“Não somos uma folha em branco, quando nascemos, é bem verdade! Influências, ambientes e convivências nos invadem o tempo todo.”
Em meu trabalho cotidiano na Educação Básica, não raro, num contato direto com crianças na escola, duas situações me chamaram a atenção:
- a primeira, quando a turma do ensino fundamental me disse que, se um livro falasse, ele seria esfaqueado, jogado e queimado;
- a segunda, quando o menino, de quase 5 anos, me chamou para dizer que a coleguinha disse-lhe que eu era feio.
Inicialmente, alguém pode retrucar:
– Não se preocupe com isso, é só uma criança!
– É, pode ser, mas eu também tenho sentimentos.
– Você não pode se ofender com um julgamento infantil.
– Por que não?
– Porque é só uma criança inocente. Nem sabe, ao certo, o que está dizendo.
Então, vamos tratar do assunto começando, exatamente, pela inocência.
Não somos uma folha em branco, quando nascemos, é bem verdade! Influências, ambientes e convivências nos invadem o tempo todo. Disto, já podemos concluir: faz todo sentido que os julgamentos que fazemos, mesmo em tenra idade, sejam muito mais o reflexo do que trazemos dos ambientes e das convivências do que aqueles que criamos enquanto crescemos em tamanho e em idade. Se ainda sequer tivemos tempo para construir critérios é sensato que façamos cópia do que vemos, ouvimos e sentimos a partir das pessoas que nos ensinam, muito mais do que apegar-nos à autonomia numa criação própria do que decidimos e escolhemos.
Se tal conclusão faz sentido, devo refletir: ao que essa criança está sendo exposta? Que critérios e padrões fazem parte de sua vida enquanto criam, para ela, razões que a convencem enquanto diz de alguém: feio, bonito, gordo, magro ou ainda, gosto de você ou, eu o odeio?
Pode-se falar de precipitação, mas vejo, nessa manifestação infantil, uma porta aberta para preconceitos, socialmente, disseminados. É algo que espalha-se pela vida enquanto se cresce. Alastra-se como “pólvora” acesa. Por quê?
Ora, a criança que copia seus adultos imediatos e sente-se segura para dizer de seus sentimentos, tem todas as condições para ampliá-los: sentimentos e julgamentos. Então, é preciso atentar-se para a educação recebida pela criança em duas situações distintas e complementares: uma é a família e a outra, a escola. O que é que se vive lá e o que se ensina aqui? Como se convive lá e como se convive aqui?
Mas, se apesar de tudo o que aqui disse, ainda me questionarem de que exagero em relação à criança tão pequena que a mim atribuiu o julgamento de “feio”, respondo:
– Não só a palavra, mas a reação de seu corpo se encolhendo e de seu rosto se contorcendo, numa expressão de repulsa e asco. Aquele que a ela assim se mostrava não merecia NADA mais!
É ou não é preocupante?
Quanto à primeira situação, creio que as reações apresentadas por crianças, um pouco maiores – 7 e 8 anos de idade -, revela sem esconderijos, que estão expostas à violência dos meios de comunicação e das convivências imediatas.
E mais, a cópia de comportamentos agressivos e violentos ali se materializava em sentimentos acompanhados de sorrisos. Uma espécie de satisfação por impor dor e sofrimento. Longe de ser uma brincadeira, era uma promessa, caso se encontrassem com algum livro numa biblioteca e ele, de repente, começasse a falar.
Trata-se, enfim, da expressão máxima da intolerância frente à diferença.
Se há algo que me assusta ou me é desconhecido, devo eliminar. Para tanto, uso de instrumentos para dor, tortura e morte. Não importa-me as consequências, o que quero é me livrar daquilo e eliminá-lo, extirpá-lo.
– Nossa, que análise mais triste e desesperançosa?
– Se a análise o é, a situação analisada é desesperadora, aterradora e catastrófica!
Ao que essas crianças são expostas?
Eis os conteúdos levados para a CONVIVÊNCIA.
ÉLCIO MÁRIO PINTO – elcioescritor@gmail.com
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Natural de Sorocaba (SP), é escritor, poeta, revisor de livros e Editor-Chefe do Jornal Cultural ROL. Acadêmico Benemérito e Efetivo da FEBACLA; membro fundador da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA e do Núcleo Artístico e Literário de Luanda – Angola e membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB. Autor de 8 livros. Jurado de concursos literários. Recebeu, dentre várias honrarias: pelo Supremo Consistório Internacional dos Embaixadores da Paz, o título Embaixador da Paz e Medalha Guardião da Paz e da Justiça; pela Augustíssima e Soberana Casa Real e Imperial dos Godos de Oriente o título de Conde; pela Soberana Ordem da Coroa de Gotland, o título de Cavaleiro Comendador; pela Real Ordem dos Cavaleiros Sarmathianos, o título de Benfeitor das Ciências, Letras e Artes; pela FEBACLA: Medalha Notório Saber Cultural, Comenda Láurea Acadêmica Qualidade de Ouro, Comenda Ativista da Cultura Nacional; Comenda Baluarte da Literatura Nacional e Chanceler da Cultura Nacional; pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos os títulos de Doutor Honoris Causa em Literatura, Ciências Sociais e Comunicação Social. Prêmio Cidadão de Ouro 2024