Marcelo Augusto Paiva Pereira
‘Pela razão e sensibilidade’


às 15:59 PM
A história da arquitetura e do urbanismo remontam a imemoriais tempos, em que os primeiros grupos sociais deixaram o nomadismo e se fixaram em locais apropriados, sob a organização de tribos ou aldeias.
Das primeiras habitações até as atuais, os conceitos de espaço e proteção sempre existiram, devido à sobrevivência de cada indivíduo e família. A distribuição das habitações no território definiu as primeiras relações sociais e configurações urbanas, cujos propósitos derivaram daqueles conceitos.
A distribuição interna de cada habitação teve causa nas tarefas domésticas (divisão do trabalho), privacidade dos membros da família e hierarquia entre eles. Tornaram necessários espaços para dormir, comer, preparar os alimentos e reunir a família, inclusive para dar mais conforto a cada indivíduo.
Dos sítios em que se encontravam aquelas protocidades surgiram as cidades, espaços permeados de edifícios representativos do poder local, das autoridades, dos habitantes e das atividades laborais. A divisão do trabalho distribuiu as classes sociais, criou o controle administrativo e político e foi fonte da urbanização e da civilização.
A cidade mais antiga que se conhece é Jericó (9.000 a.C.) e não tinha ruas; os habitantes caminhavam pelos telhados. Outras cidades posteriores surgiram com distribuição de ruas, as quais facilitavam a locomoção e transporte de pessoas, bens e mercadorias. Em todas, robustas fortificações asseguravam maior proteção contra a investida de invasores ou grupos rivais.
A salubridade urbana, porém, teve sério revés. Enquanto os romanos desenvolveram vários canais, aquedutos (312 a.C. ao século V d.C.) e sistemas de esgoto (200 a.C.) ao tempo da República (509 a 27 a.C.), as habitações e cidades da Idade Média em diante não se beneficiaram dessa tecnologia da Idade Antiga. Ao contrário, eram imundas, insalubres e centros de contaminação por agentes patogênicos.
Em meados do século XIX (Idade Contemporânea) surgiu em Londres o moderno sistema de esgotos, após a elite reclamar dos fétidos odores procedentes do rio Tâmisa, que recebia as águas das fossas sépticas espalhadas e conectadas a um ineficiente e antiquado sistema de esgotos, planejado para evitar inundações naquela cidade. Paris também acolheu esse moderno sistema, quando da reconstrução (1853-70) da aludida capital.
Conclusivamente, a história da arquitetura e do urbanismo se comunicam, e surgiram da oportunidade (espaço) e conveniência (proteção) em cada momento (período) e em cada lugar (território). Desenvolveram os conceitos de espaço e proteção, abarcaram o conforto, criaram cidades e civilizações e recuperaram os sistemas de esgoto, abandonados por séculos de insalubridade. Se vivemos em cidades modernas, foi pela razão (oscilações do conhecimento) e sensibilidade (instinto de sobrevivência) que ainda existem. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira
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Natural de São Paulo (SP), Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista