Pedro Israel Novaes de Almeida – COPA DA SACANAGEM
Povos e governos dificilmente convivem em harmonia, quando tentam dialogar a respeito de economia e política.
A cordialidade surge, quase sempre, quando de competições esportivas, de todas as modalidades. O espírito esportivo consegue o milagre da solidariedade.
Nas Copas, o pretexto esportivo permite o conhecimento global das peculiaridades do país anfitrião, com ganhos milionários nas áreas do turismo e comércio. Obras de infraestrutura, visando a competição, são idealizadas para figurar no dia a dia da população, após o certame.
Tais obras acabam utilizadas como unidades escolares, hospitais, centros esportivos e culturais, além de ganhos na mobilidade. É grande o ingresso de recursos externos, nos campeonatos.
As copas popularizam o futebol, e embaixadinhas são ensaiadas, até em países sem qualquer tradição no esporte. As copas abrem o país à visitação de outros povos, razão de serem pouco ou nada realizadas, em regiões marcadas por governos totalitários, que isolam e martirizam seus nacionais.
As copas consagram atletas de excepcional desempenho, que competem demonstrando um misto de esporte e arte, dificilmente imitáveis. O ponto comum à maioria dos consagrados é a origem humilde, enunciando a excepcionalidade dos desempenhos, capaz de romper históricas e quase fatalistas condições de pobreza.
Os certames demonstram o grau de civilidade dos países, no preparo do campeonato, pelo anfitrião, e comportamento dos visitantes. Mais uma vez, figuramos nas últimas colocações, como pouco civilizados.
No Brasil, a maioria dos torcedores encara a Copa como algo a ser vencido, bem mais que disputado. A mídia, sequiosa por recursos de patrocínio, tenta colocar em disputa a honra nacional, não simples e naturais disputas.
O brasileiro médio pouco admite a ideia de que o esporte foi importado, e outros povos também sabem praticá-lo. Diz o dito popular que, em matéria de samba, futebol e sacanagem, seremos sempre campeões.
Alguns, os mal humorados de sempre, blasfemam contra o fato de serem, nossos consagrados, milionários. Outros fazem estatísticas segregacionistas, apontando o desigual número de negros, albinos, indígenas, gays e ativistas sociais dentre os atletas.
Nosso maior vexame, como sempre, reside na roubalheira que marcou as obras de infraestrutura, grande parte ainda não concluídas. Passada a Copa, muitas obras ostentam a inoperância, verdadeiros elefantes brancos, sem qualquer utilidade.
A cada Copa em outro país, aumenta nossa vergonha, pelo exemplo que não demos, quando anfitriões. Somos, desde 1.500, uma republiqueta comandada por um grupinho de espertalhões, especializado em conseguir aplausos e votos, a cada quatro anos.
O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.
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É fundador e um dos editores do Jornal Cultural ROL e do Internet Jornal. Foi presidente do IHGGI – Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga por três anos. fundou o MIS – Museu da Imagem e do Som de Itapetininga, do qual é seu secretário até hoje, do INICS – Instituto Nossa Itapetininga Cidade Sustentável e do Instituto Julio Prestes. Atualmente é conselheiro da AIL – Academia Itapetiningana de Letras.