Pivô abre, simultaneamente, as exposições ‘O que não tem conserto’ de Tonico Lemos Auad e ‘Deserto-Modelo’ de Lucas Arruda
A mostra de Tonico Lemos Auad conta com curadoria de Kiki Mazzucchelli e Lucas Arruda apresenta instalações inéditas
São Paulo, abril de 2015 — No dia 05 de abril, domingo, às 17h, o Pivô inaugura, simultaneamente, as exposições ‘O que não tem conserto’, do artista Tonico Lemos Auad e ‘Deserto-Modelo’, de Lucas Arruda. Ambas integram a programação do Plano Anual de Atividades do Pivô de 2015, realizado através da Lei Rouanet (Minc). As mostras ficam em cartaz até o dia 30 de maio.
‘O que não tem conserto’ reúne um conjunto de obras, incluindo trabalhos recentes e inéditos que exploram algumas das questões centrais da pesquisa de Auad. Paraense radicado em Londres há 15 anos, o artista parte de questões e imagens universais sobre o mar que, livremente associadas, o levaram a investigar o uso de técnicas manuais e o vocabulário vernacular.
Nesse projeto, Auad amplia sua pesquisa sobre a manufatura e seus tempos. O trabalho manual é entendido pelo artista tanto como a necessidade prosaica de se consertar objetos utilitários quanto a observação de um aspecto mais humanístico e meditativo próprio das práticas de conserto e restauro.
Arqueologia refletida; público é convidado a raspar parede e revelar intenções da obra
Na grande parede curva do Pivô encontra-se a obra ‘Reflected Archeology / Folkestone’ (Arqueologia Refletida / Folkestone, 2011), apresentada pela primeira vez na Trienal de Folkstone, em Kent, Inglaterra. Sobre uma camada prateada, típica das “raspadinhas” oferecidas por casas lotéricas, o público é convidado a revelar imagens relacionadas a rituais pagãos e religiosos. Nesse caso o artista se apropria de imagens, fotografias, desenhos e citações em torno do ritual anual de círio de Nazaré em sua cidade natal e o carnaval de Folkstone, na Inglaterra, para onde a obra foi criada inicialmente. O universo visual de manifestações religiosas é revelado pelo público ao descascar gradualmente a primeira camada do trabalho. ‘Reflected Archeology’ estabelece um paralelo com o processo -quase arqueológico-, da reforma arquitetônica do Pivô, em que o espaço foi sendo descoberto pela retirada de pisos falsos e tetos baixos, revertendo reformas de ocupações anteriores que descaracterizaram o projeto original de Oscar Niemeyer.
O conjunto de onze peças em tecido suspensas integram a instalação ‘Sea Horses’ (Cavalos Marinhos, 2014-15), as peças verticais se referem ao animal marinho que só se movimenta verticalmente. O artista desconstrói a trama original do tecido, para reconstruí-lo transformando as tramas em hastes. No mesmo ambiente, serão mostradas as peças de chão da série ‘Unruly Architecture’ (Arquitetura Indomável, 2015) A instalação é composta por pequenos vasos de crochê dispostos em tocos de madeira de diferentes tamanhos, destituídos de sua funcionalidade os vasos permeáveis ressaltam contrastes entre os materiais leves e o brutalismo do espaço, trabalhando noções de escala e proporção.
O que não tem conserto’ (2015) é também o título de uma escultura inédita em madeira baseada na microarquitetura improvisada característica dos locais de trabalho dos prestadores de serviços de pequenos consertos. Em horários determinados, durante o período da exposição, a escultura será habitada por prestadores de diferentes serviços que serão oferecidos ao público gratuitamente em dias específicos.
Esse tipo de atividade, que desafia a estratégia de obsolescência planejada do capitalismo tardio, reflete o interesse do artista pelo fazer manual ao mesmo tempo em que traz questões urgentes ao mundo contemporâneo, particularmente no que diz respeito ao impacto ambiental causado pela lógica de produção de bens não duráveis.
O edifício Copan, habitado por cerca de 2 mil pessoas, é um ambiente de grande demanda para esses serviços. O Pivô fará uma divulgação desse trabalho no edifício, dando continuidade a um dos maiores objetivos do projeto: a troca entre o público específico das artes visuais e os moradores da região.
A exposição ‘Deserto Modelo’ de Lucas Arruda no Pivô inclui três trabalhos com projeção de slide e cinco pinturas a óleo, trabalhos produzidos em diferentes formatos que se informam ao longo da trajetória da exposição. Todas as exposições de Arruda são intituladas ‘Deserto-Modelo’, esse titulo nunca é traduzido e influencia na concepção de toda obra do artista como uma serie continua, em desenvolvimento. Passagem e transição foram elementos fundamentais para o processo de pesquisa dessa exposição.
“Deserto-modelo” de Lucas Arruda; passagem do tempo e memória
Com pouca entrada de luz natural e muitas colunas, a sala onde Arruda irá apresentar essa exposição tem particularidades arquitetônicas que requerem um pensamento especifico sobre o espaço. Diante desse desafio Arruda criou uma estrutura labiríntica que guia o visitante. Cada trabalho apresenta parte de sua pesquisa sobre paisagem, memoria e passagem de tempo, enquanto a luz do ambiente está em constante mutação.
Entre dias e noites, claro e escuro, a percepção do visitante sobre cada espaço se altera drasticamente de acordo com o momento em que se encontra a obra. Sentindo de corpo inteiro a atmosfera das pinturas pelas quais Arruda se tornou conhecido. Ao entrar no espaço o visitante encontra dois campos do mesmo tamanho que demarcam dois tons de branco diferentes. Um dos campos é composto pela luz de uma projeção vazia e o outro pintado diretamente sobre a parede. Quando a luz ambiente está estável a distinção entre os dois tons é evidente, ao aumentar a intensidade dessa luz principal uma tela se apaga e a outra se destaca, ao diminuir a luz o processo se inverte. A percepção que se tem dessas composições binárias sugerem uma sensação de migração suave das cores entre dois planos. É mais luz indecisa do que cor definida.
Em outra instalação recente, Arruda pintou luz e paisagens de quatro dias e quatro noites diretamente em slides 35mm. Diferentes tons e densidades afetam a sala de acordo com a rotação dos slides, que estão sincronizados e em loop. Conforme as noites se aproximam toda sala se encontra em total escuridão, conforme o amanhecer dos dias a luz gradualmente retorna. Essa compreensão cíclica da luz é projetada, semelhante a passagem de dias, da alvorada ao ocaso, o tempo é pontuado pela transição de luz.
Em sua pratica mais consolidada o artista exibe pinturas a óleo que partem de paisagens imaginadas, de horizontes distantes que são transformadas em formas de luz e cor, ou ao contrário. Suas pinturas introduzem o pensamento do artista sobre memória. Os limites da representação se afirmam ao revelar imagens sempre iguais e diferentes.
Sobre Tonico Lemos Auad
Tonico Lemos Auad é formado em arquitetura pela FAU-USP e possui mestrado em Artes Visuais pela Goldsmiths College, Londres. Com uma trajetória de mais de 15 anos, participou de exposições importantes como Antartica Artes com a Folha (Pavilhão Manuel da Nóbrega, São Paulo, 1996), Beck’s Futures (ICA, Londres, 2004), The British Art Show 06 (Hayward Gallery, Londres, 2005) e FolkstoneTriennial (Folkstone, 2011).
Sobre Lucas Arruda
Lucas Arruda nasceu em São Paulo, 1983. O artista começou a exibir sua obra em 2009. Todas as suas exposições individuais são intituladas ‘Deserto-Modelo’, recentemente Lucas Arruda teve exposições na VeneKlasen Werner, Berlim, Alemanha (2014), Mendes Wood DM, São Paulo, Brasil, (2014, 2012), Frederic Snitzer, Miami, EUA, (2012), III Mostra do Programa de Exposições, Centro Cultural São Paulo, Sao Paulo, Brazil , (2011), i-20 Gallery, Nova York, EUA, (2011) e 713 Arte Contemporáneo, Buenos Aires, Argentina (2010).
Sobre o Pivô
O Pivô, fundado em 2012, é uma associação cultural sem fins lucrativos que atua como plataforma de experimentação artística para artistas, curadores, teóricos, estudantes e todos interessados em desenvolver processos de pesquisa neste campo. Tem por objetivo propor questionamentos críticos no campo das artes visuais, arquitetura, urbanismo e outras áreas da cultura, disponibilizando um espaço de exposição, investigação e intercâmbio de propostas artísticas nos âmbitos nacional e internacional. Sua programação é ampla e contempla exposições, residências artísticas, intervenções, cursos, debates e palestras. Em dois anos de existência, a instituição realizou cerca de 30 projetos, acolheu em seu espaço uma média de 210 artistas de 15 países diferentes e recebeu cerca de 30 mil visitantes desde sua inauguração.
“O que não tem conserto”, por Tonico Lemos Auad e “Deserto Modelo”, de Lucas Arruda no Pivô
Abertura: 05 de abril, domingo, das 17h às 21h
Período expositivo: de 5 de abril a 30 de maio
Endereço: Edifício Copan – Av. Ipiranga 200, Bloco A, loja 54, Centro – São Paulo
Horário de funcionamento: de terça a sexta-feira, das 13h às 20h e sábados, das 13h às 19h
Telefone: (11) 3255-8703
Entrada gratuita/ livre
Mais informações: www.pivo.org.br
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.