frio vi por várias vezes os que passavam por mim, encolhidos, com as mãos enfiadas nos bolsos, procurando calor.
São os desfavorecidos, de empregos que lhes paguem o que merecem. São os assalariados, que recebem um salário tão pequeno quanto a sua crença de uma vida melhor.
São esses que passam na rua por mim, com a cabeça baixa, parecendo ter cometido tantos pecados, que os olhos só encontram o chão. Não se interessam pelos outros estranhos que cruzam por eles, caminham em seus destinos preocupados com as dívidas, a fome e sua própria sobrevivência.
São esses estranhos que engradecem a indústria, a lavoura, e fomentam a economia, o crescimento do País. Esses que, em sua ignorância, enfrentam os empregos mais hostis e insalubres. Desprovidos de educação, cultura, semianalfabetos, são os que constroem o mundo em que vivemos.
Os pobres que cheiram a suor, que emanam tristeza, que pedem com seus olhos tristes dias melhores.
Ivete Rosa de Souza
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Natural de Santo André (SP) e ex-policial militar, é uma devoradora de livros. Por ser leitora voraz, para ela, escrever é um ato natural, tendo desenvolvido o hábito da escrita desde menina, uma vez que a família a incentivava e os livros eram o seu presente preferido. Leu, praticamente, todos os autores clássicos brasileiros. Na escola, incentivada por professores, participou de vários concursos, sendo premiada – com todos os volumes de Enciclopédia Barsa – por poesias sobre a Independência do Brasil e a Apollo 11. E chegou, inclusive, a participar de peças escolares ajudando na construção de textos. Na fase adulta, seus primeiros trabalhos foram participações em antologias de contos, pela Editora Constelação. Posteriormente, começou a escrever na plataforma online Sweek a qual promovia concursos de mini contos com temas variados, sendo que em alguns deles ficou entre os dez melhores selecionados, o que a levou à publicação do primeiro livro, Coração Adormecido (poesias), pela Editora Alarde (SP). Em 2022, lançou Ainda dá Tempo, o segundo livro de poesias, pela mesma editora.