Pedro Israel Novaes de Almeida – INSANIDADE COLETIVA
Está decidido: escolherei, dentre os candidatos à presidência, algum que seja psiquiatra.
O povo vive a ilusão de que surgirá um justiceiro celeste, montado em cavalo branco, para açoitar corruptos e fisiológicos, aninhados nos poderes e cofres de nossa infeliz república. Na falta do cavalo, serve, também, um caminhão.
Os caminhoneiros iniciaram um movimento paredista, repletos de bons motivos, há anos sofrendo o desdém dos governos. As pautas de reivindicações, tão difusas quanto as lideranças da categoria, eram de cunho econômico e financeiro, aí incluída a tão desejada previsibilidade do resultado dos feitos profissionais.
A contundência e eficácia do movimento recebeu o apoio incondicional da maioria da população, eis, que, até que enfim, uma categoria havia conseguido emparedar políticos e administradores, sem bandeiras sindicais ou partidárias. Em delírio, a população creditou, aos grevistas, objetivos e inspirações que jamais corresponderam aos objetivos iniciais do movimento.
Descrentes da representação política formal, indignados com os absurdos casos de corrupção e desmandos, diariamente noticiados, os brasileiros conferiram, aos caminhoneiros, a missão de purificar todos os insalubres recônditos da nação. Manifestações de apoio surgiram, aos milhares, e até a entonação, emocionada, do hino nacional, completaram a paisagem, de redenção nacional.
Engrandecidos, os caminhoneiros passaram a agir como autênticos deuses, mandatários ditadores de uma republiquinha qualquer. O direito de ir e vir, com cargas, passou a ser beneplácito, conferido por tribunais de exceção, montados rodovias afora.
O país parou, criadores não tiveram o direito de alimentar animais e aves, e horticultores jogaram ao lixo produções impedidas de transitar. Indústrias paralisaram atividades, e mercadorias faltaram, enquanto hospitais adiaram cirurgias e atendimentos.
Todos perdemos. Direitos, ao mais comezinhos, foram desrespeitados.
O aparato repressivo do Estado foi elevado a negociador paciente, por vezes omisso, em nome de negociações que ignoraram os cidadãos vitimados. Vivemos, ainda, a ditadura dos caminhoneiros.
Leis e respeitos, constitucionais e civilizados, acabaram impunemente descumpridas, pelos aclamados salvadores da pátria. O acatamento, pelos governantes, da maioria das reivindicações, não impediu o prosseguimento dos abusos e transgressões, agora apimentadas pelos estímulos à derrubada dos governos, com apelos e aplausos à intervenção militar.
Petroleiros, oportunistas e tendenciosos, ameaçam paralisações, piorando a situação e expectativas de normalização da vida nacional.
‘ O povo, sofrido e desnorteado, aplaude, inebriado pela doentia sensação de que tempos felizes se aproximam. Trata-se de flagrante transtorno coletivo.
Está, a maioria, à espera do Messias, ainda que ditador e desrespeitoso.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.