Está no noticiário que, 12 dias após o julgamento em 2ª instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex do Guarujá, marcado para o próximo dia 24 (uma 4ª feira), o show do sítio de Atibaia terá uma semana de muitas atrações, com sete delatores premiados depondo ao juiz Sérgio Moro:
— para o dia 5 de fevereiro, uma 2ª feira, estão convocados os marqueteiros João Santana e Mônica Moura, além do ex-gerente da Petrobrás Eduardo Musa; e
— no dia 7, será a vez dos irmãos Milton e Salim Schahin, cuja empresa de engenharia prestava serviços à Petrobrás; do engenheiro da Odebrecht Marcos de Almeida Horta Barbosa; e do ex-presidente da Braskem Carlos Alberto Fadigas.
Alguém poderia pensar que, tão pouco tempo depois de a condenação de Lula ser (provavelmente) confirmada pelo TRF-4, a oitiva dessas testemunhas de acusação, noticiada com estardalhaço pela imprensa, ajudará a convencer os brasileiros de que o ex-presidente terá mesmo merecido a pena a ele imposta.
Mas, claro, isto é apenas uma suposição. Talvez a proximidade das datas não passe de mero acaso, tanto quanto a rapidez inusual com que foi marcado o julgamento do dia 24.
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Atrações do dia 5 no Gran Circo Curitibano
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Podemos, p. ex., ter certeza absoluta de estarmos assistindo a um jogo de cartas marcadas, mas isto de nada servirá em termos objetivos se nos for impossível provar a existência de marcas nas cartas.
Se a condenação de Lula for mesmo uma inexorabilidade, é bom os dirigentes do PT refletirem sobre os seguintes aspectos:
— o prometido lançamento da sua candidatura presidencial mesmo que venha a ser sentenciado à prisão (a detenção, contudo, só ocorreria depois do julgamento dos recursos ou embargos interpostos por seus advogados) e deva ter sua inelegibilidade decidida pela Justiça Eleitoral, impactará, inevitavelmente, como um desafio ao Poder Judiciário. O PT quer mesmo comprar uma briga destas? Está disposto a travá-la até o fim? Teria como o fazer?
Para um partido que logo na sua década inicial de existência já abdicou da revolução e optou pela conciliação de classe, passando a jurar fidelidade eterna à democracia burguesa e aos valores republicanos, parece-me um passo contraditório (e até temerário, já que não organizou as massas para acompanhá-lo por tal caminho); e
— se for apenas blefe, terá um efeito bumerangue, desmoralizando e enfraquecendo ainda mais a sigla.
Eis meus conselhos, que certamente não serão levados em consideração e muito menos acatados, mas torno públicos assim mesmo, por desencargo de consciência:
— conviria ao PT dar o famoso passo atrás para poder dar dois passos à frente depois;
— para começar, evitando iniciativas que parecessem confrontar a decisão judicial;
— em seguida, desistindo de Lula (pois ele, ao que tudo indica, será abatido em pleno voo) e escolhendo outro candidato, isto no caso de não haver ainda se convencido da inutilidade de eleger presidentes que podem ser deseleitos por um mero piparote parlamentar;
— e, se quiser mesmo bater de frente com os podres Poderes, deveria passar a acumular um cacife que lhe permitisse concretizar tal propósito futuramente, caso contrário isto não passará jamais de uma bravata.
Agora não o possui e inexiste chance de vir a obter o que necessita nas urnas. Votantes servem para garantir vitórias eleitorais, não para defender governos, governantes e partidos, missão que só militantes (e nem todos os militantes) assumem.
Então, o PT terá de retomar a organização das massas para as lutas sociais e políticas a serem necessariamente travadas, desencanando da Praça dos Três Poderes e voltando a marcar firme presença nas escolas, nas ruas, campos, construções (parafraseando o Vandré). Os gritos de revolta têm de ser ouvidos de novo na praça que é do povo como o céu é do condor (parafraseando o Castro Alves).
Para o PT reencontrar seu rumo, precisará ir aonde o povo está (parafraseando o Milton Nascimento), pois nada se aproveitou dos anos que passou deslumbrado com os palácios do poder. Foram desastrosos.