“Os ‘bichos-grilos’ daquela época são os caretas de hoje; interessante perceber que a maturidade de uma forma ou de outra chega para todos.”
“Cá com meus botões, bolas! Eu não sou de ferro!” Que saudade desta música, lançada em 1976, pelo rei Roberto Carlos!
Naquela época, pouco se falava em dieta, comida enlatada, achavam que era coisa de rico. Imoralidade e ilegalidade eram coisas que ficavam bem longe da maioria das pessoas: ou você era certinho ou transgressor, não havia meio termo.
Bons tempos aqueles! Hoje o prazer da boa comida, sem conservantes e agrotóxicos, virou artigo de luxo, poucos têm acesso. Houve ao longo dos anos uma inversão de imoral e ilegal, parece que tudo que fazemos ou falamos gera polêmica, tudo está errado, ou fica errado.
Os ‘bichos-grilos’ daquela época são os caretas de hoje; interessante perceber que a maturidade de uma forma ou de outra chega para todos.
Na década de 70, em que a calça boca de sino era moda, os adolescentes resolviam seus problemas sozinhos. Se alguém da turma nos colocasse algum apelido, (hoje chamam de bulling), era briga na certa; rolava no chão com tapas e socos, e no outro dia já estávamos conversando como se nada tivesse acontecido, vida que segue.
Medida milimetricamente certa era coisa pra desfile de Misses, quase ninguém se preocupar com obesidade. Acho que a distinta palavra nem existia, ou se existia era pouco conhecida.
A realidade mudou muito, nada de resolver com tapas e socos, levam armas de fogo na mochila da escola, matam ou deixam sequelas para vida inteira nos amiguinhos de infância, e a justificativa é terem sofrido bulling, a imoralidade dos relacionamentos começa na tenra idade.
Longe, muito longe, os versos inocentes das músicas que embalavam os bailinhos nas garagens. O progresso trouxe junto à aceleração do tempo, crianças passam pela infância sem brincadeiras, imaginação, e sem conto de fadas.
Que pena! Essas mudanças tão drásticas no mundo, onde apenas o humano continua o mesmo, em sua anatomia. Os cabelos longos dos meninos de outrora combinava com a descontração e ingenuidade.
A infância daqueles tempos era mais longa, todavia, ao sair desse universo e adentrar o mundo dos adultos, a colheita sendo boa ou ruim, era de sua inteira responsabilidade, não havia desculpa para o considerado imoral ou ilegal.
Hoje, mais do que nunca, tudo é ilegal, imoral, politicamente incorreto, o mundo está muito chato. Vivemos como atores em cenas teatrais, nada pode sair da marca. Nada pode ser falado espontaneamente; sinceridade, nem pensar, opinião própria, gosto ou preferências, nada pode ser dito!
“Vivo condenado a fazer o que não quero!
Que culpa, tenho eu, me diga amigo meu?
Se tudo que eu gosto, é imoral, ilegal ou engorda!”
Já não sabemos mais o que é certo e errado.
A letra era ingênua ou nós éramos ingênuos? Creio que as duas coisas!
Será que o rei Roberto nos queria mais rebeldes? Pelo entendimento da censura da época, sim! Essa canção foi proibida de ser tocada em horário de “proteção ao menor”, em que crianças e jovens poderiam estar escutando rádio.
Proteção ao menor! Que coisa louca, bicho! Hoje nem há proteção e muito menos cobrança pelas atitudes erradas; aliás, nem podemos cobrar nada, pois podem ficar emocionalmente prejudicados, traumatizados.
Olha, bicho! O mundo está chato, há muito deixou de ser uma brasa, mora!
Sônyah Moreira sonyah.moreira@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024