outubro 05, 2024
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Artigo de Celso Lungaretti: 'FALCÃO FISCAL TREINADO NA UNIVERSIDADE DE CHICAGO' É O SUPERMINISTRO DA DILMA'

Celso Lungaretti – Do blogue Náufrago da utopia

Os Chicago boys do Pinochet…

O segundo governo de Dilma Rousseff está sendo um pesadelo para a esquerda. Perdemos a supremacia nas ruas, a credibilidade, a superioridade moral, o respeito do povo. Perdemos tudo. Teremos de recomeçar do zero.

Qualquer cidadão com um pingo de discernimento político estará chegando à conclusão de que partidos de esquerda jogam suas mais sagradas bandeiras no lixo e assumem o ideário do inimigo como tábua de salvação, quando ameaçados de perderem o poder.

Se depois de 1964 nos imolamos para provar aos brasileiros que (ao contrário daqueles que haviam se deixado enxotar do governo com um piparote) éramos capazes de sangrar por nossos ideais, o que precisaremos fazer nos próximos anos para provar aos brasileiros que (ao contrário da corrente do PT que apoia o Dilma.2) não fazemos ajustes recessivos à custa dos explorados?

…e o da Dilma (ou será o contrário?).

Do Chile deveríamos copiar a coerência e a coragem de Salvador Allende, não as diretrizes dos Chicago boys.

A referência é aos aproximadamente 25 jovens economistas chilenos, a maioria pós-graduados da Universidade de Chicago, que formularam a política econômica do carrasco Augusto Pinochet, recebendo elogios entusiásticos de Milton Friedman, o pai do neoliberalismo.

Friedman chegou a falar em milagre do Chile. Mas, se era para recorrer a um milagreiro dessa laia, por que Dilma foi buscar um de segunda categoria? O Delfim Netto, que joga na divisão principal e prestou o mesmíssimo serviço aos ditadores brasileiros, não teria sido uma escolha melhor? Certamente, mas era preciso salvar as aparências…

Quando igualo Joaquim Levy aos serviçais chilenos de Pinochet, não estou exagerando. Leiam alguns trechos do interessante artigo desta 5ª feira, 14, de Fernando Canzian (detentor de dois prêmios Esso de jornalismo) e me digam se Levy, cria da mesmíssima universidade estadunidense e do FMI, não pertence à mesmíssima corrente:

A série de ajustes conduzida neste momento por Joaquim Levy é pura prescrição do FMI, instituição na qual o ministro da Fazenda trabalhou por sete anos.

Ele é o 007 do FMI, com licença para matar…nos! 

 Na terça (12), o Fundo fez elogios às ações de Levy. No mesmo dia, o [jornal] britânico Financial Times o chamou de ‘falcão fiscal treinado na Universidade de Chicago’.

“O receituário do FMI é sempre previsível e clássico, destinado a países que chegam ao fundo do poço, como o Brasil sob Dilma.

Corte de despesas e aumento de receitas quando há crises fiscais, mais a implosão de programas insustentáveis do ponto de vista atuarial. Os cortes no seguro desemprego e pensões por mortes são parte dessas medidas.

De saída, o FMI também impõe a seus endividados forte elevação dos juros para conter a inflação e tentar amenizar os efeitos de outro instrumento do receituário: um ‘tarifaço’ a fim de corrigir preços defasados e equilibrar o caixa de empresas fornecedoras de energia, combustíveis etc. para que possam perpetuar investimentos.

…O objetivo é aproximar ao máximo o país da economia de mercado.

 …Se olharmos para todos os países que precisaram de dinheiro do Fundo para se manter à tona, veremos que a base do receituário é sempre a mesma…

O Brasil segue mais uma vez o mesmo caminho…

Não há absolutamente nada em comum entre homens de esquerda e os falcões fiscais treinados na Universidade de Chicago, com estágio no FMI, para ministrarem os remédios amargos da ortodoxia capitalista. Quando são companheiros de viagem, é porque alguém está traindo suas convicções.

Temo que não seja o Levy.

O EXÉRCITO O EXECUTOU. OS CLUBES MILITARES TORTURAM SUA FAMÍLIA.
 

Assim como uma juíza de 1ª instância do DF tentou alterar o que o Supremo Tribunal Federal e o presidente da República decidiram com relação ao escritor Cesare Battisti, recebendo um enfático puxão de orelhas de autoridade judiciária superior, agora é a vez de um juiz substituto da 1ª instância do RJ querer, com uma penada, anular todo o entendimento dos povos civilizados e do Estado brasileiro sobre o direito de resistência à tirania.

Carlos Lamarca e quaisquer outros que pegaram em armas quando usurpadores do poder submetiam o povo brasileiro ao arbítrio e à truculência têm todo direito de receberem tratamentos de heróis e vítimas; e de serem (ou seus herdeiros) indenizados pelos danos físicos, psicológicos, morais e profissionais que lhes foram infligidos pelos tiranos e seus esbirros.

Em termos morais, aliás, é inacreditável que se questione exatamente a reparação de um brasileiro capturado com vida e executado a sangue-frio por forças ajagunçadas do Estado. O ignóbil e covarde assassinato de Lamarca manchará para sempre a farda do Exército Nacional.

Vale lembrar que até mesmo o cabo Anselmo, uma das figuras históricas mais deploráveis dos anos de chumbo, teria direito à reparação. caso sua colaboração com as forças repressivas datasse de depois do golpe.

Ou seja, seria mais uma vítima  da quebra da ordem institucional no nefando 1º de abril de 1964, embora houvesse, em seguida, se tornado um dos piores vilões do período.

A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, contudo, negou-lhe o benefício porque conseguiu provar que ele era um agente duplo desde bem antes, quando liderava movimentos de marinheiros e, na verdade, agia como provocador, estimulando uma radicalização que convinha ao esquema golpista.

Enfim, a ação movida pelos clubes militares tem endereço certo, a lata de lixo. Lamentavelmente, o pagamento de reparações aos herdeiros de Lamarca continuará suspenso enquanto a sentença iníqua não for corrigida por instância superior, como inevitavelmente será.

É vergonhoso que esta situação perdure 43 anos após o bestial homicídio de um dos maiores heróis e mártires do povo brasileiro. Os verdadeiros democratas não podem continuar omitindo-se, como muitos têm feito até agora.

(clique aqui para acessar o vídeo do filme Lamarca)

COMANDANTE CARLOS LAMARCA 
(1937-1971): VENCER OU MORRER!
 

Já lá se vão 43 anos e oito meses desde que o comandante Carlos Lamarca, debilitado e indefeso, foi covardemente executado pela repressão ditatorial no sertão baiano, em setembro de 1971, numa típica  vendetta  de gangstêres.

O que há, ainda, para se dizer sobre Lamarca, o personagem brasileiro mais próximo de Che Guevara, por história de vida e pela forma como encontrou a morte?

Foi, acima de tudo, um homem que não se conformou com as injustiças do seu tempo e considerou ter o dever pessoal de lutar contra elas, arriscando tudo e pagando um preço altíssimo pela opção que fez.

Teve enormes acertos e também cometeu graves erros, praticamente inevitáveis numa luta travada com tamanha desigualdade de forças e em circunstâncias tão dramáticas.

Mas, nunca impôs a ninguém sacrifícios que ele mesmo não fizesse. Chegava a ser comovente seu zelo com os companheiros –via-se como responsável pelo destino de cada um dos quadros da Organização e, quando ocorria uma baixa, deixava transparecer pesar comparável ao de quem acaba de perder um ente querido.

Dos seus melhores momentos, dois me sensibilizaram particularmente.

Logo depois do Congresso de Mongaguá (abril/1969), quando a VPR saía de uma temporada de luta interna e de  quedas  em cascata, o caixa estava a zero e a rede de militantes, clandestinos em sua maioria, carecia desesperadamente de dinheiro para manter as respectivas  fachadas — qualquer anomalia, mesmo um atraso no pagamento de aluguel, poderia atrair atenções indesejáveis.

Mas, o chamado  grupo tático  fora o setor mais duramente golpeado pelas investidas repressivas.

Então, quando se planejou a expropriação simultânea de dois bancos vizinhos, na zona Leste paulistana, o pessoal experiente que sobrara não bastava para levá-la a cabo.

Eu e os sete companheiros secundaristas que acabáramos de ingressar na Organização fomos todos escalados –na enésima hora, entretanto, chegou a decisão do Comando,  designando-me para criar e coordenar um setor de Inteligência, então fiquei de fora.

Lamarca, procuradíssimo pelos órgãos repressivos, fez questão de estar lá para proteger os recrutas no seu  batismo de fogo. Os outros quatro comandantes tudo fizeram para demovê-lo, em nome da sua importância para a revolução. Em vão. A lealdade para com a  tropa  nele falava mais alto.

Depois de muita discussão, chegou-se a uma solução de compromisso: ele não entraria nas agências, mas ficaria observando à distância, pronto para intervir caso houvesse necessidade.

Houve: um guarda de trânsito, alertado por transeunte, postou-se na porta de um dos bancos, arma na mão, pronto para atingir o primeiro que saísse.

Lamarca, que tomava café num bar a 40 metros de distância, só teve tempo de apanhar seu .38 cano longo de competição, mirar e desferir um tiro dificílimo –tão prodigioso que, no mesmo dia, a ditadura já percebeu quem fora o autor. Só um atirador de elite seria capaz de acertar.

Como resultado, a repressão teve pretexto para fazer de Lamarca o  inimigo público nº 1 –e, claro, o fez. A imagem dele foi difundida à exaustão, obrigando-o a redobrar cuidados e até a submeter-se a uma cirurgia plástica.

Também teve de brigar muito com os demais dirigentes e militantes, para salvar a vida do embaixador suíço Giovanni Butcher, quando a ditadura se recusou a libertar alguns dos prisioneiros pedidos em troca dele e ainda anunciou que o Eduardo Leite (Bacuri) morrera ao tentar fugir.

Dá para qualquer um imaginar a indignação resultante –afinal, as dantescas circunstâncias reais da morte do  Bacuri (vide aqui) ficaram conhecidas na Organização.

Mesmo assim Lamarca não arredou pé, usando até o limite sua autoridade para evitar que a VPR desse aos inimigos o monumental trunfo que as Brigadas Vermelhas mais tarde dariam, ao executarem Aldo Moro. Sua posição prevaleceu, mas o episódio acabou tendo grande peso na decisão de deixar a VPR.

E, no MR-8, novamente divergiu da maioria dos companheiros –quanto à sua salvação.

Pressionaram-no muito para que saísse do Brasil, preservando-se para etapas posteriores da luta, pois em 1971 nada mais havia a se fazer. Aquilo virara um matadouro.

Conhecendo-o como conheci, tenho a certeza absoluta de que não perseverou por acreditar numa reviravolta milagrosa. Em termos militares, suas análises eram as mais realistas e acuradas. Nunca iludia a si próprio.

O motivo certamente foi a incapacidade de conciliar a ideia de  fuga  com todos os horrores já ocorridos, a morte e os terríveis sofrimentos infligidos a tantos seres humanos idealistas e valorosos. Fez questão de compartilhar até o fim o destino dos companheiros, honrando a promessa, tantas vezes repetida, de vencer ou morrer.

Doeu –e como!– vermos os militares exibindo seu cadáver como troféu, da forma mais selvagem e repulsiva.

Mas, ele havia conquistado plenamente o direito de desconsiderar fatores políticos e decidir apenas como homem se preferia viver ou morrer.

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Helio Rubens
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