novembro 27, 2024
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LIVRO: 'A ULTIMA GOTA' – NÃO FOI POR FALTA DE AVISO

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Água: a morte anunciada e ignorada pelas autoridades

O livro A última gota é um verdadeiro tratado de como a água foi tratada com descaso e de como os especialistas foram ignorados pelas nossas autoridades. José Serra e o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, por exemplo, foram alertados e são alvos de investigação do Ministério Público. E qual o papel da Agência Nacional de Águas no cuidado com os nossos recursos naturais?
Quem passava pelos gigantes reservatórios de água e pelos sistemas de abastecimento, como o da Cantareira, sempre imaginou que seria impossível acabar com aquela imensa quantidade de água. Mas não só a Cantareira secou, como vários outros também foram pelo ralo da incompetência administrativa. Metas não cumpridas, empresas contratadas sem a qualidade necessária, investimentos sem objetivos claros e uma série de erros com conivência dos políticos. A jornalista Vanessa Barbosa entrevistou e ouviu vários especialistas e constatou o quanto poderíamos ter feito para prevenir a crise hídrica. O resultado de anos de pesquisas está na obra A última gota (Editora Planeta).
Mas a culpa não é da falta de chuva? Não, não é. E isso vem sendo afirmado e provado ao longo das últimas décadas. Diversos problemas são apontados para a atual crise. A falta de chuva não seria um problema se as autoridades tivessem levado em conta os avisos dos ambientalistas e estudiosos. Não levaram e agora culpam a natureza enquanto a população olha para o céu na esperança de que bons temporais nos salvem.
Trecho do livro A última gota (pagina 57):
Em dezembro de 2009, o relatório final do Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, feito pela Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, não só alertou para a vulnerabilidade do Sistema Cantareira como sugeriu medidas cabíveis a serem tomadas pela Sabesp, controlada pelo governo do Estado de São Paulo, a fim de melhorar a gestão da água diante da demanda crescente. O estudo afirmava que o sistema da Cantareira tinha “deficits de grande magnitude” e ressaltava que a grande dependência do abastecimento
da Região Metropolitana de São Paulo das águas provenientes da região indicavam a “necessidade de contar com regras operativas para evitar o colapso de abastecimento das regiões envolvidas e minimizar a influência política nas decisões”.
Mediante aos problemas comprovados no relatório, na época, várias recomendações foram feitas a Sabesp: “instauração de processos de monitoramento de chuvas e vazões do reservatório e implementação de postos pluviométricos. Bem antes disso, na portaria que renovou a outorga da concessão da administração do Sistema Cantareira, em 2004, ficou estabelecido como uma das condicionantes que a Sabesp tivesse um plano de diminuição de dependência do Cantareira. Alertas não faltaram. Diante disso e do aprofundamento da crise hídrica, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) abriu uma investigação para apurar as responsabilidades e falhas de gestão do governo paulista e das concessionárias (entre elas a Sabesp) na maior crise hídrica do Estado.”, escreveu Vanessa Barbosa nas páginas do seu livro.
Trecho do livro A última gota (pagina 57):
O Ministério Público Estadual também apura irregularidades no Programa de Redução de Perdas de Água e uso racional, devido a suspeitas de favorecimento de 13 empresas em vários contratos firmados entre 2008 (gestão José Serra) e 2013 (gestão Geraldo Alckmin). O inquérito investiga se as empresas contratadas possuíam vínculos com ex-diretores da concessionária e se houve favorecimento, mediante exigências de certificação elaboradas por entidade de classe formada pelas mesmas empresas.
Na página 43, Vanessa ressalta mais um fator que ajudou a agravar a crise: a expansão das periferias ocupando espaços que antes eram  de recursos não renováveis, em sua maioria.
Trecho do livro A última gota (pagina 43):
Para piorar, o crescimento da região metropolitana em São Paulo
tem ocorrido às custas das periferias onde se encontram importantes áreas de preservação ambiental, indispensáveis para o sustento da própria cidade. Os impactos da expansão urbana sobre áreas naturais são significativos. A terra sustenta uma série de ecossistemas e funções, incluindo a produção de alimentos, habitat para as espécies naturais, retenção e armazenamento de água.
Quando o desenvolvimento ocorre sem consideração quanto à
infraestrutura, necessidades comerciais, opções de transporte eficiente e acessíveis, e serviços de saneamento básico, ele só degrada as condições de vida da comunidade em vez de melhorar.
Não se pode esquecer que a expansão das cidades é marcada por um substancial consumo de recursos naturais. O uso de terra e solo causam particular preocupação, uma vez que são recursos não renováveis em sua maioria. A má ocupação transforma drasticamente as propriedades da terra, reduzindo a sua capacidade de desempenhar funções essenciais no ciclo hidrológico. Um dos impactos mais evidentes é a perda de permeabilidade à água por conta dos processos de asfaltamento de ruas e 44 estradas, que diminui dramaticamente a recarga das águas subterrâneas e afeta a drenagem das águas de chuva. Tal situação se dá às custas de áreas verdes que ajudam a garantir o adequado funcionamento de ecossistemas e suas funções tão necessárias às cidades.
Para agravar o quadro, condições de moradia ruins e carência de
infraestrutura de saneamento adequada fazem com que toneladas de esgotos e efluentes sejam despejados sem tratamento em rios e lagos ou acumulados em valões a céu aberto. O resultado é a contaminação da água e do meio ambiente, que facilita a propagação de doenças e se traduz numa piora da saúde e no aumento da mortalidade.
A falta de investimento em planejamento e infraestrutura compromete recursos ambientais básicos, como solo, água e ar e ameaça o bem-estar humano. Reverter esse quadro não sai barato. Pesquisas mostram que o fornecimento público de infraestrutura e serviços para áreas afastadas ou subdivisões custa significativamente mais do que em áreas urbanas.
Mas o descuidado com a água não é uma exclusividade de São Paulo. E mais uma vez a questão da crise hídrica se mostra ampla e não é somente uma simples falta de chuva. Em 2013 o país realizou um leilão de terras para exploração do gás natural. Apesar dos relatórios serem evasivos a Agência Nacional de águas não se manifestou como devia. “O leilão se desenrolou num contexto nada convencional, sem que se tivesse uma legislação ou marco regulatório claro sobre como as explorações devem ocorrer. Além disso, o país ainda carece de estudos aprofundados sobre os riscos socioambientais da extração de gás não convencional.”, alerta Vanessa na página 124. “Organizações técnicas e profissionais ligadas às áreas de meio ambiente e de serviços de água e saneamento protocolaram, na Presidência da República, uma carta aberta à presidente Dilma Rousseff solicitando a retirada da exploração de gás não convencional do edital da 12ª Rodada de Licitações; o pedido foi ignorado.”, acrescenta na página seguinte.
Vanessa Barbosa fez um livro totalmente baseado em depoimentos de pessoas comprometidas em estudar, analisar e mostrar o que podemos fazer para não destruir a natureza. O problema hídrico revela o quanto estamos distantes de entender o apelo que a natureza vem fazendo ao homem. Só agora, com as torneiras secas, é que a população está entendendo que aquela enorme quantidade de água tinha fim sim. E junto com a última gota diversos outros problemas estão aparecendo e isso é revelado pela jornalista.
E agora?
Para a autora as conclusões são estarrecedoras e muito além do imediatismo da economia que devemos fazer para não faltar água: “É preciso agir rápido frente ao crescimento galopante dos desafios. Todos os anos, milhares de novos produtos químicos são produzidos e derramados em nossa água; muitos, com potencial de perturbar os hormônios dos seres vivos, passam incólumes pelos sistemas de tratamento”, explica Barbosa apontando um dos elementos que ajudaram a secar nossos reservatórios.
Serviço
A última gota
Vanessa Barbosa
Editora Planeta
ISBN 978-85-4220447-6
Não-ficção / brochura / 16x23cm /248 páginas
R$ 34,90
Helio Rubens
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