julho 04, 2024
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Paulo Roberto Costa: 'Guerra é guerra'

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 “(…) O líder, fazendo uso de sua autoridade, pediu a palavra. Tinha dado uma missão para um dos mais jovens do grupo que, apesar de franzino, era bastante esperto. Sua função era infiltrar-se nas linhas inimigas e descobrir tudo sobre seus oponentes.”

A belicosidade é uma característica inata aos homens ou aprendida ao longo da vida  como forma de enfrentar a competição no jogo da vida? (Paulo Roberto Costa)

 

O grupo estava reunido sob uma das únicas árvores daquela ruazinha, em um bairro de periferia de uma cidadezinha do interior.

Todos falavam ao mesmo tempo. Uns mais exaltados, outros nem tanto, mas todos pareciam ter uma opinião e faziam questão de manifestá-la.

Cada um tinha sua função mais ou menos definida. O líder, fazendo uso de sua autoridade, pediu a palavra. Tinha dado uma missão para um dos mais jovens do grupo que, apesar de franzino, era bastante esperto. Sua função era infiltrar-se nas linhas inimigas e descobrir tudo sobre seus oponentes.

O garoto, com a cara ainda meio assustada, tentou descrever o mais detalhadamente possível tudo o que tinha visto. Devido ao seu tamanho e aparência inofensiva, tinha conseguido penetrar no território inimigo sem ser notado e observado suas movimentações. Conseguiu acompanhá-los enquanto eles invadiam outro território rival. Ainda se lembrava com certo horror, das camisas, rostos e cabelos  manchados de vermelho dos pobres combatentes que batiam em retirada. O embate tinha sido rápido e barulhento. Seus inimigos gritavam como os antigos bárbaros enquanto perseguiam suas pobres vítimas. Estavam muito bem armados e usavam um tipo de munição que ele desconhecia, mas que causava um estrago considerável.

Todos prestavam muita atenção ao relato, com os olhos esbugalhados refletindo suas preocupações e seus medos. A guerra era inevitável. Sabiam disso. Eles seriam os próximos na trilha destruidora daquela falange cruel. O líder, percebendo o moral abalado do grupo, tomou a palavra e, levantando-se, buscou inflamar o orgulho de seus comandados – uma tática muito usada para mascarar o puro e simples medo dos combatentes. Todos, então, se levantaram e dirigiram-se para a linha de combate com um novo sentimento de esperança de que a vitória seria possível.

O espião foi novamente enviado para a frente para descobrir onde os inimigos estavam, enquanto o grupo se preparava, entoando as palavras de ordem gritadas pelo líder. Poucos minutos tinham se passado quando o espião retornou correndo, gesticulando e gritando: – Eles estão chegando! Eles estão chegando! Todo o grupo se encolheu em uma expectativa crescente, enquanto ouviam o murmúrio da turba que se aproximava vindos da rua lateral.

Todos seguraram suas armas devidamente municiadas e se preparam para o confronto. Quando se deram conta, o inimigo já contornava a esquina e começava a descer a rua. Eram em muito maior número e corriam gritando e apontando suas armas. Já no primeiro confronto mostraram todo seu poderio de fogo. De seus espirradores saía um líquido vermelho, conhecido como “sangue-de-boi”, preparado a partir de uma planta, que manchava a roupa e até a pele. Tinham também espirradores de vários tamanhos, com maior capacidade de armazenar água e que, pelo preço, não eram acessíveis a todos. Lançavam bombas de água feitas de bexigas que explodiam no corpo da meninada molhando todo o corpo, assim como o pouco orgulho que lhes restava.

A batalha foi rápida e terminou antes mesmo que todos os espirradores estivessem vazios. O grupo, reconhecendo a derrota, recuou e fugiu em desabalada carreira, com todos os meninos aterrorizados com a ideia de ter que explicar para suas mães onde tinham manchado suas roupas daquele jeito e que tipo de castigo receberiam.

Terminava assim, mais uma batalha de espirradores de carnaval, naquela ruazinha de um bairro de periferia de uma cidadezinha do interior.

 

Paulo Roberto Costa – paulocosta97@gmail.com

 

Sergio Diniz da Costa
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