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Carlos Carvalho Cavalheiro: 'Jair… quem é Jair?' Parte 2*

“Jair Messias Bolsonaro aparece como um dos militares envolvidos no atentado, tendo dado uma entrevista sigilosa à revista Veja.”

Em 26 de outubro de 1987 o mesmo Jornal do Brasil anuncia em primeira página outro episódio envolvendo o capitão Bolsonaro: “Exército investiga terrorismo na Esao”. Trata-se da afamada “Operação Beco sem saída”, na qual oficiais da Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais pretendiam explodir bombas no local com o objetivo de assustar o Ministro do Exército, General Leônidas Pires Gonçalves, e mostrar ao presidente José Sarney que “Leônidas não exerce nenhum controle sobre a tropa”.

Jair Messias Bolsonaro aparece como um dos militares envolvidos no atentado, tendo dado uma entrevista sigilosa à revista Veja. Porém, o periódico não cumpriu o acordo de sigilo, por entender ser grave a informação, e o oficial foi apontado como um dos participantes da Operação. Em depoimento, Bolsonaro e o capitão Fábio (conhecido como Xerife), outro suposto envolvido na trama, negaram veementemente a participação no evento, bem como também a entrevista para a reportagem da revista Veja. O Ministro Leônidas Gonçalves endossou os desmentidos de Fábio e de Bolsonaro, dizendo: “Conheço a minha gente” (JORNAL DO BRASIL, 28 out 1987, p. 1).

            Na mesma época, o Coronel da reserva Geraldo Lesbat Cavagnari apontou que em seu juízo, a manobra da explosão das bombas na Esao estava ligada a “um movimento mais amplo, com ramificações, articulado com a extrema direita civil e militar, com o objetivo real de desestabilizar o processo de transição democrática” (JORNAL DO BRASIL, 27 out 1987, p. 5). Por suas declarações, Cavagnari chegou a ser preso no dia 27.

            A Revista Veja confirmou que tanto Fábio quanto Bolsonaro mentiram em seus depoimentos e que, de fato, foram sim ouvidos pela reportagem e que apresentaram o plano de explodir bombas na Esao. O assunto se estendeu por outras tantas edições do jornal e foram instalados dois conselhos de Justificação para apurar o envolvimento dos capitães Jair Messias Bolsonaro e Fábio Passos da Silva. O Exército resolveu processar os dois capitães, apontando o Superior Tribunal Militar para julgar o caso (JORNAL DO BRASIL, 21 fev 1988, p. 6).

            O Ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves afastou os dois capitães, atendendo a sugestão do Conselho de Justificação, por faltarem com a honra e com a verdade ao negarem que tivessem fornecido informações sobre a Operação Beco sem Saída para a Revista Veja (JORNAL DO BRASIL, 27 fev 1988, p. 1).

            Parecia que o mundo ruíra para os capitães e a imprensa começou a detalhar sobre a vida e a personalidade desses militares até então pouco conhecidos. De Bolsonaro o jornal assim se pronunciou: “Um líder que não sabe exercer sua liderança. Assim pode ser definido, a grosso modo, o capitão Jair Bolsonaro. De direita, seguidor do general Newton Cruz, o capitão costumava carregar um revolver calibre 32 escondido na botina, do qual não se separava. Dos livros, queria distância. Amante de motocicletas, o capitão Bolsonaro levava uma vida quase comum. Bebia socialmente e não dispensava um bom churrasco. Aos 33 anos, faz da mulher Rogéria a sua principal confidente, com a qual costuma dividir também os problemas da turma de artilharia da Esao (Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais). Ambicioso, sonhava em ser herói nacional ou deputado nas próximas eleições (JORNAL DO BRASIL, 27 fev 1988, p. 5).

            Em 16 de junho de 1988 o Superior Tribunal Militar absolveu os dois capitães, reformando a sentença do Conselho de Justificação que os condenou em primeira instância (JORNAL DO BRASIL, 17 jun 1988, p. 2). Em julho daquele ano, Jair Bolsonaro anuncia que irá concorrer às eleições. Naquela época o seu slogan era “Salvem o Rio”, acompanhado de outro, que ganhou fama nestas últimas eleições: “Brasil acima de tudo”. Ao se filiar ao Partido Democrata Cristão, PDC, Jorge Coelho de Sá, presidente regional do partido, teria dito: “Quem é Jair Bolsonaro?”.

            Nos meios políticos, o capitão ainda não era conhecido. Mas suas ideias já se faziam presentes e não modificaram. Diz a reportagem do Jornal do Brasil que Bolsonaro dispensou o convite de quatro outros partidos, incluindo o PFL (atual DEM), por se alinhar à ideologia de centro-direita do PDC. Bolsonaro argumentava que queria ser político para servir ao Brasil, combater a corrupção e pregar a moralidade pública (JORNAL DO BRASIL, 30 jul 1988, p. 3).

            Porém, uma fala de Bolsonaro naqueles idos deixa claro um projeto de longo prazo: trazer de volta ao cenário político a presença dos militares. Não necessariamente uma ditadura militar, embora nunca tenha escondido o seu saudosismo pelo que ele chama de “regime militar” (não o reconhece como uma ditadura). Bolsonaro, licenciado à época para concorrer ao cargo de vereador no Rio de Janeiro, refletiu sobre a participação dos militares na política nacional: “A classe militar foi a última a acordar. Você vê os metalúrgicos fazendo greve? Eles estão fazendo política” (JORNAL DO BRASIL, 19 set 1988, p. 2).

            O mesmo projeto de alcançar o poder político foi sendo articulado também entre os setores cristãos conhecidos genericamente como “evangélicos”, sobretudo a partir do final da década de 1990, quando estavam alcançando a cifra de 30% da população. Não é sem sentido, portanto, que nesta última eleição o número de militares que concorreram (e ganharam) fosse muito maior do que em anos anteriores. A participação de militares e evangélicos na política do Brasil vem sendo planejado há décadas e culminou nessa visibilidade extraordinária das últimas eleições.

            Bolsonaro foi eleito vereador em 1988, e, conforme a legislação, foi reformado (aposentado) aos 33 anos de idade com remuneração condizente à sua patente militar. Nunca escondeu sua tendência para o autoritarismo e o uso da força e da truculência (chegou a afirmar que era a favor de tortura). Porém, dentro do jogo da democracia, essas regras não servem. Jair Bolsonaro terá, então, que aprender a lidar com essa nova situação. Oxalá aprenda depressa a dialogar com os diversos setores da sociedade, respeitando as instituições e regras da democracia, inibindo a tendência ao autoritarismo. Somente assim podemos acreditar na possibilidade – ainda que aparentemente remota – da necessária pacificação e reunificação do Brasil. Até agora, só estivemos divididos e afastados, uns dos outros.

Carlos Carvalho Cavalheiro – carlosccavalheiro@gmail.com

*  A primeira parte pode ser acessada por este link: http://www.jornalrol.com.br/carlos-carvalho-cavalheiro-jair-quem-e-jair-parte-1/

 

Carlos Carvalho Cavalheiro
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