Marcelo Augusto Paiva Pereira – MODERNISMO X PÓS-MODERNISMO
No âmbito profissional e acadêmico da arquitetura e urbanismo existem posições divergentes sobre a corrente arquitetônica em voga. Muitos entendem pela corrente do pós-modernismo, enquanto outros defendem a predominância do modernismo. O presente texto abordará essa dicotomia, ainda que lacônica e superficialmente, como abaixo segue.
Do surgimento do modernismo
A palavra “modernismo” surgiu em meados do século XIX para representar o conjunto de ideias, corrente ou movimento literário, artístico e tecnológico que aflorava na Europa (o uso do aço na construção civil, por exemplo). Tinha o escopo de se opor a tudo o quanto fosse antigo ou obsoleto.
Foi dentro desse contexto que surgiu a arquitetura moderna, definida como obra primaz atual, contemporânea e provida de princípios autônomos, eliminou as proporções matemáticas, os eixos de referência, a hierarquia dos ambientes, a estética acadêmica e o historicismo.
O período de hegemonia da arquitetura moderna foi do final do século XIX até a década de 70 do século XX, quando foi posta em discussão por Charles Jenks, historiador e crítico da arquitetura, em razão da falência do conjunto habitacional de Pruitt-Igoe (1952-1972), projetado pelo arquiteto Minoru Yamasaki e construído na cidade de Saint Louis, nos Estados Unidos da América. Para Charles Jenks, a falência de Pruitt-Igoe teve causa no projeto, fundado no modernismo.
Do surgimento do pós-modernismo
Da falência do conjunto habitacional de Pruitt-Igoe (1952-1972) em diante surgiram as teorias de uma nova corrente artística e arquitetônica, definida como pós-modernismo, em oposição ao modernismo e ao fracasso do mencionado conjunto habitacional estadunidense. O pós-modernismo teria dado causa à ruptura da linha de desenvolvimento do modernismo e criado princípios próprios, sem vínculos com o movimento arquitetônico anterior.
O pós-modernismo não foi acolhido por todos e há, ainda hoje, defensores do modernismo (e da arquitetura moderna) em razão do não acolhimento da posição crítica de Charles Jenks, no que se refere à imputação de responsabilidade ao projeto e ao modernismo como causas da falência do conjunto habitacional de Pruitt-Igoe.
Das características do modernismo e do pós-modernismo
São características do modernismo:
- Constrói para o homem (sociedade);
- É abstrato, genérico e deduzido;
- É paradigmático;
- Prestigia o conteúdo;
- Tem composição (ordenação, coerência, harmonia);
- É coeso (unido, corporificado);
- É estável;
- Almeja o futuro;
- Vanguardista;
- A produção em massa visa satisfazer o homem e não o mercado;
- Produz arquitetura e arte;
- Cultura como conhecimento;
- Produz arquitetura coesa, cujo partido é duradouro;
- A padronização (homogeneidade) é seu objeto;
- A industrialização massiva é sua finalidade;
- Simbolismo insinuado;
- Ornamento integrado;
- Arquitetura pura;
- Arquitetura revolucionária;
- Singular, arrojada;
- Tratamento uniforme às fachadas (elevações);
- Tecnologia progressiva;
- Ideal do arquiteto.
São características do pós-modernismo:
- Constrói para as pessoas (os indivíduos);
- É concreto, específico, induzido;
- Não é paradigmático;
- Prestigia a aparência;
- Não tem composição (tem superposição, justaposição e intersecção livre);
- É fragmentado;
- É instável;
- Almeja o dia-a-dia;
- Antivanguardista;
- A produção visa satisfazer o mercado e em seguida o indivíduo;
- Reproduz arquitetura e arte;
- Cultura como mercadoria;
- Reproduz arquitetura fragmentada, cujo partido é perene;
- A diversidade (heterogeneidade) é seu objeto;
- A industrialização personalizada é sua finalidade;
- Simbolismo figurativo;
- Ornamento aplicado;
- Arquitetura heterogênea;
- Evolutiva;
- Convencional;
- Fachadas belas e luxuosas;
- Construção convencional;
- Acolhe ideais do cliente.
Da conclusão
O modernismo surgiu como proposta de melhoria na qualidade de vida da sociedade, para que todos pudessem se beneficiar dos avanços da tecnologia de cada época. Por essa razão o modernismo tem, entre tantas características, as de ser genérico, paradigmático (modelo de referência), estável, vanguardista, arquitetura coesa, partido duradouro, padronizado e atinge a produção industrial massiva.
O modernismo é a arquitetura para todos, porque todos devem se beneficiar do progresso tecnológico e cultural da sociedade ao tempo em que cada proposta arquitetônica se apresenta para melhorar a qualidade de vida, almejada por todos.
O pós-modernismo surgiu como reação ao suposto e questionável fracasso do modernismo quando da falência do conjunto habitacional popular de Pruitt-Igoe (1952-1972). O pós-modernismo é arquitetura personalizada, desenhada em favor dos interesses do dono da obra (ainda que não seja ele quem nela irá morar). Por essa razão o pós-modernismo tem, entre tantas características, as de ser individualista (constrói para as pessoas), específico, não é paradigmático, instável, antivanguardista, arquitetura fragmentada, partido perene, heterogêneo (sem padronização) e de produção industrial personalizada.
O pós-modernismo é arquitetura personalizada, desenhada em favor de interesses próprios, com tênues vínculos aos princípios norteadores das artes e técnicas de construção em massa.
Em suma, o modernismo é arquitetura para todos, enquanto o pós-modernismo é arquitetura para cada indivíduo. O primeiro é objetivo, enquanto o segundo é subjetivo. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira
(o autor é arquiteto e urbanista)
Fontes de Pesquisa
Obras
HARVEY, David. Pós-Modernismo, in A Condição Pós-Moderna. São Paulo, Diffel, 1992, págs. 45 a 67;
“Sites”
JORNALROL.COM.BR. Disponível em: www.jornalrol.com.br. <Arquitetura Moderna: a modernidade do tempo>. Acessado em 01.10.2018;
JORNALROL.COM.BR. Disponível em: www.jornalrol.com.br. <Pruitt-Igoe: o mito da realidade>. Acessado em 01.10.2018;
ARQUITETURADOBRASIL.WORDPRESS.COM. Disponível em: <httos://arguiteturadobrasil.wordpress.com/8-a-pos-modernidade>. Acessado em 22.01.2016.
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Natural de São Paulo (SP), Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista