Celio Pezza – Crônica # 345 Só morre gente boa?
Se observarmos os velórios dos artistas, políticos e celebridades de todo o mundo, vamos constatar que todos eram pessoas amáveis, prestativas, bondosas, ótimos pais, mães ou filhos e exemplos a serem seguidos. O mundo sentirá muita falta, não será mais o mesmo e assim por diante.
Pessoas que muitas vezes nem se conheciam na vida real, correm aos velórios com cara de tristeza lamentando a perda do grande amigo.
Somente poucos falam que o falecido não prestava, era um mau caráter, corrupto, enfim, que o mundo vai ficar melhor sem ele.
Se tudo que se ouve durante os velórios fosse verdade, chegaríamos à conclusão que só morre gente boa e os pilantras vão ficando para semente.
Por que transformar em gente boa os que morrem?
Será que é medo de que o morto volte para se vingar de quem falou a verdade sobre ele?
Temos inúmeros casos de gente que não valia nada, estava sendo processado por uma série de crimes, mas que virou um herói ou exemplo a ser seguido depois de morto.
Se a morte foi com muito sofrimento, pode até virar santo, mesmo que tenha tido uma vida de bandidagem.
Temos exemplos no mundo do cinema, nos EUA, onde um grande empresário de sucesso na verdade explorava seus funcionários, plagiava personagens em seus filmes, era um agente do FBI, delator dos seus amigos, e a História o transformou em um ícone do cinema e filantropo.
Aqui no Brasil, tivemos o caso de um MC funkeiro que enaltecia a bandidagem e, após sua morte trágica, virou um mártir da música brasileira.
Temos inúmeros casos de políticos corruptos, ladrões, traficantes e por aí vai.
De acordo com a lei brasileira, ofender a memória do morto não é crime, mas pode constituir um dano moral, contra a honra da pessoa.
Os crimes contra a honra são a calúnia, a injúria e a difamação.
Calúnia, quando imputa a alguém um fato definido como crime; difamação, quando é contra a sua reputação e injúria contra a sua dignidade.
Somente a calúnia está prevista, quando praticada contra os mortos.
Se um morto sofre uma calúnia, os seus herdeiros podem pleitear na justiça uma reparação, pois esse direito é transmitido por herança aos herdeiros. Talvez por essa razão, ninguém fala mal de uma personalidade morta, por mais que ela mereça.
Seja por medo do fantasma do morto, seja por medo das leis dos Homens, o fato é que basta morrer para virar gente boa ou então, só morre gente boa e o mundo vai só piorando pois os ruins não morrem.
Célio Pezza
Fevereiro, 2017
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.